Setentão em plena forma


Por Tribuna

25/12/2014 às 07h00- Atualizada 30/12/2014 às 14h52

549ab4216d1cd

Quando alguém está passando por um momento muito difícil da sua vida, mas se enche de esperança e lança mão da frase “Amanhã será outro dia”, talvez não se lembre que a afirmação faz parte de um clássico do cinema mundial, o filme “…E o vento levou”. Com 75 anos completados este mês, o longa-metragem não se cansa de encantar sua plateia e mantém sua força. Na obra, dirigida por Victor Fleming, a personagem dúbia, mas nem por isso menos cativante, Scarlett O’Hara, dispara a frase acima, quando descobre que seu amor foi embora, sumindo no meio de uma intensa névoa. A sequência está no final, no momento em que a heroína declara sua paixão ao personagem Rhett, e ele, como uma pedra de gelo, responde “Francamente, querida, eu não dou a mínima” e desaparece. Como uma gata arisca, Scarlett vislumbra a manhã do dia seguinte como o início da luta pelo seu amor perdido.

A personagem em questão foi interpretada pela atriz Vivien Leigh, uma lady inglesa nascida na Índia, na época em que o país fazia parte do império britânico. Conhecida pela beleza e também pelo gênio difícil, ela ganhou o papel depois de disputá-lo com grandes atrizes daquele momento, como Katherine Hepburn, Paulette Goddard e até Bette Davis. Leigh morreu na década de 1960 acometida por uma tuberculose, mas figura entre as lendas da sétima arte por ter dado vida à heroína do filme mais rentável do cinema. Desde seu lançamento, em 1939, a história, muitas vezes criticada por glorificar a escravidão, já arrebatou R$ 4,3 bilhões (reajustados de acordo com a inflação). O filme também deu a Vivien Leigh um Oscar de melhor atriz.

Impossível lembrar de “…E o vento levou” sem falar do incorrigível Rhett Buttler, um cavalheiro de má reputação, interpretado por Clark Gable. O ator era cogitado para o papel não apenas pela opinião pública, que o escolhera por votação em um concurso de revista, mas também pelo produtor do filme, que enxergava seu carisma para encarnar nas telas um conquistador barato. Na verdade, Gable não tinha pretensões de pegar o papel e levou muito tempo para ler “Gone with the wind”(título original da obra). Acabou lendo por insistência de amigos, mas o longa foi o responsável por eternizar o ator no imaginário popular, principalmente feminino.

Na biografia de Gable, há uma curiosidade: descendente de alemão, Clark tinha Goebel como sobrenome, que foi modificado nos Estados Unidos para Gable. O departamento de publicidade da MGM criou a ideia de que Gable era descendente de holandeses e irlandeses, e não de alemães, devido à ascendência do nazismo naquele período, o que poderia sugerir proximidade com o nome de Joseph Goebbels, responsável pela propaganda de Hitler. Clark Gable morreu em 1960 antes do nascimento do seu primeiro filho em março de 1961.

Para ser visto e revisto

O filme dura 224 minutos, mais de três horas. É preciso fôlego para assisti-lo numa levada só, mas vale a pena! Por isso, há quem diga que é um dramalhão, mas pensar assim seria reduzi-lo desmerecidamente, já que muito contribuiu para o desenvolvimento do cinema, uma vez que foi pioneiro em algumas técnicas, como na sequência em que Scarlett caminha entre os corpos dos sobreviventes da batalha de Gettysburg. A câmera acompanha a personagem num impressionante travelling aéreo, conseguido graças à utilização de um guindaste de 43 metros de altura, que rolava por uma rampa de cimento armado. Com 13 indicações ao Oscar, tornou-se o segundo filme com o maior número de indicações ao prêmio, ficando atrás apenas dos empatados “A malvada”, de 1950, e “Titanic”, de 1997, que foram indicados a 14 categorias do prêmio. A saga de Scarlett conseguiu levar oito estatuetas, recebendo outras duas em categorias especiais (uma honorária e outra técnica), somando dez prêmios. Façanha que foi superada apenas por “Ben-Hur”, de 1959, vencedor de 11 Oscar, “Titanic” (11 prêmios) e “O Senhor dos Anéis: Retorno do Rei”, de 2003, também com 11 estatuetas.

A atriz Hattie McDaniel tornou-se a primeira artista negra a ser indicada e a receber o Oscar, como melhor atriz coadjuvante, por seu desempenho no papel de Manny, a babá de Scarlett. Depois dela, em 86 edições, apenas 13 artistas negros receberam o prêmio enquanto atores. A última foi Lupita Nyong’o pelo filme “Doze anos de escravidão”, este ano.

Endeusado ou criticado, “…E o vento levou”, ao longo das últimas décadas, foi transformado em um dos produtos de entretenimento mais importantes da cultura pop, sendo obrigatório ser visto e revisto por quem ama o cinema.

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.