Contatos (quase) imediatos

Descobrir se há vida – e vida inteligente – além da esfera em que vivemos é um dos grandes desafios da humanidade, que pode desdobrar-se em outra questão fundamental: será que conseguiríamos entender um ao outro? Estas e outras questões estão presentes em “A chegada”, novo trabalho do diretor Denis Villeneuve, que chega aos cinemas nesta quinta-feira.
Conhecido por longas como “Sicario – Terra de ninguém” e “Os suspeitos”, o cineasta canadense usa a ficção científica como metáfora para refletir sobre um dos grandes problemas que enfrentamos atualmente: a dificuldade de comunicação, que na verdade vai além da barreira da língua em um mundo onde todos possuem e compartilham suas verdades absolutas. E nada melhor para tratar de metáforas do nosso tempo que a chegada de alienígenas em nosso planeta.
O longa metragem mostra a chegada de uma dúzia de gigantescas espaçonaves, de formado razoavelmente cilíndrico, em pontos aleatórios da Terra. Como é de se imaginar, a presença dos misteriosos ETs causa pânico generalizado, com o tradicional risco da sociedade como conhecemos desmoronar e alguns governos mundiais pensando seriamente em atirar primeiro e perguntar depois – sentimento reforçado pelo fato de que os visitantes, a princípio, simplesmente parecem demonstrar interesse algum em dar um “alô”.
O desafio do diálogo
Quando os aliens resolvem abrir os canais de comunicação, o diálogo parece, a princípio, incompreensível. Cada país em que os aliens estacionaram suas naves resolve recrutar um grupo de especialistas para tentar decifrar as enigmáticas comunicações. Nos Estados Unidos, a responsabilidade fica nas costas da especialista em linguística Louise Banks (Amy Adams) e o matemático Ian Donnely (Jeremy Renner). À medida em que imaginam ter iniciado a compreender a linguagem dos visitantes, surgem duas novas questões: o que perguntar aos alienígenas? E qual o verdadeiro propósito deles ao visitarem a Terra.
Além de todo o pano de fundo filosófico, que remete a outras longas sci-fi como “Contatos imediatos de terceiro grau” e “Contato”, “A chegada” ainda entrega para o espectador momentos de tensão que não fariam feio em bons blockbusters de ação. É esse equilíbrio entre ação e reflexão que tornou o filme de Villeneuve (que já cuida das filmagens da continuação de “Blade runner”) uma das produções mais elogiadas e recomendadas em 2016.