Adeus ao ilustre batuqueiro: morre SebastiĆ£o Mota
Como maestro, ele era o integrante mais antigo do Batuque Afro-Brasileiro Nelson Silva
Morreu, nesta segunda-feira (21), o mais antigo integrante do Batuque Afro-Brasileiro Nelson Silva, SebastiĆ£o Mota. Desde 2013, ele ocupava o lugar deixado pelo fundador, como maestro do grupo. SebastiĆ£o estava internado hĆ” quase um mĆŖs, devido a um quadro de pneumonia. Seu sepultamento acontecerĆ” nesta terƧa-feira (22), Ć s 16h, no CemitĆ©rio Parque da Saudade. No local, os integrantes prestam homenagem ao homem que guiou, durante tanto tempo, os coros e os batuques do grupo, patrimĆ“nio imaterial de Juiz de Fora.
SebastiĆ£o nasceu em Tabuleiro do Pomba. Viveu lĆ” atĆ© seus 23 anos, quando se mudou para Juiz de Fora com o intuito de procurar um emprego. ComeƧou a trabalhar no Curtume Krambeck e por lĆ” ficou por 20 anos. Depois de dois cursinhos na construĆ§Ć£o civil, foi para a Empav, onde trabalhou por mais 22 anos, como oficial de obras, atĆ© sua aposentadoria.
Quando chegou a Juiz de Fora, participava da escola de samba Feliz LembranƧa e integrava o Coral Santo AntĆ“nio. Conheceu o batuque, inclusive, por causa de um evento na quadra da escola, e decidiu fazer parte. Ele passou a integrar o grupo em 1974. Com orgulho, seguia o legado de Nelson Silva – que ele conheceu e por quem mantinha generoso carinho – mantendo viva a tradiĆ§Ć£o que o compositor deixou atravĆ©s de suas mĆŗsicas que falavam, sobretudo, da vida e da luta do povo negro brasileiro. Em 2015, o maestro recebeu a medalha Nelson Silva, como um reconhecimento pela sua dedicaĆ§Ć£o ao resgate e ao enaltecimento da cultura negra de Juiz de Fora.
ZĆ©lia Lima, relaƧƵes pĆŗblicas do Batuque Afro-Brasileiro Nelson Silva, em nome dos integrantes, lamenta sua morte: “O maestro Ć© a pessoa mais importante para o grupo. Primeiro, porque Ć© uma pessoa que tem conhecimento total sobre as letras das mĆŗsicas e, segundo, por ser um dos membros mais antigos. AlĆ©m da saudade que jĆ” estamos sentindo, ele leva consigo muito conhecimento sobre o batuque, sobre as letras, o que herdamos do glorioso Nelson Silva. A gente estĆ” consternado. NĆ£o foi possĆvel registrar o que ele sabia. Ele conhecia todas as mĆŗsicas com suas perfeitas harmonias e o que significa as letras para nosso grupo. Ele gostava muito de falar sobre a representatividade e o que o batuque representava para a cultura de Juiz de Fora. E que o batuque Ć© um livro de estudos com a voz. A gente deixa um abraƧo para seus familiares e que ele seja recebido pelos nossos ancestrais, inclusive pelo nosso saudoso Nelson Silva, que criou nosso grupo em 1964”.
ImportĆ¢ncia cultural
Em nota divulgada nas redes sociais, a Funalfa tambĆ©m falou sobre a importĆ¢ncia de SebastiĆ£o para o batuque e para a cidade: “Com profundo pesar, a Funalfa presta sua homenagem Ć memĆ³ria de SebastiĆ£o Mota, um membro ilustre do Batuque Afro-Brasileiro de Nelson Silva. (…) Suas batidas e legado ecoarĆ£o para sempre. Descanse em paz, SebastiĆ£o”.
Confira a reportagem sobre o Batuque Afro-brasileiro Nelson Silva em novembro de 2022 aqui e veja o vĆdeo:
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