Para além da malandragem, peça ‘Seu Zé’ celebra fé e diversidade em Juiz de Fora

Produção resgata ancestralidade, valoriza a comunidade LGBTQIAPN+ e transforma ritos em arte no palco


Por Mariana Souza*

26/09/2025 às 17h32

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(Foto: Jhully Oliveira)

No seu terceiro ano em cartaz, a peça “Seu Zé” volta ao palco do Teatro Paschoal Carlos Magno neste domingo (28), às 19h. Os ingressos já podem ser adquiridos pelo site Uniticket. A produção é da Axé Deles – Produtora Cultural, de Juiz de Fora, e conta com Gustavo Bacchini (ator, produtor e dramaturgo), Joathan Pires (ator, dramaturgo e produtor) e Gabriel Bittencourt (diretor e autor do espetáculo).

De acordo com a organização, o espetáculo foi idealizado a partir de um pedido da entidade Zé Pelintra das Almas, guia da Cabana Oxóssi das Matas, do zelador Kelvin Dionatan, e tem como objetivo apresentar a malandragem como um estilo de vida, rompendo estigmas e preconceitos que a cercam. “Seu Zé” é definido como um espetáculo que nasce da necessidade de desmistificar a imagem do malandro, historicamente associada à vadiagem.

A fé como guia 

De acordo com a organização, todo o processo de criação do espetáculo foi conduzido pela espiritualidade que orienta o cotidiano da umbanda. Nesse caminho, a arte é apresentada como expressão do poético presente nos ritos, transformando essa força em instrumento de união e potência.

O grupo descreve a peça como uma experiência imersiva, um teatro ritual que convida o público a adentrar o espaço como se fosse um terreiro, em uma vivência de respeito e conexão com o solo sagrado – de pés no chão e espírito aberto.

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(Foto: Jhully Oliveira)

Para a equipe, retratar a malandragem de maneira positiva é essencial para desconstruir a demonização em torno dessa figura. A equipe ressalta que essa presença está enraizada no cotidiano, capaz de fortalecer potências individuais e, ao mesmo tempo, reforçar as responsabilidades assumidas diante da vida.

A construção cênica também se conecta às origens de Seu Zé em Pernambuco, resgatando sua ancestralidade juremeira e reafirmando a importância de valorizar sua história. Essa valorização se estende ao elenco regional, revelando como a entidade é cultuada em Minas e reforçando um dos principais ensinamentos deixados ela: nunca abandonar as raízes.

Arte que valida existências

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(Foto: Jhully Oliveira)

No espetáculo, Seu Zé é retratado como uma figura paterna, que valida a presença de corpos LGBTQIAPN+ em cena e dialoga com situações do cotidiano. Com seu gingado brasileiro, o personagem busca ensinar a importância de manter o compromisso sem perder a leveza.

A peça também valoriza a comunidade LGBTQIAPN+, promovendo acolhimento e transformações em quem assiste, despertando a autoidentificação e fortalecendo convicções pessoais. Para a produção, o trabalho expressa ainda o desejo de serem reconhecidos como artistas mineiros, contemporâneos e LGBTQIAPN+ no cenário cultural.

Segundo a equipe, a experiência proposta convida cada indivíduo a mergulhar em si mesmo e reconhecer um direcionamento para uma versão maior e melhor de si. Nesse processo, a quebra da quarta parede integra o público às entidades representadas no palco, tornando a narrativa ainda mais íntima.

*Estagiária sob supervisão da editora Gracielle Nocelli

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