Pedrada incendiária


Por Tribuna

20/05/2017 às 06h00- Atualizada 04/01/2018 às 11h48

Foto: Breno Galtier
Premiada no Grammy Latino, Scalene faz barulho com letras que criticam o momento político atual (Foto: Breno Galtier)

Oito anos de estrada, vencedores do Grammy Latino no ano passado, entre o som harmônico e uma verdadeira pedrada do rock’n’roll. Talvez, o “headbanging”, ação em que o público movimenta a cabeça no ritmo da sonoridade, e o “mosh”, ciranda frenética no meio da platéia, nunca fizeram tanto sentido como nas performances da Scalene pelo Brasil. Referência no tradicional rock de Brasília, Gustavo Bertoni (guitarra e vocal), Tomás Bertoni (guitarra), Lucas Furtado (baixo) e Philipe ‘Makako’ (bateria e vocal) reuniram mais de duas mil pessoas no show de gravação do primeiro DVD do grupo para provar que o ingresso vale. E como vale.

Juiz de Fora já sabe dessa história. “Fomos para o bar clássico daí comer uns torresmos, e uma das vezes tocamos numa praça bem bonita”, conta o guitarrista Tomás Bertoni, em entrevista à Tribuna por e-mail. Os caras já subiram nos palcos por aqui em duas apresentações “bem intensas” em 2014 e 2015. Desta vez, o quarteto é headliner do festival JF Rock City na noite deste domingo, 21, e já trabalha no terceiro disco com novas referências e elementos. “Exploramos novas influências, expandimos nosso vocabulário musical, demos mais espaço para influências de música brasileira, e as letras estão mais assertivas.” Planejado para o próximo semestre, o sucessor de “Éter” (2015) está sendo gravado no Red Bull Studio São Paulo, onde outros artistas como Ney Matogrosso e Nação Zumbi também realizaram suas produções.

Passando pelo stoner rock/hard rock recheado de influências como Royal Blood, Thrice e O’Brother, Metá Metá e outros, o grupo já é apontado em algumas críticas como a nova geração do rock de Brasília, cena underground reconhecida por composições em tons críticos, de união e resistência contra crises políticas no país. E o barulho da Scalene, vindo do berço dos anos 80 e 90, efervesce na relação da lírica e distorções de guitarra em “Nós maior que eles” e “Inércia”, canções em que a banda instiga as pessoas a refletirem sobre o momento político. “Nos incomoda muito a falta de empatia das pessoas nas suas visões, falta de vontade de entender o lado do outro, falta de noção da importância de se informar bem sobre os assuntos. Quem ganha com essas guerras de narrativas é quem está no poder. O foco não pode ser os extremos pueris e seus focos hostis”, aponta Tomás. Além dos brasilienses, outros conterrâneos da capital aparecem no festival para esquentar o palco antes da banda principal. O Alarmes, que está em turnê com o quarteto, se apresenta antes, além de Balli, Outubro Ou Nada, Coroña, Obey! e Visco.

Para ficar na memória

Entre riffs e acordes, história. Demasiadas memórias de um espaço onde cada alma toca uma melodia de vida diferente. Os festivais são símbolos de gerações que têm a música como extensão do corpo. E, em cada tom, um personagem para mais de uma década de JF Rock City.
A professora Ana Elisa Resgalla ainda lembra daqueles registros que ficaram na memória. “Um dos melhores shows que vi foi o do André Matos, em 2015. As apresentações dele sempre são uma viagem no tempo para mim. Fui a todas as edições do JF Rock City. É cada vez mais importante para a cidade e, principalmente, para a cena rock’n’roll que nela existe. O festival consegue, além de dar visibilidade e oportunidade para bandas autorais, ajudar a Ascomcer, e isso, para mim, é maravilhoso”, ressalta.

Também como peça representativa de união por uma onda de roqueiros, o evento move o amor pela música, segundo o artista Dê Monteiro. “Todos se juntam para fazer desse evento sempre um sucesso. Costumo compará-lo a movimentos grunge dos anos 90 em Seattle. Ele veio para demonstrar que o roqueiro não é aquele cara que amedronta as pessoas, muito pelo contrário, fazemos eventos beneficente com o que nos move. O Rock.”

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.