Para se livrar do tédio


Por JÚLIO BLACK Repórter

13/06/2015 às 04h00

'Vento ventania' e 'Zé Ninguém' são alguns dos hits do Biquini Cavadão

‘Vento ventania’ e ‘Zé Ninguém’ são alguns dos hits do Biquini Cavadão

Integrante da geração roqueira que sacudiu o país nos anos 80, o Biquini Cavadão segue na estrada para celebrar seus 30 anos de atividades. Com um CD/DVD/blu-ray ao vivo comemorando a efeméride (“Me leve sem destino”), o grupo chega a Juiz de Fora para se apresentar neste sábado, no German, tocando para o público clássicos como “Vento ventania”, “Quando eu te encontrar”, “Janaína” e “Zé Ninguém”, além de composições mais recentes (“Roda-gigante”) e as inéditas “Livre” e “No mesmo lugar”. “A gente costuma incluir ou substituir músicas conforme a região onde vamos. Em Juiz de Fora, deveremos incluir ‘Entre beijos e mais beijos’, por exemplo. E outras músicas poderão rolar”, adianta um dos remanescentes da formação original, o vocalista Bruno Gouveia. Segundo ele, a turnê atual já passou dos 50 shows, incluindo capitais como Belo Horizonte, Goiânia, Cuiabá, João Pessoa, Recife, Teresina e São Paulo.

“Sobrevivente” de uma época em que o rock brasileiro alcançava vendagens consideráveis e tocava de forma incessante nas rádios, o Biquini Cavadão – a exemplo de seus contemporâneos Titãs e Paralamas, por exemplo – convive com a nova realidade, em que o gênero não só está longe do dial e encara vendas baixas em relação ao passado – situação enfrentada, entretanto, por quase todos os estilos. Ao mesmo tempo, as bandas veteranas seguem levando milhares aos shows. Paradoxo? Para Bruno, uma palavra poderia resumir a questão: modismo. “O rock já foi moda também. Quando isto ocorre, tudo gira em torno do estilo vigente. No momento é o sertanejo. Mas já foi pagode, axé, forró, tantos outros. A presença maciça de fãs em shows de Paralamas e Biquini Cavadão, entre outros, só mostra que o universo musical é bem mais abrangente que a moda vigente. E podemos citar (artistas de) outros estilos. Zé Ramalho, Alceu Valença, Natiruts, muita gente boa… E o mundo dará muitas voltas e surpresas. É um ciclo”, filosofa.

Ainda dentro do tema, Bruno Gouveia dá sua opinião sobre como seria para os artistas da sua geração tentar encontrar seu espaço nos dias atuais, com forte retração por parte das gravadoras e o pega-pra-capar da internet, da batalha por espaço nas redes sociais até os efeitos dos downloads ilegais.

“A qualidade de cada compositor não é fruto de uma adequação ao meio do show business. São criações sobre aquilo que cada um quer dizer, e de que modo quer se expressar. Neste quesito, teríamos boas composições de grandes artistas. Se iria vender muito, é outra coisa. Há uma crise fonográfica, o entretenimento é mais importante do que o conteúdo. E o rock não é ostentação, é contestação. Muitos já perceberam isto. Fazemos nossa parte”, diz ele. E acrescenta: “Nada mais será como antes. Do mesmo jeito que ouvir rádio na década de 40 era algo fundamental, a TV chegou e mudou tudo. E isso não quer dizer que as pessoas não ouçam mais rádio. Sempre encaramos bem a questão da internet, fomos a primeira banda com e-mail, site, blog, e atuamos firmemente nas redes sociais. Os verdadeiros fãs acabam comprando CDs, até num ato de colecionismo mesmo. E nos shows, eles vendem muito bem”.

Para pais e filhos

Questões de mercado à parte, o Biquini Cavadão entra para sua quarta década de existência com um público fiel – que, de acordo com Bruno, inclui desde fãs mais antigos a gerações mais recentes. “A filha de 15 anos que se encanta com ‘Timidez’ mal sabe que aquela música foi responsável pela união dos seus pais – e, consequentemente, pelo nascimento dela. Esse gosto passado de pai para filho, tio para sobrinhos, primos mais velhos e amigos para outros novos fãs é que determinou nossa longevidade. Além disso, a energia do Biquini ao vivo é a mesma – eu diria até melhor, graças à maturidade – que tínhamos no passado. Temos quase 50 anos, mas os garotos de 18 anos que começaram esta brincadeira continuam pulando firmes dentro de nós”, arremata o jovem senhor de 48 anos, que vê com satisfação toda a trajetória do grupo.

“Parece frase de palestra de auto-ajuda, mas a verdade é que todos os nossos erros e acertos nos levaram até onde chegamos. Não seriam erros, e, sim, desvios. Acho que o respeito entre nós, o respeito com nosso público, o respeito com contratantes de shows e pessoas de mídia, como você, foram importantes para o nosso caminho ser tão longo. Sem essa palavra (respeito), certamente não teríamos chegado até aqui.”

BIQUINI CAVADÃO

BIQUINI CAVADÃO

Neste sábado, às 23h

German

(Rua Roberto Stiegert 10 – São Pedro)

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