Fórum da comunidade científica brasileira realiza evento em parceria com a UFJF
Evento, considerado o mais importante do setor, reúne pesquisadores de todo o país para proporcionar uma visão ampla da ciência produzida no Brasil
Pela primeira vez, a UFJF será parceira na realização da 73ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), evento que reúne pesquisadores de todo o país para proporcionar uma visão ampla da ciência produzida no Brasil, por meio de conferências, mesas-redondas, webminicursos, painéis e sessões de bate-papo, que ocorrerão on-line, em função da pandemia. Com a prorrogação das inscrições, os interessados podem se cadastrar nos webminicursos até o dia 18 de julho. A programação preliminar e as inscrições podem ser acessadas no site da SBPC.
Segundo a vice-reitora da UFJF, Girlene Silva, a realização do evento, mesmo sem a possibilidade de ocorrer de forma presencial ou híbrida, representa uma sinalização clara do compromisso dos pesquisadores com a população brasileira. “Mobilizar a comunidade científica para organizar a 73ª Reunião Anual, mesmo em um momento de cortes orçamentários severos, que deixa claro a negação da importância da ciência pelo governo, é reafirmar nosso compromisso com a população e demonstrar como o investimento em pesquisa é fundamental para a melhoria das condições de vida”. Essas melhorias, segundo ela, se referem à educação, à criação de empregos, à moradia, à acessibilidade e também às garantias de necessidades especiais da população.
A diversidade de temas, segundo Girlene, demonstra que a 73ª Reunião Anual da SBPC está antenada, articulada e sensível às necessidades reais da população. Eles ajudam também a fazer uma prospecção, para que a sociedade possa se preparar não só para o momento atual, como antecipar eventos. O que permite um enfrentamento mais acertado, possibilitando evitar intempéries como a que vivemos atualmente. “No contexto de uma pandemia, poderíamos, como nação, ter enfrentado, não sem dificuldades, mas de forma mais tranquila se tivéssemos incorporado tudo aquilo que já foi produzido em relação à proteção anti-infecciosa, por exemplo.” As expectativas, segundo a pró-reitora, são de que o evento propicie bons encontros, bons debates e traga boas perspectivas.
Webminicursos
Entre as abordagens do webminicursos, estão: “Desenvolvimento em um mundo pós-pandêmico: integrando as visões da economia e ecologia”; “Violência contra a mulher: gênero, estereótipos e parceria íntima”; “Eu comia e não sabia: físico-química de alimentos e processos”; “Ciências da comunicação vs. Desinfodemia: estratégias de educação para as mídia . Ao todo, são 34 cursos, voltados não apenas para a comunidade acadêmica e científica, mas também para qualquer interessado.
Entre os temas previstos na versão preliminar da programação das conferências, estão: “A importância da divulgação científica na pandemia”; “A obra de Paulo Freire”; “Covid-19 e os desafios do complexo econômico-industrial da saúde no Brasil”; “Prêmio Nobel de Física (SBPC)”. O evento ocorre entre os dias 18 e 24 de julho e traz no conteúdo programático atividades voltadas para o público jovem e infantil e também destaca apresentações culturais de artistas e grupos locais.
Instigar o interesse pelos conhecimentos
O professor do Departamento de Ciências da Computação da UFJF, Rodrigo Weber, que é membro do Comitê de Programação da 73ª Reunião Anual ao lado do professor Nathan Barros, conta que se lembra da primeira vez que participou do evento, quando estava na graduação. Ele ressalta que o tratamento interdisciplinar dos assuntos é um dos principais destaques que a iniciativa possui.
“A SBPC abraça todos os saberes. É um evento realmente singular, que conta com palestrantes que são extraordinários tanto na ciência brasileira, quanto na ciência mundial. É o reconhecimento também da grande excelência desses profissionais. Nesse ano, inclusive, temos uma conferência com um professor premiado com o Nobel recentemente.”
