Expandindo fronteiras


Por JÚLIA PESSÔA

14/11/2013 às 07h00- Atualizada 09/02/2015 às 10h54

Embora tenha muito que se batalhar na cidade quando se discute música, sobretudo a autoral, é com otimismo que os especialistas observam as perspectivas de formação em Juiz de Fora. Acredito que assistiremos a uma verdadeira revolução musical e educacional em Juiz de Fora e arredores nas próximas décadas, opina Luiz Castelões, vice-diretor do Instituto de Artes e Design (IAD) da UFJF e cocriador de sua nova modalidade, a composição musical, a segunda da área em Minas Gerais.

Outra novidade é a implantação da licenciatura em música, que, segundo o diretor do IAD Ricardo Cristófaro, é um importante degrau no ensino da música na cidade. É mais uma frente de atuação e representa o papel social da universidade pública em investir em carreiras de licenciatura, que foram abandonadas pelas instituições particulares e têm um papel primordial na sociedade. Além disso, há uma carência histórica de professores licenciados na área musical.

Castelões destaca ainda que o curso dará atenção especial aos novos meios de circulação da música autoral, fortalecendo a imagem da UFJF neste campo do conhecimento. Penso especialmente na capacidade que a internet deu ao artista independente de divulgar seu trabalho para um público mais numeroso e diversificado. A produção realizada do bacharelado em composição tende a servir como veículo de divulgação do trabalho artístico, acadêmico e tecnológico desta universidade pelo Brasil e pelo mundo.

Ricardo Cristófaro acrescenta que a implantação das novas graduações também solidifica a cidade como polo de profissionais da música. Juiz de Fora tem tradição na formação de bons músicos, que antes vinham de conservatórios e outras instituições privadas.

Para o presidente da Cooperativa da Música de Minas (Comum), Fred Fonseca, a implantação dos cursos é um passo importante para o reconhecimento da cidade como referência musical. O fato de haver o curso de composição é algo emblemático, que dá muita força à música autoral local e impulsiona uma organização da classe. A licenciatura acaba fechando uma cadeia de conhecimento na cidade, é um claro investimento em formação continuada, uma das discussões que constam, inclusive, no Plano Municipal de Cultura, opina Fred.

Para Ricardo Cristófaro, a implantação da licenciatura vem em um momento oportuno, atendendo a necessidade, criada por uma lei sancionada no Governo Lula, que torna obrigatório o ensino de música nas escolas. Em Minas Gerais, há apenas quatro cursos de licenciatura em música, e, em todo o país, há uma deficiência no número de profissionais. Ainda não foi definido como o ensino de música deverá aparecer nas instituições de ensino, se como uma ramificação das artes ou disciplina autônoma, mas a criação da licenciatura certamente já cria a perspectiva de fortalecer o ensino em Juiz de Fora. Segundo ele, o colégio de aplicação da UFJF, João XXIII, é uma das instituições que leciona música com profissionais habilitados para tal. Com o novo curso, haverá um número muito maior de professores para atuar nas escolas da cidade.

Cristófaro acrescenta, ainda, que os dois cursos dialogam com as premissas atuais da educação, menos voltadas para conteúdos e mais preocupadas com a formação humanística dos estudantes. Este tipo de ensino certamente passa pela educação musical e artística, possibilitando formação abrangente. As escolas estão começando a se mobilizar para isso, em grande parte por conta do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que adota estes princípios, pondera.

Perfis estudantis e profissionais

O anúncio da criação das graduações – e nove outras, em áreas que vão da medicina veterinária à licenciatura em libras – foi feito no início da semana pelo reitor Henrique Duque. Os cursos já farão parte dos processos seletivos para o ano letivo de 2014, tendo a licenciatura em música a oferta de 40 vagas anuais, somente para o primeiro semestre. As aulas serão ministradas no período diurno, e o curso terá duração de quatro anos. Há a previsão de contratação de seis professores, três técnico-administrativos em educação e dois músicos acompanhantes.

Já a composição musical, também oferecida no período diurno, será uma das opções do bacharelado em música, além das existentes de canto, violão, violino, violoncelo, piano e flauta transversal. Os candidatos concorrerão às 30 cadeiras disponíveis, sem direcionamento por modalidade.

Para os dois novos cursos, o candidato deverá fazer prova de habilidade específica, de teoria/percepção musical, com questões objetivas, algumas com base em trechos musicais gravados. No caso do bacharelado, haverá também um exame prático, em que serão observadas a desenvoltura e a técnica instrumental em 15 minutos de performance livre. Entretanto, Ricardo Cristófaro destaca que a licenciatura não é voltada apenas para músicos ou aspirantes a uma carreira musical. É dedicada também àqueles que queiram atuar no ensino ou aprofundar o conhecimento em música.

O bacharelado é direcionado a músicos com conhecimento prévio e que desejam a profissionalização. O bacharel estará apto a trabalhar na indústria criativa (como criador sonoro/musical para vídeo, TV, rádio, cinema, games, dança, teatro), em funções do mercado de trabalho mais específico da música (ex.: arranjador/regente de coros) ou como pesquisador e professor, principalmente em nível superior. O novo bacharelado surge inclusive plenamente integrado à linha de Música e tecnologia do mestrado do IAD/UFJF, formando um corredor educacional que vai do final do ensino médio à pós-graduação, explica Luiz Castelões.

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