Embalagens de leite interferem no desperdício


Por NATHÁLIA CARVALHO

29/11/2015 às 07h00

O farmacêutico Igor Rosa Meurer analisou todas as embalagens encontradas no mercado (Marcelo Ribeiro/24-11-15)

O farmacêutico Igor Rosa Meurer analisou todas as embalagens encontradas no mercado (Marcelo Ribeiro/24-11-15)

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Quando a caixa de leite chega ao fim, é normal a gente ficar sacudindo a embalagem em busca das últimas gotas. Mas será que, no final das contas, conseguimos aproveitar realmente todo o conteúdo ofertado naquele recipiente e que pagamos por ele? Pesquisa recente lançada pelo farmacêutico juiz-forano Igor Rosa Meurer, de 27 anos, mostra que não. Conforme o trabalho, tema de sua dissertação de mestrado em Ciência e Tecnologia do Leite e Derivados pela UFJF, o design das embalagens influencia diretamente no desperdício do produto. Para se ter uma ideia, entre os casos mais graves, houve uma perda de quase 1,5% do litro de leite UHT (14,7ml), em um teste realizado sem a agitação final da embalagem (ver quadro).

O número pode parecer pequeno, mas para se ter uma noção do problema, caso sejam vendidos um bilhão de litros de leite neste tipo de embalagem, o desperdício, sem a agitação final da embalagem, seria equivalente a 14,7 milhões de litros de leite. Em 2012, foram vendidos mais de seis bilhões de litros de leite UHT no Brasil, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Leite Longa Vida (ABLV).

O farmacêutico explicou que a ideia da pesquisa surgiu no próprio cotidiano. Além da questão do desperdício, outros fatores, como o direito do consumidor e a questão ambiental, influenciaram na justificativa do projeto. “Se o leite desperdiçado entrar em contato com cursos d’água ele se torna poluente para esse meio devido a sua alta demanda bioquímica de oxigênio (DBO), causando danos ambientais. Além disso, vale ressaltar que o cidadão tem o direito de consumir todo o leite comprado e o design da embalagem não pode impedir isso”, explica.

Modelos variados

Para entender a influência do design da embalagem no desperdício de leite, Igor realizou uma pesquisa nos estabelecimentos comerciais de Juiz de Fora e identificou a existência de dez tipos diferentes de modelos, caracterizados pelo material, abertura e dimensões. A partir desses dados e de testes preliminares, ele desenvolveu uma metodologia para quantificar o desperdício de leite nesses diferentes tipos de embalagens, levando em consideração a influência ou não dos consumidores na tentativa de retirar o leite retido no interior da embalagem. “A ideia foi quantificar esse desperdício em duas situações, sendo uma com agitação final, na tentativa de retirar o leite que fica retido no interior da embalagem, simulando o que alguns consumidores fazem, e a outra sem a agitação final, ou seja, sem a influência do consumidor.” A pesquisa demonstrou que a agitação final contribui para a redução do desperdício de leite em todos os tipos de embalagens.

Conforme o resultado da pesquisa, entre os fatores que influenciam no escoamento do leite e, consequentemente, no seu desperdício, estão dobraduras, formas de rompimento do lacre, ondulações e formatos das embalagens. O trabalho, realizado no Laboratório de Análise de Alimentos e Águas da UFJF, também constatou que faltam informações nas próprias embalagens de como reduzir esse desperdício. Conforme o pesquisador, não existe ainda uma legislação que delimite a quantidade permitida de desperdício nestes casos. “Enviamos o trabalho para a Anvisa, a fim de que seus resultados sejam analisados”, explica.

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