Férias escolares: como aproveitar o momento com as crianças
Especialistas apontam alternativas para entreter os pequenos com criatividade, fortalecer vínculos e evitar o uso excessivo de dispositivos eletrônicos

Com as férias de julho, muitos pais e responsáveis se perguntam sobre como manter as crianças entretidas de forma saudável. Em um período marcado pela flexibilização das rotinas, cresce o alerta para o uso excessivo de telas e a importância de outras experiências, como o brincar livre e a participação em tarefas domésticas.
O brincar livre, segundo especialistas, é uma atividade essencial para o desenvolvimento infantil. Diferente das atividades estruturadas, ele é auto-iniciado e guiado pela curiosidade da criança, que escolhe o que, como e com quem brincar. A imaginação é o principal recurso nesse processo.
O psicólogo escolar e psicopedagogo Gabriel Braga Vicente explica que o brincar livre fortalece a autonomia, o senso de escolha e a responsabilidade da criança. “Sem roteiros prontos, ela cria seus próprios mundos, transforma objetos comuns em elementos simbólicos e estimula o pensamento abstrato.”
Para Vicente, essa prática também é uma base para o aprendizado. “As crianças exploram texturas, sons, objetos e relações. Elas experimentam, testam hipóteses e constroem conhecimento de forma ativa.”
O especialista ressalta que o brincar livre é especialmente importante nos primeiros anos de vida, período de intenso desenvolvimento cerebral. “Na primeiríssima infância (até 3 anos) e na primeira infância (3 a 7 anos), o brincar livre contribui para o avanço das habilidades cognitivas, motoras, afetivas e sociais.”
Ainda, segundo ele, crianças que vivenciam essas experiências tendem a apresentar mais autonomia, criatividade, concentração e habilidades sociais quando retornam à escola.
Como tornar o ambiente adequado para a criança brincar
Para o psicólogo, o espaço físico não precisa ser amplo ou equipado com brinquedos caros. O essencial é que ofereça segurança e liberdade de exploração. Adaptar o ambiente — protegendo tomadas, reorganizando móveis e criando cantinhos de brincadeira — já é suficiente. Materiais simples, como caixas, tecidos, potes e objetos recicláveis, estimulam a imaginação.
Os adultos têm papel importante, mas não devem conduzir as brincadeiras. “O ideal é disponibilizar materiais, observar e participar apenas quando convidados. O protagonismo deve ser da criança”, orienta Vicente.
Segundo ele, a participação dos pais também é benéfica, desde que equilibrada. Brincar junto fortalece vínculos e permite ampliar o universo da criança com novos desafios e vocabulário. Por outro lado, respeitar o espaço para o brincar autônomo é fundamental para o desenvolvimento da autoconfiança e da capacidade de resolver problemas.
Telas: limites e qualidade
O psicólogo alerta para os riscos do uso excessivo de telas durante as férias, o que pode reduzir as interações sociais e afetar o desenvolvimento cognitivo, motor e emocional. “Problemas de sono, postura, irritabilidade e dificuldade de concentração são alguns dos impactos associados.”
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e a Academia Americana de Pediatria (AAP) recomendam evitar o uso de telas antes dos 2 anos. Entre 2 e 5 anos, o limite é de até uma hora por dia, com supervisão de adultos sobre os conteúdos adequados. A partir dos 6 anos, o uso pode ser mais flexível, desde que não substitua brincadeiras, socialização, sono e atividade física.
“Mais importante do que o tempo é a qualidade do conteúdo, o equilíbrio com outras experiências. Assistir junto e dialogar sobre o que foi visto transforma o momento em aprendizado”, reforça Vicente.
Contatos reais e natureza
Experiências ao ar livre e o contato com a natureza favorecem o bem-estar emocional, reduzem o estresse e ampliam as oportunidades de aprendizado social e cognitivo. Praças, parques e museus oferecem estímulos sensoriais e convivência com pessoas de diferentes idades, promovendo habilidades como empatia, cooperação e respeito a regras sociais.
A professora da Escola Waldorf Rudolf Steiner, Cleonice Vieira dos Santos, destaca o papel das vivências reais na formação de crianças mais equilibradas. “O brincar e o convívio humano genuíno são fundamentais para o desenvolvimento. O uso precoce de tecnologia tende a gerar agitação e ansiedade.”
Para aproveitar as férias, Vicente sugere atividades por faixa etária:
- Até 1 ano: movimento livre no chão, exploração sensorial com tecidos, chocalhos e espelhos.
- 1 a 3 anos: brincadeiras com água, areia, brinquedos de encaixe e exploração da natureza.
- 3 a 6 anos: faz de conta, massinha, tintas e construções com blocos e recicláveis.
- 6 a 12 anos: jogos de tabuleiro, brincadeiras de rua, projetos criativos e hobbies, como desenho e música.
Opções de lazer em Juiz de Fora
Como Vicente explica, as férias não precisam de grandes investimentos. A cidade oferece opções gratuitas que unem cultura, lazer e aprendizado:
- Centro Cultural Bernardo Mascarenhas (CCBM): exposições, oficinas, teatro e biblioteca infantil.
- Parque da Lajinha: trilhas, playground e áreas para piqueniques.
- Universidade Federal de Juiz de Fora: áreas de lazer, Planetário e Museu de Arte Murilo Mendes (MAMM).
- Parque Mariano Procópio: natureza, espaços para brincadeiras e Museu Mariano Procópio.
- Praça CEU (Benfica): biblioteca, quadras e oficinas gratuitas de música, teatro e capoeira.
- Manhã de Lazer: projeto do Shopping Jardim Norte, que acontece gratuitamente aos sábados, das 8h às 12h, com recreação e entretenimento. A iniciativa busca incentivar hábitos saudáveis ao ar livre. Para participar é preciso realizar inscrição prévia.
O psicólogo acrescenta que “jogos de rua, como pega-pega, esconde-esconde, amarelinha e pular corda promovem movimento, socialização e diversão sem custos. Contação de histórias e cantigas estimulam a linguagem, a criatividade e fortalecem os laços familiares. Jogos de tabuleiro e cartas estimulam o raciocínio lógico, memória e atenção”.
O mais importante, segundo ele, “é a presença qualificada dos pais: estar disponível para observar, interagir e permitir que a criança explore seu mundo”. E acrescenta: “Férias são um tempo precioso para fortalecer vínculos e para que a criança possa simplesmente ser criança, brincando e aprendendo no seu próprio ritmo, com ou sem recursos financeiros.”
*Estagiária sob supervisão da editora Gracielle Nocelli