Com rituais, Ordem DeMolay agrega jovens há quatro décadas

Instituição paramaçônica voltada para homens de 12 a 21 anos, foi fundada em 1985 e completa 40 anos nesta segunda


Por Sandra Zanella

28/09/2025 às 07h00

Ordem DeMolay
Amor filial, reverência pelas coisas sagradas, cortesia, companheirismo, fidelidade, pureza e patriotismo são as sete velas da Ordem DeMolay (Foto: Leonardo Costa)

Cerca de 30 jovens, com idades entre 12 e 21 anos, têm uma rotina diferente da maioria dos juiz-foranos. A cada 15 dias, eles participam dos rituais da Ordem DeMolay, instituição paramaçônica e sem fins lucrativos que completa 40 anos em Juiz de Fora nesta segunda-feira (29). Criada pela Maçonaria nos Estados Unidos, em 1919, para acolher os filhos daqueles que iam para a guerra, a Ordem DeMolay é voltada para homens. “É mais um apoio, além da escola e da religião, com ensinamentos, em cima de uma ritualística”, explica Wagner Laroca Frias, um dos fundadores da organização na cidade e membro do Conselho Consultivo do Capítulo 33, uma das duas “células” existentes no município. Segundo ele, durante os encontros são realizadas leituras, apresentações de trabalhos e cantos, como do Hino Nacional, entre outras atividades. Nesse contexto, temas históricos e contemporâneos são debatidos, inclusive com convidados. “É uma escola para formar líderes”, aponta, destacando que não há vinculação política.

Wagner tinha apenas 14 anos em 1985. “Fui convidado por um vizinho”, relembra, explicando que ainda hoje é necessário convite para participar. “Fomos o primeiro Capítulo do mundo a homenagear a independência de um país, com desfile no 7 de setembro”, conta, orgulhoso, sobre a passagem do grupo pela Avenida Getúlio Vargas. Ao olhar para trás, ele acredita que a DeMolay foi fundamental para sua formação. “A juventude é uma época de muita turbulência, e a Ordem nos passa muitos ensinamentos através da sua ritualística.” O aprendizado também é fruto das ações e campanhas filantrópicas realizadas junto a instituições da cidade, como doação de sangue e de materiais arrecadados para lares de idosos e de crianças.

Com apenas 16 anos, Guilherme Baptista já é mestre conselheiro do Capítulo 33 e repassa aos mais novos o que aprendeu desde quando entrou na Ordem, aos 15, como focar nos estudos, na família e na ajuda ao próximo. “Meu pai é amigo do Laroca e me incentivou bastante.” Ele detalha que os rituais são baseados nas sete velas: amor filial, reverência pelas coisas sagradas, cortesia, companheirismo, fidelidade, pureza e patriotismo. “O amor filial e o companheirismo são as principais. A primeira, representa o amor aos nossos pais e o amor às nossas mães, que estão sempre à frente de tudo em nossa vida. A quarta vela significa que nenhum irmão é falso com o outro. Sempre permanecemos unidos. A partir do momento em que entende os princípios da Ordem e o estilo de vida de um DeMolay, compreende que aquilo vai só trazer coisas boas. Se seguir o ângulo reto da vida, vai ser muito mais feliz, vai ter amigos para o resto da vida, tios que você pode contar, além das primas das Filhas de Jó (instituição paramaçônica para moças).” Ele destaca, ainda, a formação de liderança. “Com esses esforços, conseguimos buscar cada vez mais o apreço da sociedade. O aprendizado leva a gente longe na vida.”

Matheus Pereira, 14, faz parte do Capítulo 1.038 há um ano e atua nessa segunda “célula” do município como conselheiro. “A minha vida antes de participar da Ordem era mais sem graça.” A virada aconteceu em um momento de tristeza, durante o funeral de seu avô, que era maçom. “Meu primo, sênior DeMolay, me convidou. Foi a melhor escolha que eu fiz, porque conheci meus irmãos e aprendi bastante coisa. Agora tento passar aos outros o que aprendi. Cada ritual é muito bonito.”

