‘Pegada hot’


Por MARISA LOURES

14/06/2016 às 07h00- Atualizada 14/06/2016 às 08h12

Nana Pauvolih fala sobre literatura erótica na Bienal de Juiz de Fora

Nana Pauvolih fala sobre literatura erótica na Bienal de Juiz de Fora

Ela não recusa convites. Desde que decidiu que ganharia o Brasil e o mundo com seus livros eróticos, repletos de personagens e cenas sensuais, tem posto o pé na estrada para alcançar cada vez mais fãs. Graduada em história, deixou a sala de aula, onde era conhecida pelo nome de batismo, Janaina, para, definitivamente, ser Nana Pauvolih. A decisão lhe rendeu conquistas, como o posto de best-seller pela Amazon/Kindle e o contrato com uma grande editora, mas também perdas, conforme ela conta na entrevista abaixo. A carioca moradora de Nilópolis é uma das principais atrações do dia 16 de junho, às 19h, da primeira edição da Bienal de Juiz de Fora, que começa hoje.

Em entrevista, Nana antecipa projetos e dá detalhes sobre “Redenção pelo amor”, livro que finaliza a série “Redenção” (selo Fábrica231), composta ainda por “Redenção de um cafajeste” e “Redenção e submissão”. A nova obra traz a história de um bem-sucedido empresário, muito ambicioso, que vê sua vida mudar completamente depois de se apaixonar por uma jovem estudante de uma beleza pura e encantadora.

“Esse é o mais romântico dos três, mas tem a pegada hot. Trata de um amor do passado que volta, tema comum na vida da gente. Fala das relações familiares”, conta a autora, que já se enveredou pelo suspense, descobriu ter disposição para a comédia, mas que sabe, como ninguém, em que terreno quer se firmar. “Pode ter a pitada de suspense e de comédia, mas gosto de escrever romances eróticos.”

Tribuna – Como caminhou para o gênero erótico?

Nana Pauvolih – A literatura erótica chegou muito cedo para mim. Sempre li e escrevi muito. Aí, peguei um livro da Cassandra Rios, chamado “Veneno”, altamente erótico. Li cedo, entrando na adolescência. Achei aquilo incrível. Com 11 anos, escrevi meu primeiro livro, ainda bem romântico. Mas fiquei com o livro da Cassandra Rios na cabeça. Não sei ao certo o que me motivou. Acho que é porque eu gostava, tinha curiosidade e achava estranho, por exemplo, o livro sempre parar quando vinha a parte sexual do romance. Eu ficava curiosa e falava: “quando escrever um livro, vou colocar tudo”.

– Seus dois filhos leem seus livros?

– Trato o sexo em casa de uma maneira bem natural. Meu filho de 16 anos conversa comigo, pergunta quando tem dúvida, tem liberdade, sabe que sou amiga e que estou atenta. O de 5 anos vê a capa do livro – que não tem nada demais, são homens na frente e mulheres na parte de trás -, não entende, mas fica feliz quando vê minhas entrevistas. Ele diz que vai escrever um livro também. Mas, apesar de o sexo e a literatura erótica ainda serem um tabu e ainda termos pessoas preconceituosas, temos conquistas. Procuro não ter esse tipo de postura dentro de casa. Na Bienal do Rio, por exemplo, meu filho estava lá com amigos dele. Ele não tem vergonha.

– Em uma entrevista, você disse que, quando seu ex-marido pegou um livro seu, perguntou como você tinha coragem de escrever aquilo. Depois, você se separou. A causa foi a literatura erótica? Outras pessoas se afastaram de você por causa das suas histórias?

– Aqui a família é muito grande, é muito tradicional. Eu era professora e, de repente, venho com um livro erótico. As pessoas me viam escrevendo, mas não tinham lido ainda e se assustaram. Então, resolvi que a minha prioridade é a minha profissão, é algo que eu amo fazer. Escrevia quando estava triste, feliz, escrevia para rir e me emocionar. Não consigo viver sem, é quase como respirar. Por isso, quando cheguei a ter pessoas que tentaram me forçar ou opinar contra, tentei ainda um ano, mas vi que não dava certo e preferi seguir a minha carreira mesmo.

– As pessoas costumam associar sua vida pessoal ao que você escreve?

– Perguntam muito se são experiências pessoais. Primeiro, falo que a gente sempre coloca um pouco da gente na nossa literatura, nem que seja uma opinião, um modo de ver. Em segundo lugar, digo que é muita ficção. Imagine se eu fosse escrever um livro de terror que tem matanças se eu iria sair por aí matando um monte de gente para poder ter material para ele. Então, a gente usa muito a imaginação, e a experiência conta. É o que eu escuto, o que eu vejo, sinto, passo. Mas a maioria é ficção mesmo.

– Os fãs se frustram quando ouvem de você que a maior parte é ficção?

– Não sei, porque quem lê sabe que está lendo ficção. Recebi uma mensagem no meu grupo secreto de nanete de uma menina que disse assim: “Nana, você cria homens tão maravilhosos que fica difícil na realidade encontrar um homem igual.” É o que falo para elas: é ficção. Em ficção, posso colocar tudo, nossos sonhos, desejos, fantasias. Nós, mulheres, somos ainda muito cobradas, e acho que o romance erótico vem para dar essa liberdade. Por outro lado, há quem fale que o casamento melhorou muito e vai nos eventos e nos lançamentos com os maridos.

– Os homens têm medo de se aproximar de você?

– No início, eu achava que alguns homens ficavam receosos. Talvez de não estarem à altura, achando que eu era algo além do normal. Hoje em dia, tem homens que confundem, mandam mensagens. Aí converso, falo que sou escritora. Geralmente, consigo conversar e resolver numa boa, mas tem um certo assédio.

– Por que Nana Pauvolih?

– Quando eu comecei a postar os capítulos dos livros na internet, ainda dava aulas. Imagine você lidar com adolescentes de escolas, e eles saberem que eu escrevia romances eróticos? Por isso, decidi usar um pseudônimo. Meus apelidos são Nana e Jana, e escolhi Nana. Pauvolih é o sobrenome da minha avó francesa.

– O que a literatura erótica já te deu?

– É muito difícil o escritor conseguir viver, exclusivamente da venda dos livros no Brasil. Consegui tanto pela Amazon, com autopublicações, e também com a Rocco e com os meus trabalhos independentes. Eu tenho minha casa própria. Hoje eu tenho uma agência, assessoria. Estou no momento de investir na minha carreira e aumentar o meu público, de fazer uma tradução, que é caro.

– O que mais você quer conquistar?

– Meu objetivo é que as pessoas me conheçam mais, conheçam meu trabalho. Felizmente, sou muito determinada. Tenho minhas fãs, minhas nanetes, mas eu quero mais. Quero que as pessoas entendam que um livro erótico pode ser muito benfeito, com histórias bem elaboradas, personagens fortes e marcantes. Quero ganhar o Brasil, e vou ganhar, e quero também chegar lá fora. Andei sendo sondada por algumas editoras de fora, mas sou muito paciente e espero o momento certo para fazer as coisas.

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