‘Mulher palavra’: Laura Conceição lança álbum com 5 faixas em spoken word
Álbum também ganhará versão audiovisual, com as poesias exibidas em vídeos no YouTube

A artista Laura Conceição lança nesta sexta-feira (28) o álbum “Mulher palavra”, disponibilizado nas plataformas de streaming com gratuidade. O mais novo projeto da juiz-forana tem cinco faixas em spoken word – gênero musical em que traz poesias musicadas – e que refletem sobre a posição da mulher na sociedade. Ao transformar o substantivo “palavra” em adjetivo, ela cria um conceito que vive na pele, enquanto mulher que trabalha com a palavra para se expressar, criar e revolucionar. E é justamente nas vivências pessoais que busca, como conta à Tribuna, se conectar a algo mais coletivo, que funcione como uma ponte para as experiências de outras mulheres. O álbum também ganhará versão audiovisual, com as poesias exibidas em vídeos no YouTube.
Esse é o terceiro álbum de Conceição e está sendo lançado após “Tempos efêmeros”, de 2019, e “Espelho”, de 2022. As faixas que selecionou recuperam parte dessa trajetória, como em “Eu não sou um cara”, que o público já conhecia desde 2018, ao mesmo tempo em que trazem os seus trabalhos mais recentes, escritos no último ano. Foi fazendo a curadoria do que já tinha escrito e pensando no que poderia produzir musicalmente que chegou ao conceito. “Todo o meu trabalho artístico, desde 2015 e 2016, é relacionado com o spoken word – seja no rap, recitando poesias em slams ou saraus. Minha ideia de trazer um disco de spoken word é mostrar mais essa possibilidade que a gente tem com a palavra, que é essa que estamos consumindo em streaming. Quis juntar esses textos que falam sobre ser mulher na sociedade, nesse projeto que experimenta a potência da palavra ouvida, junto com a música e o arranjo, para trazer informações e refletir questões sociais”, conta.
Para ela, a palavra tem muitas potências: “Significa ponto de conexão, confluência, pontes entre as pessoas e as situações”. Mas, além de um conceito, pode também se tornar um agente transformador, da sua vida e dos outros. “A palavra está no centro de tudo que fazemos para caminhar por uma sociedade melhor (…) Toda revolução começa com a palavra.” Também por isso quis fazer algo que transitasse entre a música e a poesia, se relacionando com a sua trajetória no rap e no slam. “Acho que tem um pouco da Laura MC, que traz rimas nas batidas, um pouco da Laura escritora e um pouco da Laura poeta”, define.
Repassar a palavra, a partir da oralidade, se tornou uma missão sua, por também perceber a importância que isso tinha não só pra ela. É um reconhecimento que enxerga a poesia sendo feita e podendo ser ouvida. “Esse álbum é de literatura, de palavra falada. Todos os meus álbuns têm poesia, mas este é um espaço em que a palavra está em evidência, e isso seria o ponto principal desse disco, que a gente possa abrir o coração para escutar a palavra que está em cada faixa”, ressalta. A obra contou com o financiamento da Lei de Incentivo à Cultura Paulo Gustavo.

Faixa por faixa
As faixas foram gravadas em Juiz de Fora e São Paulo e tiveram produção musical de Ever Beatz e Álvaro Borges (Cozinhando Sample). Em cada uma, como conta, pôde revelar um ponto de vista sobre ser mulher. Como ela explica, em “Eu não abaixo a cabeça”, faixa que inicia o álbum, tem uma reza que escreveu para si mesma, para olhar para frente com serenidade e firmeza. A mensagem é de ter confiança, mesmo diante de todas as dificuldades que as mulheres enfrentam em sociedade. Já em “Sangria desatada”, trabalha a menstruação e a maneira como as mulheres são cíclicas.
“A noite chama” parte de seu próprio trabalho, que muitas vezes vara noites e depende dessa vida noturna, conflitando solidão com agito. Em “Eu não sou um cara”, faz uma analogia com Cazuza e aborda as vivências como mulher lésbica. Para finalizar o álbum, “Quando o medo gritou meu nome” aborda a necessidade de ter coragem para enfrentar o cotidiano.
Vivências particulares e coletivas
Todo esse trabalho, como ela conta, tem como fio condutor essas suas vivências – em experiências que não são exclusivas. “As histórias partem da minha visão pessoal, porque acredito no lugar de fala, das autonarrativas, e vão em direção a um coletivo, me conecto com outras tantas mulheres que passam pelo que eu passo também”, reflete.
Nos seus quase dez anos de carreira, é também nesse encontro com o outro que ela espera que, depois de idealizar há bastante tempo a obra, consiga fazer com que ela toque outras pessoas. “Torço para que as pessoas tirem um tempo para escutar, se reúnam com os amigos e a família. E que isso traga mais reflexões na sociedade e estimule os jovens a ler mais, a consumir mais poesia e a se expressar mais. Quero que seja uma semente para espalhar a oralidade e a literatura.”