Mesmos propósitos, caminhos distintos

O empresário Daniel Ribas, 47, foi convidado por um amigo e participou da cerimônia de 10 anos da Ordem DeMolay, em 1995. “Continuo ajudando, apoiando os meninos nas atividades. Várias gerações já passaram por aqui, inclusive meus filhos.” Para ele, permanecer significa preservar a história. “Com o tempo, algumas coisas vão se perdendo.” Ele observa que essas quatro décadas foram marcadas por “altos e baixos”. “Como a sociedade muda, principalmente para a juventude, vamos nos adaptando.” Para ele, a Ordem é uma oportunidade de aprendizado. “Falar em público, lidar com finanças pela primeira vez, escrever uma ata, coordenar outros meninos. Essa necessidade de se organizarem para cumprir atividades acaba engrandecendo.”

O representante comercial Daniel Cedrola, 41, é oficial executivo da Ordem DeMolay e atua como liderança adulta na região da Zona da Mata. “É uma ordem iniciática patrocinada pela maçonaria, que acolhe os jovens”, descreve. Apesar da relação, ele pondera que não se trata exatamente de uma preparação para se tornar maçom. “Não necessariamente o jovem vai ser convidado para a maçonaria, mas claro que ele já está no ambiente e vai estar mais preparado para receber esse convite.” Ele cita a importância da Ordem para a formação e educação de jovens. “É uma escola de líderes. Milhares já passaram pelos Capítulos e, hoje, exercem várias profissões. Trabalhando as sete virtudes, você vai se tornar um adulto e cidadão melhor, mais responsável”, acredita. Ele afirma que há representantes de todas as classes sociais. “Estamos com um projeto para alunos de escola pública, que não vão precisar pagar a mensalidade cobrada para manutenção.”

Cedrola destaca, ainda, que um dos pilares da instituição é a filantropia. Como exemplo, ele cita o trabalho junto ao Abrigo Santa Helena. “Mostramos aos jovens a importância de tratar bem os idosos, de não abandoná-los.” Crianças, como as atendidas pelo Instituto Jesus, também recebem apoio. “A Maçonaria foi baseada na Revolução Francesa: igualdade, liberdade e fraternidade. Mostramos aos meninos que todos nós somos iguais, com direitos e deveres, sempre tentando ajudar o próximo, para que todos tenham as mesmas coisas.”

O militar do Exército, Rogers Ferreira Pereira, 51, se recorda com carinho do tempo na Ordem DeMolay, iniciado em 1987. “Um dos marcos mais significativos da minha jornada foi a fundação do Castelo Juiz de Fora – o primeiro da Ordem dos Escudeiros do Brasil, instituição voltada para crianças entre 7 e 11 anos.” Em 2011, ele foi eleito grande mestre estadual, fundando, coordenando e apoiando capítulos em todo o estado. Também foi reconhecido como legionário de honra ativa, título concedido àqueles que se destacam pelo comprometimento e liderança contínua à Ordem DeMolay e aos seus ideais. “Mais tarde, tive a honra de servir como grande secretário do Supremo Conselho da Ordem DeMolay para o Brasil, contribuindo diretamente para a administração e fortalecimento da instituição em nível nacional.” As lições, ele carrega até hoje: liderança com humildade, fidelidade aos princípios, compromisso com a construção de um mundo melhor. “Esses valores nortearam minha vida pessoal, profissional e fraternal e continuam guiando minhas ações.”

O administrador Victor Pessamiglio, 33, exerceu a liderança juvenil como mestre conselheiro municipal, regional e estadual. Ele atesta que essas experiências reforçaram a responsabilidade, fraternidade e compromisso com o próximo. “Entrei na Ordem DeMolay ainda na adolescência e fiquei fascinado com a fraternidade que encontrei e com os princípios que norteiam a Ordem. Desde o início, fui acolhido de forma especial, e isso marcou profundamente a minha formação pessoal.” Ao longo desses 40 anos, ele acredita que o Capítulo Juiz de Fora impactou positivamente a vida de inúmeros jovens e contribuiu de forma significativa para a melhoria da sociedade juiz-forana. “Sinto orgulho por fazer parte dessa história e testemunhar como a Ordem continua transformando vidas e inspirando novas gerações.”

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