Vias de mão dupla têm trânsito saturado
O crescimento da frota em Juiz de Fora, na média de 8% ao ano, segundo a Settra, deixa ainda mais evidente a saturação de algumas vias de mão dupla. Corredores importantes, como as ruas São Mateus e Dom Silvério, já são alvos de estudo para se tornarem mão única, devido ao trânsito intenso de veículos. Em vias menos movimentadas, o problema da mão dupla ocorre quando há carros estacionados em um ou nos dois lados, complicando o trânsito. A Rua São Mateus, no bairro homônimo da Zona Sul, talvez seja um dos maiores exemplos de saturação. Em quase 1,5 quilômetros de extensão desse importante corredor de passagem e que apresenta grande adensamento comercial e populacional, um dos principais problemas é o grande fluxo de carros de passeio e veículos pesados nas duas pistas. Há anos os governos municipais, moradores, comerciantes e especialistas em trânsito discutem a viabilidade de transformá-la em mão única, formando um binário com a Avenida Presidente Itamar Franco ou com vias adjacentes. Hoje o projeto está sendo avaliado pela atual Administração Municipal e depende de liberação de recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), ao qual a proposta foi incorporada. Enquanto isso, a dificuldade dos técnicos da Settra é manter o projeto atualizado.
"Esta obra envolve muitas desapropriações. São locais em que até o ano passado não havia muitas construções, mas agora têm. É uma área que muda muito de um ano para o outro. Mas a situação do trânsito na Rua São Mateus está muito complicada. Teremos que tomar uma medida rápida", diz a subsecretária Operacional de Transporte e Trânsito, Iza Machado.
Há cinco anos, quando se mudou para a Rua Guaçuí, no São Mateus, a fisioterapeuta Mônica Almeida Marcelino buscava um local tranquilo, mas que pudesse ter acesso fácil ao comércio do bairro. "Mas agora eu tenho ficado cada vez mais agarrada no trânsito da Rua São Mateus. Dependendo do horário, já não compensa sair de carro, mas também não é tão perto para ir à pé todo dia." Ela acredita que a mão única pode dar mais fluidez ao trânsito, mas a medida seria apenas um paliativo. "O importante seria investir em transporte público de qualidade para que a gente tenha como deixar o carro em casa."
A diretora administrativa do Colégio São Mateus, Marly Santana, já não é tão esperançosa quanto aos benefícios que a mão única poderia trazer. "Os pais não conseguem local para parar enquanto buscam os filhos nos horários de entrada e saída. Eles me cobram uma solução, mas não sei o que fazer. Antes, eles podiam parar na Rua Araguaia, mas agora o estacionamento foi proibido em um dos lados, e os agentes de trânsito e policiais militares estão multando quem para ali. Vou acabar orientando os pais a pararem na própria São Mateus para embarque e desembarque, o que vai agarrar o trânsito." Amanhã (segunda), a diretora pretende procurar a Settra para buscar uma solução.
Dom Silvério
Ainda na Zona Sul, há estudos para transformar em mão única a Rua Dom Silvério, importante ligação entre os bairros Alto dos Passos e Santa Luzia. Neste caso, os motoristas seguiriam no sentido Centro/Bairro, e a via formaria um binário com a Avenida Rio Branco, utilizando ainda as ruas Chácara e Ibitiguaia. Em geral, para os comerciantes da região, a proposta é positiva, uma vez que na Rua Dom Silvério quase não há vaga de estacionamento, e a transformação em mão única poderia abrir essa possibilidade. Apesar de as ruas perpendiculares terem oferta de vagas, o movimento na região dos bares do Alto dos Passos é grande e está perto da saturação.
