Diálogo entre Museu Mariano Procópio e Pinacoteca de São Paulo

“Tiradentes supliciado”, de Pedro Américo, é um dos destaques
“Nesta mostra, o tema e o objeto é o próprio museu. Em 2009, iniciamos uma política extra-muros, que começou com a exposição ‘Nadar 35 Capucines’, realizada em parceria com o Museu de Arte Murilo Mendes, continuou com ‘Doce França’, em 2010, até ‘União Indústria uma estrada para o futuro’, em 2013. Agora, estamos em cartaz também com ‘Simetria e permanência’, na UFJF. Criou-se um novo conceito de exposição na cidade, com programação cultural, científica e educativa, gerando vários produtos. Mas todas as iniciativas estavam circunscritas aos limites do município. O museu é conhecido fora de Juiz de Fora somente por quem é do mundo dos museus”, sentencia Douglas Fasolato, diretor-superintendente do Mariano Procópio.
“Ele precisa romper estes limites e adotar prática muito comuns na Europa. Quando os museus estão fechados e até mesmo abertos, eles costumam circular por outros países ou estados para ganhar reconhecimento. Isso é fundamental, porque a missão do museu não é só expor. É também conservação, pesquisa e difusão do acervo. Isso mostra que temos uma coleção de relevância internacional. O brasileiro vai ter a oportunidade de compreender o processo de evolução da arte no país”, observa Fasolato, não descartando a possibilidade de o recorte se instalar em uma galeria juiz-forana no próximo ano. “Gostaríamos muito. Ainda que os custos sejam menores, porque já foi feita a restauração, dependemos de recursos.”
Diálogo entre acervos
As obras de “Coleções em diálogo: Museu Mariano Procópio e Pinacoteca de São Paulo” vão conversar com as do acervo de longa duração da instituição paulista. A proposta da curadoria, chefiada por Valéria Piccoli, é apresentar os trabalhos a partir de três pontos principais. “Quando vi o potencial do acervo do Mariano Procópio, fiquei superentusiasmada, porque percebi muitas intersecções entre a coleção de Juiz de Fora e a nossa. Esse diálogo, como diz o nome, se torna mais profícuo em torno da pintura de paisagem, da pintura de história, já que a pinacoteca é criada a partir da coleção do Museu Paulista, da USP, que é dedicado basicamente à história, e depois, no que diz respeito à emergência da mulher, seja como tema, seja como artista”, explica Valéria.
Os trabalhos de Nicolau Facchinetti, Henri Nicolas Vinet, Benno Treidler, assim como os dos brasileiros Hipólito Caron, Henrique Bernadelli, Rodolpho Amoêdo e Antonio Parreiras, estão dispostos na sala dedicada à paisagem brasileira. Os visitantes ainda poderão conhecer o legado dos portugueses Silva Porto e Queirós, do espanhol Pinelo Llull, além de rara pintura do francês Charles François Daubigny. Na seção da representação do feminino, Maria Pardos, João Batista da Costa, entre outros importantes nomes, evidenciam a mulher artista. Emblemático, a tela “Tiradentes supliciado”, de Pedro Américo, salta aos olhos de quem transita pela área localizada junto à sala “O ensino acadêmico”. “O retrato de Nair de Teffé (caricaturista esposa do presidente Hermes da Fonseca), de Georgina de Albuquerque, a obra ‘Recordações’, de Rodolpho Amoêdo, e a pintura de Belmiro de Almeida são excepcionais”, destaca a curadora.
Reconhecimento da riqueza juiz-forana
Sem conseguir estimar o gasto com a recuperação das cerca de 30 obras, a coordenadora do Núcleo de Conservação e Restauro da Pinacoteca, Valéria Mendonça, afirma que a iniciativa joga luzes sobre a riqueza dos objetos pertencentes ao Museu Mariano Procópio. “Poucas vezes a Pinacoteca teve essa conduta. Acho que o acervo do Mariano Procópio, junto ao do Museu Nacional de Belas Artes e o nosso, é um dos mais relevantes do Brasil, dada sua magnitude histórica e artística”, comenta a coordenadora, apontando para a necessidade de se preservar os trabalhos para as novas gerações. “As peças estão lindas e serão devolvidas assim para o museu. Elas precisam ter condições de guarda para que não precisem ser restauradas novamente dentro dos próximos 50 anos, porque isso as danifica. É como se fosse uma cirurgia.”
Para caracterizar o minucioso reparo executado na escultura de Rodolfo Bernadelli, intitulada “O Protomártir Santo Estevão” (1879), a restauradora recorre à palavra complexidade. Esculpida em gesso, em 67x60x172cm de obra especializada. “Terceirizamos um restaurador especialista em estruturas deste material. Não diria que tenha sido um trabalho difícil, já que haviam telas também bastante danificadas”, diz ela, que comanda o projeto desde abril.
“Restauramos e conservamos obra sobre papel, obra sobre tela, moldura e escultura. São trabalhos antigos, do século XIX, é normal que alguns estejam com problema. Uns são muito frágeis, outros nunca passaram por restauro antes. O fato de não ter uma equipe permanente de técnicos dentro de uma instituição faz com que o acervo se deteriore.”
COLEÇÕES EM DIÁLOGO: MUSEU MARIANO PROCÓPIO E PINACOTECA DE SÃO PAULO
Visitação de terça a domingo, das 10h às 17h30. Às quintas-feiras, até as 22h
Pinacoteca do Estado de São Paulo
(Praça da Luz 2 – Luz – Tel.: 11 3324-1000)
Grátis às quintas após às 17h e sábados o dia todo