José Augusto e Fábio Jr. falam sobre a permanência da música romântica
Cantores compartilham projeto em que se apresentam numa mesma noite, dia 1º de setembro, no Terrazzo
Cantores lançados na década de 1970, símbolos dos anos 1980 e resgatados com furor na última década, cantam seus hits em momentos separados e deixam em suspenso se dividirão ou não o palco.
O que leva à perenidade Álvares de Azevedo, também o que faz permanente José Augusto e Fábio Jr. São românticos. Não apenas por exaltarem o amor, mas, sobretudo, por inflarem e inflacionarem o “eu” quase desgastado pelo pensamento cartesiano. “Coração… diz pra mim, por que é que eu fico sempre desse jeito?”, canta José Augusto em uma de suas mais populares composições. “Você sabe como me fazer feliz”, entoa Fábio Jr., no hit “Alma gêmea”. Ligados pela geração que os lançou – a década de 1970 -, pelo momento em que ganharam o cenário nacional – os anos 1980 -, e pelo fôlego novo que suas produções conquistaram nos últimos anos, os cantores e compositores estão fundidos pelo romantismo que atravessou e atravessa o tempo.
“As pessoas gostam de ouvir ‘o amor'”, defende Fábio Jr., aos 64 anos, um ano a menos que o amigo José Augusto, com quem faz show em Juiz de Fora no próximo sábado, 1º de setembro, às 22h, no Terrazzo. Intitulado “Paixão em dose dupla”, o projeto reúne os dois artistas e não prevê o encontro de ambos. Mas segundo José Augusto, pode acontecer. “Depende do nosso estado de espírito”, ri, em entrevista por telefone à Tribuna. “Já fizemos vários shows desses. Algumas vezes aconteceu de um entrar no show do outro e cantar uma música, mas não está previsto, chega na hora, improvisamos e fazemos”, acrescenta.
Ainda que não dividam a cena, José Augusto garante que a relação entre os dois paira no ar. “A sintonia está em quase tudo. Conversamos muito por telefone, porque não conseguimos nos ver com frequencia. O Fábio é uma pessoa que gosta muito do que faz, é um cara muito família, paizão como eu. Por isso nos damos tão bem. O nosso relacionamento dentro e fora do palco é 100%. Nossa equipe se dá muito bem também”, pontua o compositor de “Evidências” (com Paulo Sérgio Valle) e “Sonho por sonho”. Do repertório do amigo, José Augusto diz gostar de “‘Felicidade’, ‘Pai’, que tem a ver com essa questão da família, e muitas outras”.
Contemporâneos e atualizados continuamente por diferentes gerações de amantes, Fábio Jr. e José Augusto dizem encarar com naturalidade a passagem do tempo. E o fazem no alto do palco, protagonistas de um gênero que, mesmo com personagens novos, mantém-se fiel aos veteranos, numa gratidão própria das histórias de amor. Narrativas atemporais e irresistíveis, como escreveu, num já distante século XIX: “Amemos! Quero de amor/ viver no teu coração!/ sofrer e amar essa dor/ que desmaia de paixão!”
ENTREVISTA JOSÉ AUGUSTO CANTOR E COMPOSITOR
‘Sempre houve renovação’
Quando observa sua trajetória, o que lhe vem à cabeça imediatamente?
José Augusto – Vários projetos. Não fico lembrando do passado constantemente, a não ser quando vejo uma biografia. Todo cara que tem uma carreira, cantor ou engenheiro ou médico ou seja o que for, quando chega aos 45 anos de estrada e permanece é sempre um motivo de alegria.
Há uma permanência de suas músicas por várias gerações. A que se deve isso?
Acho que se deve ao repertório, que foi bem escolhido, ao carinho do público e à sorte. Em tudo na vida é preciso ter sorte.
Quando começou, tinha a ideia de que teria essa permanência?
Na minha cabeça o objetivo era apenas gravar o primeiro disco. Depois era fazer shows e músicas. Nunca pensei que fosse chegar em 2018 fazendo shows.
E a música chegou a 2018 com muitas transformações. Como foi viver essas mudanças todas do mercado fonográfico?
No princípio foi difícil, eu estranhava um pouco. E isso começou quando lançaram o CD. O público também estranhava, porque nem todo mundo tinha as facilidades para comprar aparelhos novos. Depois fomos entrando na onda e acompanhando a evolução. Para tudo, é importante acompanhar a evolução para não ficar para trás.
