Moradores do Santa Cândida se mobilizam para conseguir sede de biblioteca comunitária
Epaço que contribui para formação de jovens do bairro fica na casa de Adenilde Petrina; objetivo é conseguir um local que permita a realização de ações sociais e culturais

Desde o início dos anos 2000, os moradores do Bairro Santa Cândida, Zona Leste de Juiz de Fora, fazem uso de uma biblioteca comunitária, criada pela extinta Rádio Mega FM, que atuou na comunidade entre os anos 1997 e 2007. O que começou como um projeto modesto, impulsionado pela cultura hip-hop e pela necessidade de estudo dos rappers locais, se transformou em um espaço de cultura e formação, abrigado na residência de uma das fundadoras da rádio comunitária, Adenilde Petrina Bispo. Com o tempo, a pilha de livros cresceu, e o cômodo ficou pequeno. Hoje, a população, através do Coletivo Vozes da Rua, busca ampliar o espaço para que seja possível manter um número maior de obras, guardar o acervo da emissora e promover ações sociais e culturais.
No ano passado, a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) disse aos moradores que iria ceder o espaço onde funcionava a Instituição de Educação Infantil do Centro Educacional Niraldo Goreti, localizada na Rua Altivo Cintra, 25, para a biblioteca. A promessa era de que um salão multiuso seria construído no local. No entanto, a população ainda não teve retorno de quando isso será feito. “A gente está só esperando liberar”, afirma Adenilde, enquanto o coletivo segue catalogando e organizando os livros.
A importância desse novo espaço é inestimável para a comunidade. “Tem muitos jovens, aqui em Santa Cândida, que gostam de ler, de fazer uma leitura variada, como a filosofia, a filosofia africana, a história da África”, ressalta Adenilde. O objetivo é claro: “disseminar a cultura através da biblioteca”.
A reportagem entrou em contato com a prefeitura a respeito da demanda da comunidade do Santa Cândida e foi informada que o imóvel onde funcionava a creche já não existe, pois foi demolido após interdição da Defesa Civil. Atualmente, o terreno permanece interditado. “O espaço é público e está sendo avaliado pelas secretarias responsáveis. No momento, não há projeto definido, nem previsão para construção no local”, declarou em nota.

‘Quem conhece tem poder’
A história da biblioteca tem origem em 2001 e está atrelada aos programas musicais da Rádio Mega FM. “Os rappers estavam precisando estudar para escrever letras de rap”, relembra Adenilde. Com o tempo, o acervo cresceu e se diversificou, indo além do hip-hop para abraçar filosofia, história, especialmente a história e o pensamento africano, a cultura negra no Brasil e a história do próprio país. O local abriga, além dos livros, arquivos preciosos sobre a cultura hip-hop, da Rádio Mega FM e dos movimentos sociais de Santa Cândida.
O plano é, a partir da conquista da sede da biblioteca, realizar cursos com os jovens do bairro para que eles deem continuidade aos projetos culturais. “Quem conhece tem poder e sabe iluminar onde está caminhando”, reflete a fundadora, resumindo o propósito do projeto. “A gente espera, com muita força, que essa biblioteca saia, porque é importante pra comunidade”, conclui.
Formando jovens e resgatando histórias
Alexandro Rodrigues Lima, conhecido como Mano Zoi, 43 anos, é um dos muitos que tiveram sua vida marcada pela biblioteca. Frequentador desde os tempos da Rádio Mega FM, quando tinha 18 anos, ele encontrou nos livros um caminho. “A gente ia lá pra biblioteca estudar. A gente ia buscar informação dentro da biblioteca pra colocar nas letras de rap”, conta.
Zoi destaca a importância do acesso a obras que raramente chegavam à escola, como as que contavam a história de Zumbi dos Palmares, Malcolm X e Martin Luther King. Para ele, esse espaço foi fundamental em sua formação. “Se a gente não tivesse aquele espaço ali, era fácil pra gente estar dentro da criminalidade, no cotidiano ali da periferia.”
A visão de um novo espaço para a biblioteca traz esperança esperança. “Vai dar pra gente trabalhar com as crianças, com a nova geração que tá chegando hoje”, projeta. Ele reforça a necessidade do trabalho social na periferia, algo que a biblioteca e o conhecimento proporcionado por Adenilde e o coletivo já fazem há anos.