Talita Magnolo lança livro sobre revista Intervalo e cultura televisiva nas décadas de 1960 e 1970

Com linguagem voltada para o público geral, a obra reúne parte de seus estudos no mestrado e doutorado no Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Comunicação da UFJF


Por Elisabetta Mazocoli

09/09/2025 às 07h00

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(Foto: Arquivo pessoal)

A pesquisadora Talita Souza Magnolo publica o livro “A revista Intervalo e a cultura televisiva no Brasil (1960-1970)”, pela Editora Sulina.  A obra tem como foco as revistas brasileiras especializadas em TV e o seu papel na preservação da memória televisiva, com especial atenção à revista Intervalo, da Editora Abril, que teve circulação entre 1962 e 1973. Com linguagem voltada para o público geral, a obra reúne parte de seus estudos no mestrado e doutorado no Programa de Pós-graduação da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), com entrevistas, arquivo pessoal dos jornalistas da época e investigações feitas na hemeroteca digital da Biblioteca Nacional. O lançamento ocorre nesta quarta-feira (10), às 19h, no restaurante Madame Gevah.

A escolha de Talita pelo objeto de pesquisa começou por conta de sua própria curiosidade, ainda na graduação, quando quis estudar o Festival de Música Popular Brasileira de 1967 e o momento de efervescência cultural durante a pandemia de Covid-19. Quando começou o mestrado na UFJF, foi orientada pela professora Christina Musse a se aprofundar no festival a partir de um meio de comunicação. Naquele momento, começou a procurar produtos jornalísticos que cobrissem o festival, até que encontrou uma informação interessante: a revista Intervalo era a primeira revista a tratar sobre televisão com exclusividade. No entanto, ao seguir buscando informações, não encontrou estudos na área sobre a publicação. “Levei essa informação pra minha orientadora e ela falou que eu podia escolher outro meio ou investigar essa história. Eu fiquei muito curiosa e até inquieta com a falta de informação que tinha sobre a revista, e eu escolhi investigar”, relembra. 

Todo esse trabalho foi feito com os arquivos digitais da revista e, a partir deles, a procura pelos jornalistas que trabalhavam na redação. No diálogo com os profissionais, ela foi fazendo novas descobertas. “O que eu achei mais surpreendente foi a forma como a revista se relacionou com a televisão. Principalmente nos primeiros anos, ela buscava ser quase um espelho da programação televisiva”, explica, sobre a revista que ajudou a construir o que hoje chamamos de celebridades, fofocas e bastidores. Por meio dessa publicação, a pesquisadora também pôde compreender o comportamento do público. “Na época, o aparelho de TV ainda era muito caro. A maioria da população não tinha ainda em suas casas. Então, tinha muita gente que usava as revistas para obter informações do que estava na televisão, quais eram os artistas que estavam participando de programas, novelas e festivais de música”, diz.

Naquele momento, ela percebeu que tinha algo que interessava tanto aos acadêmicos quanto aos leitores da revista: “Desde que eu finalizei o doutorado, a banca encorajou a produção de um livro, porque o trabalho com a revista Intervalo é inédito. (…) Então, juntei as duas pesquisas, elenquei o que achava mais importante de trazer para o leitor. Minha ideia era deixar quase uma leitura literária, e para isso tirei esse viés muito acadêmico e científico, e deixei o que mais me tocou durante a pesquisa”, explica. A apresentação ficou a cargo da orientadora, Christina Musse, e o prefácio é da professora e pesquisadora Marialva Carlos Barbosa, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

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(Foto: Arquivo pessoal)

Imersa na redação

Com as 13 entrevistas que Magnolo fez ao longo da investigação, foi possível entender mais sobre a dinâmica dentro da Intervalo e as escolhas editoriais da revista. Foi a partir desses contatos que ela também conseguiu fotos da redação, cedidas por membros da equipe, e escutou relatos sobre  como eram as reuniões de pauta e as entrevistas que eles faziam, qual era o tipo de matéria que interessava à publicação. “Graças aos depoimentos e aos documentos digitalizados, consegui reconstruir cada fase da revista”, explica. 

A relação afetiva não era apenas do público com a revista, que abria o espaço para os leitores.  Ela também percebeu que as lembranças dos que trabalhavam lá eram repletas de carinho. “Quando a gente recupera a memória, estamos falando de algo de muito afeto e de saudade das pessoas. Todos eles, em algum momento, se emocionaram lembrando de colegas, momentos de cobertura e da redação”, explica. Para ela, isso é o “sabor agridoce” da nostalgia, ainda mais considerando que alguns desses jornalistas foram presos e torturados na ditadura. “Percebemos o quanto é importante entender todas essas relações construídas e a relação que eles mantinham no presente com algo do passado”, afirma.

 

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(Foto: Arquivo pessoal)

Memória para todos

Entendendo que o público do livro é maior do que o meio acadêmico, ela foi enxergando de mais perto a importância que a revista tinha para as pessoas — e que contar essa história também  poderia ter. “Por exemplo, eu divulguei o lançamento do livro no grupo do condomínio e descobri que uma das minhas vizinhas era leitora da Intervalo. (…) Ela se interessou porque despertou uma saudade dessa época”, conta.

Para além do nível individual, o que ela percebe na publicação e nesse diálogo com o público é a importância de preservação da memória em diferentes níveis: “Quando resgatamos algum meio de comunicação, também estamos resgatando pedaços da nossa história. Estamos alimentando o que chamamos de história oficial com essas outras narrativas históricas, que são tão importantes quanto. Vivemos em um país que ainda não tem políticas de memória, então lutamos muito para não ter os detalhes da nossa história esquecidos”.

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