A música romântica também fez uma trajetória nesse período. O que percebe de mudança?
Mudou o vocabulário, e talvez ela seja mais rápida hoje, mas em 1960 também era. A minha relação com a música romântica deu nome ao meu show individual hoje que se chama “Ainda mais romântico”. Falo sobre isso no show e como embarquei na música romântica, que tem a ver com a minha mãe, que tocava piano. Ela vai permanecer por muito tempo, por mais que mude o público, e por mais que a linguagem seja diferente.
“Aguenta coração” é um grande hit. Como é cantá-la ao longo desses anos? Muda a interpretação, o sentimento?
O sentimento não muda, a interpretação, sim. Quanto mais canto, mais vou aprendendo a colocar a minha voz. Já fiz “Aguenta coração” com violão, com piano, por brincadeira, a cappella. Vamos mudando o arranjo sem perder a essência, o contexto inicial. É sempre muito prazeroso ver uma música como essa sendo cantada por todo mundo, assim como “Sábado”, que não pode faltar no show. É legal receber as pessoas no camarim e ouvi-las falando sobre a música.
Tendo tantas músicas em trilhas de novela, acredita que alguma nova plataforma conseguiu superar a visibilidade que ter uma música em uma novela das 21h pode dar?
Na minha opinião, por mais plataformas que existam, não conseguimos superar a força do rádio e da televisão para a música. Podem dizer que uma música é bastante conhecida porque foi postada em redes sociais e está em plataformas por streaming, mas isso não chega mais rápido que um trecho de uma música cantada numa novela das 21h. Aliado a isso, o rádio ainda é o maior veículo de divulgação das músicas.
No seu repertório, tem preferências? O gosto do público coincide com o seu?
Não posso deixar de tocar “Sonho por sonho”, “Faz de conta”, além das que foram gravadas por outros, como “Evidências”, “Separação”, “Indiferença”. Sempre gravei o que gosto. Nunca gravei para agradar ninguém, e nunca tive imposição de ninguém para escolher repertório. O público gosta das mesmas músicas que eu.
ENTREVISTA FÁBIO JR. ATOR E CANTOR
‘Precisamos modernizar e acompanhar o ritmo’
Quando observa sua trajetória, o que lhe vem à cabeça? Do que mais se orgulha?
Fábio Jr. – Ah caramba! Tenho orgulho de tudo, a primeira coisa que me vem a cabeça é realização. Eu sempre sonhei em ter a carreira de cantor, então, quando olho para trás, vejo que conquistei muitas coisas.
Há uma permanência de suas músicas que enfrentou gerações. A que credita isso?
Eu acredito que o romantismo, ao contrário do que muitos dizem, não saiu de moda. As pessoas gostam de ouvir “o amor”. Essas canções fazem parte da vida das pessoas.
Desde muito pequeno você transita com desembaraço entre cantar e atuar. Como esses dois exercícios atuam em você?
Eu comecei minha carreira cantando, a atuação veio depois, espontaneamente. Eu gosto muito de estar no palco, gosto de fazer shows. Por isso ate deixei a carreira de ator um pouco de lado, é difícil conciliar as duas agendas.
O que te chama atenção na música dessa nova geração do país?
Tem muita gente boa dessa nova geração fazendo música com muita qualidade. Eu curto o trabalho de muita gente que está por aí.
Quais as principais mudanças que sentiu na música romântica dos anos 1980 aos dias de hoje?
Acho que a principal mudança é na sonoridade. A batida da música não é mais a mesma. Ainda bem, né?! Precisamos modernizar e acompanhar esse ritmo.
Tanto o Fiuk quanto a Cleo são frequentemente comparados a você. O que vê do seu trabalho no que eles fazem?
Sabe que tanto o Filipe (Fiuk) quanto a Cleo decidiram seguir esse caminho por eles mesmos?! Quando o Filipe foi aprovado para “Malhação”, eu nem sabia que ele estava fazendo testes. Eles são bons no que fazem, fazem com coração, e é assim que conseguimos passar a emoção necessária.
Como é dividir um projeto com o José Augusto?
O Zé é um amigo de longa data, apesar de não nos encontrarmos muito, tenho respeito e admiração pelo trabalho dele.
PAIXÃO EM DOSE DUPLA
Shows de José Augusto e Fábio Jr. neste sábado, 1º, às 22h, no Terrazzo (Avenida Deusdedit Salgado 5.050 – Salvaterra)