Bom Jardim de Minas, ‘cidade do acolhimento’, tem complexos de cachoeiras e turismo religioso

Município com 95 cachoeiras e 1.100m de altitude fazia parte da Rota do Comércio; história e clima de montanha compõem cenário na Serra da Mantiqueira


Por Elisabetta Mazocoli

13/11/2025 às 06h00

 

Bom Jardim de Minas
Centro Cultural Recanto do Saber é o imóvel mais antigo de Bom Jardim de Minas (Foto: Bruno Figueiredo)

O município de Bom Jardim de Minas fica entre a Zona da Mata e o Sul do estado, na passagem da mata atlântica para o cerrado. Em seu território são 95 cachoeiras catalogadas nos mais de 400 km² de área e um centro histórico que fica a 1.100m de altitude. A colonização começou na região em 1740, fazendo com que, nas décadas seguintes, o território passasse a ser o centro da Rota do Comércio, que fazia a importação e exportação dos produtos da corte para o interior do país. Seja por sua história, características naturais ou de relevo, a cidade – que fica a 115 km de Juiz e Fora – conta com uma diversidade de atrações para os turistas que procuram uma Minas tranquila, que preserva o que tem de melhor e que tem como principal característica o acolhimento. Nesta matéria, parte da série “Caminhos da Mantiqueira”, a Tribuna explora as cidades do sul do estado a convite do governo de Minas, com foco desta vez em Bom Jardim de Minas.

Bom Jardim de Minas
Local conserva características coloniais e é aberto para cursos e atividades programadas (Foto: Bruno Figueiredo)

Chamar Bom Jardim de “cidade do acolhimento” não é mera adjetivação — há muita história que justifique isso. É o que explica o prefeito José Francisco Matos e Silva (MDB), conhecido como Chiquinho, sobre a tradição tropeira do município, responsável pelo desenvolvimento dessa característica de maneira acentuada, até mesmo em relação a outras cidades próximas. “Se nossos pais, avós, bisavós e tataravós não tivessem as portas abertas para acolher, nós não teríamos sobrevivido”, explica ele, acrescentando que era assim que o comércio se dava e várias gerações encontraram sustento. Ainda hoje ele entende que é esse diferencial que torna a experiência de quem chega para visitar a cidade melhor, seja pela atenção que os turistas recebem ou pela verdadeira sensação de comunidade que há no local. “Se você pedir informação ou ajuda, não vão perguntar da onde você é ou o que está fazendo aqui. O acolhimento é algo muito natural pra gente”, destaca.

Bom Jardim de Minas
Paulo Cézar da Silva, proprietário da Capitão, tem cachaça mais premiada da cidade (Foto: Bruno Figueiredo)

 

 

Sua visão é de que esse acolhimento, quando combinado com uma perspectiva de turismo que valorize o que a cidade tem, também pode gerar renda para a cidade, que tem cerca de 7 mil habitantes. “Queremos mostrar as nossas riquezas múltiplas, que vêm de várias formas de existência, para que a população enriqueça sem empobrecer a própria cultura”, destaca ele, explicando que esse tipo de produção vem dos queijos minas artesanais e dos alambiques (como o da Cachaça Capitão, que é a mais premiada da cidade e segue o lema “Experimenta quem pode, bebe quem tem juízo”). Outro diferencial é a culinária artesanal, como feita no fogão a lenha do João Boquinha, ou pelas produtoras de iguarias como bala de coco, pé de moleque e rosca. O Centro Cultural Recanto do Saber, que é a primeira casa do município, é exemplo dessa tradição que faz a diferença. Parada obrigatória no centro histórico, esse imóvel mostra bem uma casa com as características coloniais preservadas, e hoje também serve para a população fazer cursos e atividades programadas. Enquanto ali a influência é dos colonizadores portugueses, também é possível ver as senzalas em que ficavam os escravizados e até, ao lado, a Casa dos Imigrantes Árabes — e, mais indiretamente, a influência dos indígenas puris na cultura da mantiqueira.