A experiência de atuar como um dos responsáveis pela montagem da programação, segundo Weber, foi muito interessante e muito difícil, por conta das centenas de propostas recebidas, que precisam abranger a um público amplo e atender à diretriz da multidisciplinaridade. “A ciência e a pesquisa estão no nosso dia a dia e são extremamente importantes. Há painéis e conferências sobre a Covid e seus impactos em setores como educação, saúde e economia. Há atividades pensadas para jovens, para educadores. É um evento feito por muitas mãos e concentra um esforço enorme da comunidade científica para fazer a exposição de típicos de grande interesse para os brasileiros”.
Reafirmação política da relevância da ciência brasileira
Além de representar uma dimensão ampla de temas, há também a integração e troca entre pesquisadores de diferentes locais. Há um controle da SBPC sobre o formato das mesas, o tipo de conferência, justamente para contemplar as diferentes contribuições distribuídas pelo país. Tanto que, segundo a pró-reitora de Pós-graduação e Pesquisa da UFJF, Mônica Ribeiro, a escolha da parceria para a realização do evento gera expectativa semelhante à escolha do país sede da Copa do Mundo.
“Foi um ganho muito grande nosso ter entrado e vencido essa concorrência. Conseguimos a prioridade, com a proposta que apresentamos, e sabíamos que isso teria um impacto muito grande para a cidade e para a região.” Mônica salienta que, geralmente, as parcerias são feitas com universidades de capitais, então, por poucas vezes, as instituições mais interiorizadas, como a UFJF, tiveram a oportunidade de sediar a 73ª Reunião da SBPC.
“Teríamos feira de negócios e pensamos em cerca de oito mil pessoas circulando pelos hotéis e circuitos turísticos, além de movimentar o comércio. Mas o país não deu conta da vacinação. Não será possível oferecer parte da programação presencial, mas ela ocorre em ambiente on-line, da melhor forma possível”, afirma a pró-reitora.
Nesse sentido, a programação se encaixa no momento em que estamos vivendo. “Demonstra que todos nós, enquanto sociedade humana, com as nossas competências, temos que ajudar a ultrapassar esse momento”, diz Mônica. O fio condutor que percorre toda a programação desse ano, é focado no mote: “Todas as ciências são humanas e essenciais à sociedade”.
Para a pró-reitora, além de reforçar que todas as áreas são importantes, não só o conhecimento relacionado às ciências da tecnologia, ou as áreas de exatas, mas também as que levam em consideração os impactos sociais, as políticas, que também medem os problemas da sociedade por outros enfoques. Mas além disso, a temática escolhida reitera a relevância das ciências humanas. “Nesse atual governo, elas acabaram sendo muito questionadas, perderam muito espaço nas agências de fomento. E passaram a ser vistas e consideradas em dimensão menos importante. Essa foi uma reafirmação política das humanas e sociais aplicadas dentro do contexto atual do governo.”
Políticas públicas
Há, segundo a pró-reitora Mônica Ribeiro, outro importante aspecto que deve ser levado em consideração a respeito da 73ª Reunião da SBPC, que é a possibilidade de reunir diferentes dimensões e leituras sobre os problemas e desafios da população e embasar a construção de políticas públicas. A intenção é mudar e intervir na coletividade.
Os dados podem embasar as políticas públicas, de modo que toda essa produção de conhecimento possa induzir benefícios em setores como Educação, Economia ou qualquer outra área. “É vital produzir conhecimento e dados para apontar para onde devem seguir as políticas públicas, e esse é um momento em que os pesquisadores vão se encontrar, justamente, para trazer a luz e divulgar suas pesquisas e daí as grandes reflexões que podem surgir a partir disso.”
Por fim, há a necessidade de popularizar o interesse pela ciência. “Precisamos lembrar que ciência não é apenas para eleitos. Ela tem que estar na sociedade, ela é feita para a sociedade, para impactar e mudar. De certa forma, ela conversa com o grande público. Tenho clareza de que algumas mesas foram pensadas com esse ponto de vista.” O que permite a participação de qualquer indivíduo, sem a necessidade de fazer parte dos círculos universitários.