Tempo, espaço e corpo


Por FELIPE MUSSEL

20/05/2011 às 07h00

Desde Albert Einstein que tempo e espaço se tornaram grandezas relativas. Percebê-las, mais do que agrupá-las, é um exercício de afirmação da própria existência, imposto ao indivíduo a todo instante. Uma prática que modifica não apenas o olhar, a percepção, mas propõe diálogos com o corpo físico, que, através dos sentidos, capta novos momentos em imagens e os coleciona formando lembranças, memórias e múltiplas existências. É apoiada nesta tríade, espaço/tempo/corpo, que a Cia Ormeu de dança estreia Retina-trilogia final nesta sexta, às 20h, no Cine-Theatro Central, com entrada franca.

A ideia central é de como a imagem se processa no corpo. Além, é claro, das imagens novas e que vão se sobrepondo umas sobre as outras na construção do espaço e do tempo do homem, pontua a diretora da companhia e bailarina Daniela Guimarães. Esse experimento sempre foi pensado em três momentos de utilização do espaço e do tempo, mesmo sem saber quais seriam. O fio condutor sempre é a improvisação, sobretudo no primeiro estudo, explica Daniela, referindo-se ao primeiro ato desta trilogia denominado Margem – Contorno dos espaços cheios, que estreou em 2008.

Em 2009, veio o segundo experimento, Fixa na retina pra sempre, em que os bailarinos abandonaram a rigidez e o tradicionalismo do palco italiano e partiram para apresentações em fachadas de prédios, praças públicas e galerias: estações de trabalho onde o público podia transpassar por entre e através das improvisações. A trilogia final é uma junção de tudo isso – a utilização de um espaço aberto em improvisações, aliando marcação de cenas e coreografias pensadas previamente. O que é fixo nos três é o fato inesperado, conclui.

A Cia Ormeo surgiu em 2003 como um desdobramento do projeto Café com Pão Arte ConFusão, há dez anos na cidade de Cataguases.

Inquietudes

Se cabe ao corpo registrar e perceber as nuances da relação espaço e tempo, que imagens estariam registradas mais fortemente na retina da Companhia Ormeu? Por telefone, Daniela Guimarães explica que talvez sejam as inquietudes de lidar com as diferentes temporalidades e espacialidades. Esta é, neste instante, a grande questão que tentamos compreender.

Daniela também divide e multiplica seu corpo em três espaços: sua casa oficial em Juiz de Fora, onde durante dez anos se comprometeu, por meio de de seus espetáculos, a formar público; Cataguases onde dirige uma companhia de dança e desenvolve uma série de trabalhos sociais; e Salvador onde é mestranda do núcleo de dança da Universidade Federal da Bahia.

As novas tecnologias são um dos pontos de aproximação do espetáculo com a dinâmica da atualidade. As imagens, tão importantes na formação do espaço e do tempo do sujeito, poderão ser percebidas, vivenciadas e captadas pela plateia. São as mesmas projeções que estarão em contato com o improviso dos bailarinos. A grande brincadeira é como que a imagem parece ser capturada em tempo real e na verdade não é. Tudo faz parte da memória.

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