A realidade desse imóvel, no entanto, não foi a de grande parte dos imóveis centenários que havia ali. Tivemos que brigar para preservar o que sobrou. Hoje, o que não está tombado já está inventariado. A população abraçou essa ideia de preservação, e hoje ninguém deixa derrubar nada, porque é a identidade do povo bonjardinense”, explica Chiquinho. Para mudar essa perspectiva, uma das medidas adotadas por ele foi a inserção de uma disciplina de Turismo nas escolas integrais do município, que buscam fazer o diálogo entre a cidade e outros municípios mineiros e capacitar o olhar das crianças e adolescentes para as possibilidades que esse setor pode trazer. 

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Parque Municipal do Taboão

Não falta beleza natural em Bom Jardim, e exemplo disso é o Parque Municipal do Taboão, que já existe há 12 anos. Esse local tem um complexo de três cachoeiras e uma miniusina hidrelétrica, que abastecia o vilarejo e várias nascentes. A primeira parada é a Cachoeira das Crianças, que possui uma queda de água pequena e é bastante rasa, sendo comumente frequentada pelos pequenos; já a segunda é a Cachoeira do Presépio, que fica bem próxima à primeira e já tem uma queda de água maior; por fim, a Cachoeira do Remanso, que é a que tem a maior queda d’água e maior área de banho — a distância da primeira até a última é de 800m, em uma trilha de nível fácil a moderado.

O guia turístico Rony Carvalho foi de Juiz de Fora para a cidade atraído justamente pela possibilidade de trabalhar com turismo em meio à calmaria e com um clima de montanha. Esse parque, para ele, é uma boa pedida justamente pela acessibilidade, que conta com manejo da prefeitura: “Há 2 anos foi feita uma estrutura para receber o pessoal, contando com área de camping, banheiro, deck, pontes, passagem das trilhas e toda a sinalização do parque”, explica. Apesar da grande quantidade de cachoeiras no município, a maioria ainda não tem acesso — só cerca de 30 são recomendadas por ele. A entrada do parque é gratuita, e ele acrescenta que há ainda várias outras opções para quem quer se aventurar na região, incluindo grutas, formações rochosas e picos (que podem chegar a 1.700m, algumas das maiores altitudes da Mantiqueira). A época das cachoeiras, entre a primavera e o verão, costuma ser a que mais atrai visitantes interessados no turismo de aventura, principalmente em campings.

Devoção ao Bom Jesus do Matosinhos

Bom Jardim de Minas
Festa de Agosto já acontece há 245 anos na cidade (Foto: Bruno Figueiredo)

Outro grande fluxo turístico em Bom Jardim de Minas é a devoção ao Bom Jesus do Matosinhos, principalmente no jubileu, conhecido como Festa de Agosto, que já acontece há 245 anos na cidade. Essa tradição tem origens portuguesas, e começou quando uma imagem do Cristo crucificado foi encontrada em uma praia em 1243 e foi trazida para o Brasil, se estabelecendo em diversas cidades. A antiga matriz de Bom Jesus do Matosinhos virou símbolo disso no sul do estado, e teve construção em 1770, quando o local chegou a receber artes do Mestre Ataíde devido à vinda do português Coronel Antônio Corrêa de Lacerda para a cidade. A importância dessa tradição local é tanta que, apesar daquela igreja ter passado por descaracterizações, já está em funcionamento uma nova matriz de Bom Jesus do Matosinhos na cidade.

Esse movimento religioso dos séculos XVIII e XIX moldou a própria cidade. “As ruas eram abertas de acordo com os giros da procissão e o processo de capitalização era em torno dessa festa. Isso fez o desenvolvimento social da cidade. Tudo que é muito forte em Bom Jardim de Minas está ligado à devoção do Bom Jesus do Matozinhos”, explica Chiquinho. A força do turismo religioso, a partir dessa base, foi se tornando tão grande que ocasiões como a da Folia dos Reis e da Páscoa também passaram a chamar turistas para a cidade.

Resumo desta notícia gerado por IA

  • Bom Jardim de Minas é conhecida como a “cidade do acolhimento”, com forte tradição de hospitalidade.
  • A cidade possui 95 cachoeiras e um centro histórico preservado, atraindo turistas para a Serra da Mantiqueira.
  • A Festa de Agosto é um dos maiores eventos religiosos da cidade, com 245 anos de tradição.
  • O Parque Municipal do Taboão oferece belezas naturais e estrutura de turismo ecológico, com cachoeiras e trilhas.

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