Adeus ao ilustre batuqueiro: morre Sebastião Mota

Como maestro, ele era o integrante mais antigo do Batuque Afro-Brasileiro Nelson Silva


Por Cecília Itaborahy

22/08/2023 às 14h46- Atualizada 22/08/2023 às 15h58

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Com orgulho, Sebastião Mota seguia o legado de Nelson Silva, mantendo viva a tradição que o compositor deixou através de suas músicas que falavam da vida e da luta do povo negro brasileiro (Foto: Fernando Priamo)

Morreu, nesta segunda-feira (21), o mais antigo integrante do Batuque Afro-Brasileiro Nelson Silva, Sebastião Mota. Desde 2013, ele ocupava o lugar deixado pelo fundador, como maestro do grupo. Sebastião estava internado há quase um mês, devido a um quadro de pneumonia. Seu sepultamento acontecerá nesta terça-feira (22), às 16h, no Cemitério Parque da Saudade. No local, os integrantes prestam homenagem ao homem que guiou, durante tanto tempo, os coros e os batuques do grupo, patrimônio imaterial de Juiz de Fora.

Sebastião nasceu em Tabuleiro do Pomba. Viveu lá até seus 23 anos, quando se mudou para Juiz de Fora com o intuito de procurar um emprego. Começou a trabalhar no Curtume Krambeck e por lá ficou por 20 anos. Depois de dois cursinhos na construção civil, foi para a Empav, onde trabalhou por mais 22 anos, como oficial de obras, até sua aposentadoria.

Quando chegou a Juiz de Fora, participava da escola de samba Feliz Lembrança e integrava o Coral Santo Antônio. Conheceu o batuque, inclusive, por causa de um evento na quadra da escola, e decidiu fazer parte. Ele passou a integrar o grupo em 1974. Com orgulho, seguia o legado de Nelson Silva – que ele conheceu e por quem mantinha generoso carinho – mantendo viva a tradição que o compositor deixou através de suas músicas que falavam, sobretudo, da vida e da luta do povo negro brasileiro. Em 2015, o maestro recebeu a medalha Nelson Silva, como um reconhecimento pela sua dedicação ao resgate e ao enaltecimento da cultura negra de Juiz de Fora.

Zélia Lima, relações públicas do Batuque Afro-Brasileiro Nelson Silva, em nome dos integrantes, lamenta sua morte: “O maestro é a pessoa mais importante para o grupo. Primeiro, porque é uma pessoa que tem conhecimento total sobre as letras das músicas e, segundo, por ser um dos membros mais antigos. Além da saudade que já estamos sentindo, ele leva consigo muito conhecimento sobre o batuque, sobre as letras, o que herdamos do glorioso Nelson Silva. A gente está consternado. Não foi possível registrar o que ele sabia. Ele conhecia todas as músicas com suas perfeitas harmonias e o que significa as letras para nosso grupo. Ele gostava muito de falar sobre a representatividade e o que o batuque representava para a cultura de Juiz de Fora. E que o batuque é um livro de estudos com a voz. A gente deixa um abraço para seus familiares e que ele seja recebido pelos nossos ancestrais, inclusive pelo nosso saudoso Nelson Silva, que criou nosso grupo em 1964”.

Importância cultural

Em nota divulgada nas redes sociais, a Funalfa também falou sobre a importância de Sebastião para o batuque e para a cidade: “Com profundo pesar, a Funalfa presta sua homenagem à memória de Sebastião Mota, um membro ilustre do Batuque Afro-Brasileiro de Nelson Silva. (…) Suas batidas e legado ecoarão para sempre. Descanse em paz, Sebastião”.

Confira a reportagem sobre o Batuque Afro-brasileiro Nelson Silva em novembro de 2022 aqui e veja o vídeo:

 

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