Há pouco mais de um ano instalada na Dom Silvério, a loja do Brownie do Rapha tem atraído grande público para o local, principalmente nos finais de semana. "Tornar a rua mão única e criar vagas de estacionamento seria muito bom para nossos clientes, que às vezes só encontram vaga em ruas mais distantes", diz o funcionário Athos Corrêa. "Além de dar condições de estacionamento, a mão única subindo a rua poderia dar mais segurança durante a travessia dos clientes que vem à pé. Hoje, com o fluxo dos dois lados, é muito perigoso atravessar a Dom Silvério. Perco muita venda por causa disso", completa a proprietária da Requinte Mercearia, Regina Mattos Imbroisi, que há 22 anos trabalha no ponto.
Embora a implantação da mão única neste local seja mais fácil do que em São Mateus, a subsecretária Operacional de Transporte e Trânsito, Iza Machado, recomenda cautela. "Uma das vantagens da mão única realmente é facilitar a criação de vagas de estacionamento. Mas temos que avaliar também o fluxo de veículos. Porque, se o trânsito já estiver muito saturado, criar estacionamento pode acabar atraindo mais caros para aquela área e complicando ainda mais o trânsito."
Ruas estreitas não comportam sentidos opostos
Algumas ruas menos movimentadas também apresentam problemas com o tráfego em mão dupla. Na Rua Jovino Ribeiro, no Bairu, Zona Nordeste, é impossível dois carros trafegarem ao mesmo tempo em sentidos opostos. Isso porque um dos lados da via é tomado por veículos estacionados e que ocupam mais da metade da pista de descida. Na última sexta-feira, a Tribuna flagrou uma situação que moradores relatam ser rotineira (ver vídeo acima): dois carros que subiam a via tiveram que dar ré para que um caminhão que descia pudesse seguir. "Agora você imagina a quantidade de acidentes que a gente vê acontecer aqui", desabafa o aposentado José Hamiltom de Oliveira.
As partes altas das ruas Oswaldo Aranha e 21 de Abril, no São Mateus, e Machado Sobrinho, no Alto dos Passos, têm o mesmo problema. Devido aos carros estacionados nas pistas de descida, os motoristas constantemente precisam encostar o carro para que outros em sentido contrário consigam passar. Para estes casos, a solução apontada pela subsecretária Operacional de Transporte e Trânsito, Iza Machado, é a fiscalização, para evitar que motoristas parem em locais proibidos. "Tentamos fiscalizar, mas nosso contingente é muito baixo para atender à cidade toda. Temos pouco mais de 40 agentes."
Outro problema que algumas vias de mão dupla enfrentam na cidade são trechos de afunilamento da pista, deixando espaço insuficiente para a passagem de dois veículos e, como consequência, aumentando o risco de acidentes. Exemplos disso estão nas ruas José Lourenço, que liga o São Pedro ao Borboleta, e a Rua da Bahia, no Poço Rico, que necessitam de intervenções mais complexas.
‘Não há outra solução’
Para o especialista em trânsito Sebastião Pires de Camargos, não há outra alternativa para a Rua São Mateus senão deixá-la em sentido único, formando binários com outras vias. "Isso melhora o espaço físico para os veículos, evita colisões frontais, permite criar mais áreas de estacionamento e deixa mais segura a travessia para os pedestres." Sobre a Dom Silvério, o especialista acredita que é preciso avaliar os impactos em outras ruas antes de decidir pela mudança. Ele lembra que ruas e avenidas que se tornaram mão única nos últimos anos conseguiram melhorar a fluidez, como é o caso da Getúlio Vargas, Brasil, Rui Barbosa e Governador Valadares.
A subsecretária Operacional de Transporte e Trânsito, Iza Machado, concorda que a implantação da mão única tem sido utilizada em várias cidades como uma forma barata de aumentar a capacidade das vias e criar vagas de estacionamento, mesmo que isso desagrade aos motoristas que precisam rodar mais. Porém, ela reforça que é preciso avaliar os impactos do tráfego nas ruas vizinhas: "Porque os veículos que passariam pela mão eliminada terão que trafegar em algum lugar", lembra. "Com o Plano de Mobilidade Urbana em curso, temos uma preocupação em não fazer ações isoladas. Uma das premissas do plano é apresentar soluções de médio e longo prazo e ações que abranjam o maior raio possível."