“Tupi, or not tupi” expõe reflexos da arte moderna

Exposição da Casa de Arte Venturi reúne obras de artistas locais que, a partir da frase de Oswald de Andrade, pensaram na importância do modernismo para a atualidade


Por Cecília Itaborahy, sob supervisão de Wendell Guiducci

17/03/2022 às 07h00

Depois dos 100 anos da Semana de Arte Moderna e as discussões inflamadas sobre a importância do modernismo na configuração da arte contemporânea, o artista Adauto Venturi, curador e produtor da exposição “Tupi, or not tupi”, propõe, agora, entender como essa vertente chega a cada um dos artistas tantos anos depois. Como na antropofagia, que surgiu em seguida ao estopim do modernismo, os artistas bebem da influência dos paulistas, ruminam e, por fim, despejam um novo olhar. A Casa de Arte Venturi (Rua Miguel Couto 19 – Bairro Fábrica) mantém a mostra em cartaz até o dia 31 de março. Neste sábado (19), Adauto organiza um jantar com experiências antropofágicas, com um cardápio que dialoga com o que foi o modernismo. Reservas podem ser feitas pelo telefone (32) 98898-2322.

“Tupi, or not tupi” conta com obras de Fernanda Cruzick, Frederico Merij, Ricardo Cristofaro, Cipriano, Sérgio Sabo, Nickolas Garcia, Ramon Brandão, Valéria Faria e do próprio Adauto Venturi. Além das artes, Adauto quis reconstituir a situação da época e reuniu uma série de documentos, catálogos e jornais que dão tom à exposição. Mas a ideia, de acordo com ele, não é de forma alguma ser modernista, até porque, para Adauto, esse tempo já passou. “Não é voltar atrás. É pensar em um reflexo.” Por esse motivo, na curadoria, que foi feita com Fernanda Cruzick, quiseram pensar em artistas que produzem obras diferentes, para apresentar um catálogo amplo. Exemplificando como aconteceu na semana modernista, que privilegiou alguns tipos de arte, Adauto explica que quis ir além. Nas paredes, além de quadros, fotografias, gravuras e desenhos. No chão, esculturas e instalações.

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Curadoria para o amplo catálogo seguiu o nome da mostra, presente como frase no “Manifesto antropofágico”, escrito por Oswald de Andrade (Fotos: Fernando Priamo)

Todas as obras foram feitas a partir da célebre frase que foi escrita por Oswald de Andrade no “Manifesto antropofágico” e que é, também, o nome da mostra. A partir da expressão “Tupi, or not tupi, that is the question”, os artistas pensaram em formas de retratar o que foi, mas sempre pensando no momento atual. Algumas obras têm ligações diretas com o movimento e apresentam, por exemplo, representações dos principais nomes da semana de 22. Outras, no entanto, são abstrações que, simplesmente, questionam a arte e a importância da vertente para o agora.

Fortalecimento cultural

Para Adauto, o modernismo foi responsável por transcender a arte. Repercutir essa influência, para ele, ajuda na reafirmação de uma identidade brasileira, que passa a ser valorada pelos artistas modernistas, que queriam criar uma cultura mais nacional, com menos influência importada de outros países. A ideia da Casa de Arte Venturi, como aponta o artista, é incentivar as discussões sobre esses contextos e a criação de uma identidade que Juiz de Fora mesmo produz, com tantos artistas na cidade de diferentes áreas. Ele, que viveu a efervescência da produção cultural juiz-forana entre os anos 1970 e 1980, sente falta da abertura dos espaços para receber esses encontros que considera fundamentais no fortalecimento cultural de uma cidade.

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