‘Ozzy Osbourne dos miseráveis’: Tuka celebra 40 anos de carreira
Confira a entrevista da Tribuna com o rockeiro juiz-forano

Faz 40 anos que o autoproclamado “Ozzy Osbourne dos miseráveis” agita a cena do rock juiz-forano e da Zona da Mata Mineira. Seu nome é Douglas Esterce, tem 58 anos, e é mais conhecido como Tuka. Já se apresentou em frente a um estábulo, e já tocou para mais de 75 mil pessoas, dentre tantos outros episódios. São 40 anos de estrada, de algumas várias contradições e, principalmente, de rock.
A Tribuna conversou com Tuka, vocalista da Tuka’s Band, para saber mais sobre o início da banda, o que o rock significa em sua vida e, claro, algumas histórias da trajetória que começa em 1985, mas decola em 1987.
Confira a entrevista na íntegra com Tuka
Tribuna: Como foi o início da banda?
Tuka: No início éramos meio death metal com punk. Chamávamos Revoltz Total. Era época do Collor, início da República, todos contra a ditadura. Fizemos nosso primeiro show em 1987. Depois que fizemos uma apresentação no Parque Halfeld xingando todo mundo, cantando “Bomba pra acabar com o mundo”, recebemos um convite para tocar em Leopoldina. Mesmo que minha carreira seja anterior, esse é o marco da banda. Tinha um cartaz lá escrito Tuka com C, pedi para mudar, parecia demais banda de forró escrito dessa forma. Inclusive, Tuca Lima, amigo meu de Santos Dumont e cantor de forró, foi fazer um show e um espectador confundiu o Tuka com Tuca. O que ele escutou de metal foi só no triângulo (risadas).
E como foi esse show em Leopoldina?
Cara, acho que eles nunca tinham visto alguém cabeludo que nem a gente. Tocamos no Bar Ferro Velho. O produtor fez uma propaganda grande, que éramos a melhor banda do mundo. Enganamos todo mundo (risadas). Estava lotado, rock pegando naquela época. A Tuka’s Band nasce como todo mundo conhece nesse contexto, no Dia do Rock (13 de julho).

Além dessa apresentação, quais foram as mais marcantes?
Não é querendo ser piegas, falando como jogador de futebol, mas todo o show é importante. Temos mais de 2500 apresentações. São 40 anos. Conto até os shows fuleiros. Mas é legal, já rodamos muito. Alguns lugares parecem ter um caso de amor com a gente, pessoal pede para chamar o “cabeludo”, que o pessoal gosta, o prefeito vai na padaria e o pessoal cobra (risadas).
Mas agora, depois da resposta de jogador de futebol, não teve nenhum que te marcou mais?
Foi em Guarapari (ES). Lá tocamos para o maior número de pessoas, se não me engano. Eram mais de 75 mil, em um festival de motoclubes. Foi muito recíproca a troca, parecia que eles estavam vendo um Iron Maiden. A estrutura era espetacular, tivemos muito apoio. Lá tivemos um upgrade. Mas toda cidade é importante. Outro show marcante foi em um palco logo na frente de um estábulo. Tocamos durante 3h30.
Você já rodou por várias cidades, né?
Fazemos esses shows em cidades pequenas para “evangelizar”, é uma dívida de gratidão com o rock. Se não fosse o rock não teria nada na vida. Nem sei onde estaria. Nem mãe, nem pai, o rock foi para mim ambos. Tocar nessas cidades é legal para mostrar que o rock não é esse demônio que as pessoas pintam. Agradeço sempre também ao pessoal dos motoclubes, que apoiam nosso trabalho. Tenho muita gratidão por eles também.
Como assim evangelizar?
Mostrar o que o rock tem, por meio dos shows: atitude, rebeldia e energia. Mostrar que no rock todo mundo é igual, todos lutamos pelo rock and roll. Temos que lembrar que o rock vem de pessoas negras: Chuck Berry, Sister Rosetta, Muddy Waters, BB King, Robert Jones. O rock não teria nem graça sem eles. Tem gente de todo o tipo no rock.
E o que o rock é para você?
Mais importante que meus filhos.
Voltando aos shows, você sente que o pessoal se conecta mais onde?
Nosso repertório é muito vasto, mas sinto que o pessoal gosta dos clássicos: Guns and Roses, “Era um garoto como eu”, Led Zeppelin, Pink Floyd, Raul Seixas, essas coisas todas. Mostramos para molecada nova esses sons. Tem muita gente boa, na vanguarda, mas fazer música é difícil. Se fosse fácil, todo mundo faria. Por isso todo mundo joga bola, é fácil. De bola eu era bom, era craque, de músico não sou quase nada. E tem gente muito melhor que eu, e não é conhecida.
Nesses 40 anos de atividade, imagino que sejam muitas histórias.
Com certeza. Já fui confundido com o cantor Ovelha. Mas tem uma mais legal, nesse sentido: uma vez fomos tocar em uma mesma casa que o Barão Vermelho, que ainda não era tão conhecido na época. Chegamos no hotel e perguntaram se nós erámos o Barão. Falei que sim. Não tinha internet para conseguir comprovar na hora o engano (risadas). Ficamos em um hotel maneiro, aproveitamos um café da manhã maneiro. Só que nisso, um cara foi na mesa do Neguinho da Beija Flor, que estava por lá também, e disse: “ali o Barão Vermelho”, e ele respondeu: “Que Barão o cacete, eu conheço os caras por causa da gravadora. Nem sei quem esses caras são”. Resolvemos a situação, depois até voltamos para o hotel.
Como você vê o cenário do rock nacionalmente e na região da Zona da Mata?
Vai caminhando. Temos o Black Pantera, Sepultura, Angra. Acho que o rock caminha, mesmo com uma brecada.
E nesses 40 anos, o que falta?
Sinto que a cidade, às vezes, tem me abandonado. Depois de 40 anos ter que entrar em sorteio, depois de tudo que fiz pela música. Me sinto um pouco desprestigiado. Criei uma identidade, sempre falei da cidade. Aqui é um lugar com muita gente boa, com muita diversidade musical e de ritmos. O artista que está há mais tempo poderia ser valorizado. Pouco me chamam para esses eventos grandes. Sou louco para tocar no Cine-Theatro Central, fazer um acústico com orquestra. Não me deram uma chance, ainda.
*Estagiário sob supervisão da editora Cecília Itaborahy