‘Hiphop Ă© resistĂȘncia’
2ÂȘ edição do Festival Absurdo começa nesta sexta e vai atĂ© domingo, com programação na Praça da Estação, Casabsurda e Praça CĂU
Minha primeira matĂ©ria na Tribuna de Minas, publicada no jornal, foi sobre o Hiphopologia. Iniciativa da Chris Assis que contribui muito para espalhar a cultura hiphop em diversos meios, como uma forma alternativa de educação. Esse Ă© um tema muito caro para mim, que vez ou outra procuro me adentrar, ouvir os raps, ver os breaks e escutar o que essas pessoas tĂȘm a dizer quando se expressam em suas formas de arte. E se a palavra “cena” pode ser empregada em algum nicho cultural de nossa cidade, com certeza “cena hiphop” eu falo sem medo. Claro que tudo estĂĄ em constante construção. A tendĂȘncia Ă© essa conexĂŁo ser fortalecida, a partir do momento em que se aproximam todos os pĂłlos, toda a rapaziada que estĂĄ presente ativamente nos lugares em que dominam, emitindo poesia, dança, som, graffiti e, principalmente, trocando conhecimentos sobre suas vivĂȘncias.
Dessa vez, o Festival Absurdo Ă© o motivo do texto. A segunda edição marca a vigĂ©sima Roda Absurda, que Ă© realizada em parceria com o Encontro de Mc’s, uniĂŁo essa que muito reforça Daniel Dias, morador da casa. Ele veio de UbĂĄ para Juiz de Fora e conta que sua maior e melhor surpresa foi descobrir a galera do Encontro fazendo hiphop totalmente por amor. O Festival Ă© um marco de uniĂŁo de rodas que acontecem em regiĂ”es diversas da cidade, Ă© uma ação que vai juntar MC’s, DJs, B-Boys e B-Girls dos quatro cantos de Juiz de Fora e fazer com que muitos batalhem uns com os outros pela primeira vez. Esses encontros sĂŁo responsĂĄveis pelo surgimento de ideias e projetos. Naquele momento, um se depara com o trabalho do outro, acontece uma identificação, conversas e podem esperar novos grupos de MC’s, de break, poesia em conjunta, mĂșsica feat., projeto cultural em muitas mĂŁos.
A proposta ideal dessa festa, que na verdade Ă© uma celebração do hiphop em Juiz de Fora, Ă© provocar a nova geração para que despertem o interesse por essa manifestação cultural, Ă© por isso que o evento Ă© aberto a todas as idades. “A cena foi crescendo, foram surgindo outras rodas. Os meninos do Encontro agregaram todo mundo Ă essa cena. Esse Ă© um festival da cena hiphop de Juiz de Fora, que busca unir a cidade. Na real, isso Ă© o mais importante, jĂĄ que ninguĂ©m faz nada sozinho”, conta Daniel. E formar essa nova geração, aplicar a eles os conceitos principais dessa cultura de rua faz com que o desenrolar dessa histĂłria flua naturalmente e nunca acabe.
“Escuto dizer que o hiphop Ă© arma, mas para mim, o hiphop Ă© resistĂȘncia, porque aqui se bate com a arte. Trazendo e ensinando arte, fotografia, graffiti, dança e mĂșsica”
Daniel Dias, morador da Casabsurda.
A Amanda Messias, que serĂĄ a DJ na abertura, nesta sexta (7), Ă s 18h, na Parça da Estação, fala sobre a ampliação de espaço para as minas. Crescimento esse que aconteceu pelo impacto que elas estĂŁo tendo no hiphop como protagonistas do movimento. As mulheres estĂŁo saindo apenas do “backstage”, da divulgação, que sempre estiveram presentes, para se inserirem como artistas, assinando suas prĂłprias criaçÔes. Tudo isso Ă© consequĂȘncia do movimento feminista mundial que, em minha concepção de mulher, serĂĄ lido para sempre como a maior revolução do sĂ©culo e que jĂĄ estĂĄ transformando todo cenĂĄrio urbano, institucional, polĂtico, artĂstico, mesmo que ainda haja muita luta e voz para nascer. “As meninas tĂȘm perdido a vergonha de botar para fazer e criar. Antes tinham vergonha de mostrar, agora atuam como DJ, Mc e apresentadora. Paramos de ficar por trĂĄs para mostrar que tambĂ©m fazemos e sempre fizemos”, defende Amanda.
Uma atualização do Festival Absurdo em relação Ă primeira edição Ă© a ideia de montarem uma feirinha com 18 expositores, todos produtores de Juiz de Fora e regiĂŁo. A ideia Ă© ajudar parceiros que tĂȘm produçÔes independentes, como: garimpo de roupa, camisarias, doces, artesanatos, bijus, ilustraçÔes e mandalas feitas a mĂŁo.
O conceito de resistĂȘncia que aparece no vĂdeo teaser de divulgação do evento tem relação com a autonomia, independĂȘncia e autoralidade desse manifesto. “A palavra resistĂȘncia veio por ser um festival completamente independente, iniciativa nossa (…) tem relação tambĂ©m com a resistĂȘncia da cultura hiphop que ainda Ă© vista sob o olhar da marginalização, jĂĄ que acontece nas ruas, nas praças, e sempre ocupa os espaços pĂșblicos”, esclarece Amanda, que alĂ©m de DJ, tambĂ©m Ă© moradora da Casabsurda.
Tudo acontecendo no agora
Nesta sexta, das 18h Ă s 22h, aberta a todos e de forma gratuita, acontece a Batalha Slam. Uma batalha de poesia sem batida, sampler e DJ. Os poetas colocam para fora sua arte sem uso de nenhum artifĂcio tecnolĂłgico, apenas a poesia pela poesia. A fala, a performance e a interpretação sĂŁo os critĂ©rios de avaliação desse momento que tem tudo a ver com o quinto elemento do Hiphop: o conhecimento. AlĂ©m da discotecagem da Amanda, terĂŁo apresentaçÔes circenses, graffiti sendo feito ao vivo e o lançamento de uma mixtape.
No sĂĄbado (8), a locação desse encontro Ă© a prĂłpria Casabsurda 703 (Rua BarĂŁo de Santa Helena, n° 703, Bairro Granbery). Livre para qualquer pessoa pelo valor de R$ 10 a partir das 15h. A abertura Ă© com o Mc Ramonzin, que virĂĄ do Rio de Janeiro para se apresentar no evento, ao som das batidas do DJ Miranda, de Juiz de Fora. Em seguida Ă© a vez de um grupo da Zona Norte da cidade, o Rastreados Mc’s. TambĂ©m acontece a final da esperada batalha de Mc’s, com finalistas de rodas de todas as regiĂ”es da cidade. DJ Anditaum Zumbreak tambĂ©m mostrarĂĄ seu som, intercalando com o Miranda que convidarĂĄ o grupo Sbsete para uma apresentação em conjunto.
JĂĄ o domingo (9) Ă© especial para as b-girls e b-boys, e o evento acontecerĂĄ em Benfica, na Parça CĂU, começando tambĂ©m Ă s 15h com batalha de break, DJ Gustavo FlowKilla, performance free style da Leticia Livramento e, claro, as banquinhas, que acompanharĂŁo os trĂȘs dias de festival. A entrada Ă© gratuita e para todas as idades.