Carnaval de todos os sons

Bloco Toca Rauuul, do Rio de Janeiro, presta reverência ao baiano Raul Seixas hoje

Meu Concreto Tá Armado, que desfila amanhã, terá vários convidados para o carnaval deste ano
Carnaval tem samba. E marchinha. E escolas de samba. Surdo, tamborim, pandeiro, cuíca, agogô. Blocos de carnaval. E rock, reggae, frevo, axé, ijexá, maculelê, MPB: tudo depende da disposição de quem quer cair na folia até tudo se acabar na quarta-feira, independentemente do ritmo que anima a folia. Em Juiz de Fora, alguns blocos da cidade já vêm misturando outros sons, batidas e pulsações há alguns anos, arrastando um monte de gente pelas ruas da cidade, e este ano não poderia ser diferente. Dentre a galera que gosta de cruzar referências, estão os blocos Meu Concreto Tá Armado e o novato Grajamaica, que se apresentam no sábado; e o Parangolé Valvulado, no domingo. Vindo além da fronteira, os cariocas Toca Rauuul e Bloco Pra Iaiá vão ajudar a mostrar que o carnaval também abre espaço para os bambas Raul Seixas, Los Hermanos e Bob Marley, entre outros.
A primeira atração a cruzar as fronteiras musicais no carnaval 2015 se apresenta nesta sexta-feira: é o Toca Rauuul, do Rio de Janeiro, que se apresenta na Praça Antônio Carlos às 20h30. Ele foi criado em 2011 por um grupo de amigos que – obviamente – era fã do cantor e compositor baiano, morto em 1989. Com figurinos que lembram o “maluco beleza”, eles arrastam milhares de fãs na cidade carioca ao som de clássicos e músicas poucos conhecidas de Raulzito, entre elas “Carimbador maluco”, “Metamorfose ambulante” e “Não pare na pista”, embalados por ritmos como frevo, maracatu, ska, reggae e baião, entre outros, sem se esquecer da vitalidade do rock and roll.
O sábado começa logo cedo, às 11h, com o Meu Concreto Tá Armado se reunindo na Praça do Bairro São Mateus. Criado em 2007 por estudantes de arquitetura e engenharia da UFJF, o tema deste ano será “Meu concreto em movimento”, tendo em vista a questão da mobilidade urbana. Como explica um de seus integrantes, Lucas Soares, o bloco vem introduzindo novos ritmos à sonoridade da Bateria Nota 3 já há alguns anos. “Nós estamos com essa pegada mais afro, misturando os sons de Minas e do Nordeste como maracatu, frevo, congo e ijexá ao batuque do samba. Como sou também coordenador do Ingoma, que faz a pesquisa desses ritmos afro, foi natural que essa sonoridade fosse somada, ainda mais que alguns integrantes do blocos também são influenciados por ela”, explica. Entre as músicas do repertório do bloco, estão “Mamãe Oxum”, “Nem ouro, nem prata”, “Pagode russo”, “Eu quero é botar meu bloco na rua” e “Maracatu atômico.”
Este ano, o Meu Concreto Tá Armado também vem com novidade. Foram convidados a participar do evento o DJ Pedro Paiva, do projeto Vinil É Arte, o projeto Discontrole, de Anderson Fofão e Bruno Tuller, e Marcelo Castro, da banda Silva Soul. Eles se encarregarão da discotecagem em vinil durante o dia, quando a bateria não estiver tocando. O Grupo Ingoma também vai se apresentar no local. “A proposta do bloco é ser uma opção cultural dentro do carnaval”, destaca Lucas.
Novatos e veteranos
Ainda no sábado, às 16h30, o bloco de carnaval Grajamaica faz sua primeira participação na folia reunindo os moradores do Grajaú na Praça Pedro Batista Martins. Um dos idealizadores, Gustavo Monteiro, diz que o Grajamaica é uma ação entre amigos que começou com a pretensão de homenagear um primo dele, morto em um acidente no ano passado. “Meu primo, assim como a gente, gostava de reggae, e o bairro em que moramos (Grajaú) estava sem eventos para o carnaval. Então resolvemos criar o Grajamaica fundindo essas coisas, o bairro, o reggae e o carnaval”, conta. “Como não tínhamos experiência, não pedimos auxílio à Prefeitura, mas alguns estabelecimentos ajudaram financeiramente.”
Gustavo lembra, ainda, que a festa vai ser marcada pela mescla do samba com o reggae e os dois ritmos sendo executados separadamente pela banda que vai se apresentar, além de outros ritmos como o axé. O grupo de reggae Nagô também vai fazer o seu show.
Já tradicional na folia juiz-forana, o Parangolé Valvulado se apresenta no domingo, às 16h, na Praça da Estação, homenageando o Clube da Esquina. Nos anos anteriores, foram homenageados artistas como Arnaldo Baptista, Mussum, movimentos como a Tropicália e a galera da música brega. Integrante do grupo, Edson Leão explica que eles compõem seus frevos-enredo misturando elementos do rock, do maracatu e do funk, entre outros. “No caso do Clube da Esquina, a primeira dificuldade foi a questão da letra, porque estávamos acostumados a trabalhar com temas que davam mais espaço para a irreverência, e o Clube da Esquina é mais poético, introspectivo, então tivemos que dar um novo tratamento. E vai ter uma brincadeira com os Rolling Stones em ritmo de carnaval, vamos interpretar ‘Start me up’.”
Todo samba tem Los Hermanos
A Praça Antônio Carlos será palco na terça-feira, às 20h30, do carioca Bloco Pra Iaiá. Um dos seus fundadores, Rodrigo Xavier lembra que a ideia surgiu em 2010 mas só começou a ser colocada em prática em 2013, com o primeiro desfile acontecendo em 2014. No repertório, canções do Los Hermanos, que ficou conhecido ainda nos anos 90 por incluir os ritmos do carnaval no rock feito pelo grupo. “Eu e meu irmão Rafael começamos a desenvolver a ideia do bloco, e convidamos alguns amigos que tocavam em outros blocos. Nós gostamos de carnaval desde crianças e amamos a banda também, que sempre teve uma ligação com o universo do carnaval desde o primeiro disco. Pensamos: ‘aqui tem uma conversa que funciona’.”
Projeto idealizado, eles trataram de entrar em contato com representantes da banda para terem autorização de tocarem os Hermanos na folia, e o aval foi conseguido. “No nosso primeiro carnaval, em 2014, o Marcelo Camelo (um dos ex-integrantes) anunciou pelo Facebook que teria o bloco, chamou a galera para ir, ficamos muito felizes com isso”, conta. No palco, o Bloco Pra Iaiá não promove a releitura do Los Hermanos tendo apenas o samba como base: eles também incluem na receita maracatu, xote, funk, samba, marchinha, ijexá e o maculelê, entre outros ritmos.
“É um processo complexo você fazer arranjos diferentes para as músicas. Demora um pouco, ainda mais com uma bateria composta por mais de dez pessoas”, diz ele. Entre os sucessos do grupo que o público poderá conferir, estão “O vencedor”, “Um par”, “O vento”, “Sentimental” e “Ana Júlia”. “Teremos algumas novidades, mas posso adiantar que vamos tocar ‘Descoberta’ pela primeira vez. Ah, e o Babu (trompete) e o Pimenta (trombone), que foram músicos de apoio do Los Hermanos, tocam com a gente”, encerra.