Ajustes finais

O carnaval de 2016 teve um gosto amargo para as escolas de samba de Juiz de Fora. Devido à proposta de repasse oferecido pela Funalfa, cerca de 65% inferior ao oferecido em 2015, as agremiações optaram por não realizar os desfiles justamente no ano em que se comemoraria o cinquentenário do evento na cidade. Para este ano, porém, nove escolas – quatro do Grupo A e cinco do Grupo B – toparam o desafio de fazer o carnaval com os R$ 400 mil oferecidos pela Funalfa, sendo que nomes tradicionais na cidade como a tetracampeã Unidos do Ladeira e Juventude Imperial preferiram continuar fora da folia. Para quem vai desfilar, haverá a novidade do novo palco para os desfiles: o Parque de Exposições, que será ocupado pelas escolas neste sábado e domingo.

Ainda que a crise continue sendo um entrave a ponto de diversas agremiações optarem por não desfilar, os presidentes das escolas que vão se apresentar têm demonstrado otimismo ao conversarem com a Tribuna sobre o evento. As quatro integrantes do Grupo A, por exemplo, já estão com todas as alegorias e fantasias prontas – ou algo muito próximo disso. O ritmo nos barracões, agora, é de dedicação aos ajustes finais, o que inclui também as escolas do Grupo B. A Vale do Paraibuna, que também foi visitada pela Tribuna, estava com os trabalhos igualmente adiantados.
Henrique Araújo, presidente da Mocidade Alegre, destaca que a expectativa para o desfile “é a melhor possível”, principalmente por ser o primeiro ano no Parque de Exposições. “O ano passado sem carnaval acabou sendo bom, pois pudemos nos preparar mais e melhor”, acredita. “Esperamos que neste novo local o pessoal consiga abraçar as escolas de novo, após um ano de ausência”, confia Leandro Betim, da Feliz Lembrança.
Luiz Carlos Masson, da Real Grandeza, torce para que o desfile deste ano possa superar a decepção do ano passado. Ele destaca, ainda, o trabalho feito pela Liesjuf (Liga Independente das Escolas de Samba de Juiz de Fora) para que os desfiles fossem realizados em 2017. “O Marcos Tadeu (presidente da Liga) teve uma atuação muito importante junto ao poder público para termos o desfile este ano. Mesmo com a redução de verbas tivemos um esforço muito grande para termos um carnaval tão bonito quanto antigamente. Trabalhamos durante cinco meses, foi um período duro. E esperamos que o Parque de Exposições se transforme num novo sambódromo.”
Com o novo espaço para os foliões, cada escola prepara sua logística. Dentre as agremiações do Grupo A, a Mocidade Alegre vai aproveitar a proximidade de seu barracão com o Parque de Exposições para levar suas alegorias já na quinta-feira, enquanto as demais escolas farão o transporte apenas na sexta. Leandro Betim prefere esperar no local de construção dos carros alegóricos da Feliz Lembrança, para se precaver quanto à chuva em especial. Todos concordam, entretanto, que a mudança de local vai tornar mais fácil eventuais retoques de última hora e também diminuir os transtornos em relação ao trânsito.
Algumas escolas já se organizam também quanto aos seus integrantes. “Teremos ônibus para levar os foliões da comunidade até lá. Já orientamos os diretores de alas para levar os integrantes o mais cedo possível, para todos poderem conhecer melhor o local e curtir a nova estrutura”, diz Henrique Araújo. Leandro Betim disse que já nesta quarta-feira as fantasias começam a ser distribuídas. A Real Grandeza concluiu as fantasias nos últimos dias, mas seu presidente, Luiz Carlos Masson, ressalta que as alegorias já estão prontas desde novembro.
Quanto ao que o público pode esperar dos desfiles, nenhuma escola abre completamente o jogo, mas todas estão confiantes de que o carnaval de 2017 vai surpreender. A Real Grandeza, por exemplo, vai reeditar o enredo “O circo”, de 1974, promovendo uma homenagem aos compositores do samba enredo daquele ano, Gilson Campos e Geraldo de Souza. “Este samba é considerado o hino da Real Grandeza. Temos a expectativa de que a escola virá leve, muito bonita, dentro dos parâmetros que sempre apresentamos”, adianta Luiz Carlos Masson.
No caso da Mocidade Alegre, Henrique Araújo diz que aqueles que assistirem ao desfile da agremiação podem esperar “uma grande surpresa”. “Temos a tradição de surpreender na avenida, e este ano faremos um belo espetáculo. Quem for verá algo diferente”, garante.
Enfrentando as adversidades

A alegria por voltar à avenida, todavia, não apaga da memória dos presidentes a tristeza pela ausência em 2016 e o fato de que algumas coirmãs continuam foram da festa este ano. Entre os desafios enfrentados estavam manter a comunidade ligada às agremiações e também lidar com o orçamento reduzido para 2017. A Mocidade Alegre, segundo Henrique, realizou vários eventos durante o ano para manter a comunidade unida. Para isso, apostaram ainda na excitação da novidade dos desfiles no Parque de Exposições. Leandro, da Feliz Lembrança, ressalta que foi feito um trabalho quase de corpo a corpo com a comunidade para não deixar o desânimo tomar conta. No caso da Real Grandeza, Luiz Carlos Masson afirma que a tarefa foi ainda mais árdua, porém o amor falou mais alto. “Nossa quadra está fechada há dois anos e oito meses. Temos renda nenhuma e temos despesas com luz, água, prestadores de serviço, mas as pessoas que estão ligadas não perdem a animação. É uma escola com 50 anos de história, são famílias que participam, não tem como perder a animação.”
Quanto à verba reduzida, a ordem do dia foi se virar como fosse possível para colocar as escolas de samba na avenida. “É uma forma de buscarmos outras alternativas, materiais diferentes, mais baratos, e um incentivo para as escolas conseguirem recursos externos, não dependerem apenas da Prefeitura. Como nossa escola é muita nova e ainda estamos construindo a quadra, sempre buscamos esses recursos por fora. Então tem sido tranquila essa adaptação, não influenciou diretamente no nosso desfile”, diz Henrique Araújo.
“A gente vai fazer um desfile de alto nível, é um grande esforço para manter o carnaval que a Real sempre fez, e tenho certeza que as coirmãs também se esforçaram”, afirma Masson. Leandro Betim, da Feliz Lembrança, diz que a escola complementou os custos crescentes com eventos e até mesmo rifas, como a mais recente para colocar iluminação nas alegorias.
“A ideia é que tenhamos todas as escolas novamente ano que vem”, torce Henrique Araújo. “Não acredito que a ausência delas prejudique o desfile. Lamentamos as ausências, é uma opção que respeitamos, mas não vai apagar o brilho do evento. É difícil organizar o desfile, mas quem abraçou a causa com certeza está feliz por botar sua escola na rua”, afirma Luiz Carlos Masson.