Ventos de quase 100km/h causam destruição em Juiz de Fora


Por Juliana Netto

28/12/2016 às 09h00- Atualizada 28/12/2016 às 19h41

Atualizada às 19h42

Um forte temporal que caiu sobre Juiz de Fora na noite desta terça-feira (27) fez estragos em vários pontos da cidade. Lama, lixo e árvores ainda podem ser observados em diversas ruas. No Campus da UFJF, onde estão instalados os equipamentos do 5º Distrito de Meteorologia, a velocidade dos ventos chegou a 62 quilômetros por hora no início do temporal. No entanto, conforme informações dos meteorologistas do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), as rajadas, não captadas pela estação automática no momento exato do temporal, chegaram aos 98,6 quilômetros por hora. Em apenas uma hora, a concentração de chuva na universidade chegou a 43,6 milímetros. Já pluviômetros do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), operados pela Defesa Civil, apontaram média de 38,81 milímetros na cidade. Em alguns bairros, no entanto, a concentração foi bem mais intensa do que a média. São Pedro foi o ponto com maior volume, com 86,87 milímetros. Em seguida, apareceram Aeroporto, com 69,47 milímetros, e Passos Del Rei, com 69,23.

Nas ruas do Bairro São Mateus, um caminhão-pipa precisou fazer a limpeza das vias e das calçadas na manhã desta quarta-feira (28). Dezenas de lojas foram atingidas, causando muito prejuízo. Alguns comerciantes abriram as portas mais cedo para limpar a sujeira deixada pela água. Em algumas delas, onde os produtos eram deixados em locais mais baixos, o prejuízo foi maior.

Camila Luana de Oliveira é dona de uma loja de presentes na Rua São Mateus. O local foi tomado pela água, que subiu cerca de 30 centímetros. “É a segunda vez este ano que entra água aqui, mas desta vez foi muito pior. Ainda não deu para saber quanto em produto perdi, mas, além deste prejuízo, vou perdeu um dia de trabalho. Não tem condições de abrir hoje “, comentou.

A gerente de uma loja que vende materiais elétricos, Celeste Moreira, passou a manhã tirando o barro e água que entraram no comércio. “Já tinha entrado água aqui uma vez, então, paramos de deixar muitos produtos no chão. Mas ainda assim a água danificou algumas coisas”, disse. Também na Rua São Mateus, uma loja de produtos agropecuários teve grande prejuízo, já que boa parte das rações ficava no chão.

A chuva castigou também as ruas Padre Café e Mamoré. Uma banca de jornais da Padre Café, que fica a mais de 30 centímetros do chão, foi inundada. “Nunca vi uma chuva como esta. Estou aqui desde 1980, e nunca havia entrado água”, disse o jornaleiro Nicola Palmiere.

Proprietário de uma oficina no Bairro Mariano Procópio, na região Nordeste, Júlio César Belcavello teve mais de R$ 30 mil em prejuízos com a enchente que tomou conta da Rua Senador Feliciano Penna. Diversos equipamentos foram estragados pela água que invadiu o local. O pai do proprietário, Roberto Belcavello, conta que mora no Barbosa Lage e ficou preocupado com a forte chuva que caía na noite de terça-feira. “Eu liguei para o meu filho e viemos para cá. Chegamos umas 2h da manhã, e a oficina estava cheia de água. Esse estojo pesado, cheio de aparelhos, veio parar no meio da oficina. Tudo aparelho caro”, revolta-se Roberto.

No Democrata, na mesma região, o córrego que passa paralelamente à Avenida Vereador Laudelino Schettino transbordou, e os galpões de depósito de materiais que ficam na via foram inundados. Conforme o funcionário de uma fábrica de meias Guilherme Mendes, o depósito da fábrica estava fechado, já que todos estão de férias. “O dono daqui está viajando. Eu vim hoje para dar manutenção nas máquinas. Quando cheguei, estava cheio de água aqui. Perdemos materiais como fios, poliéster e caixas de papelão.”

Outros pontos em que lojistas relataram estragos foram as ruas Roberto de Barros, Getúlio Vargas, Sampaio e Avenida Barão do Rio Branco, na região central. No Largo do Riachuelo, onde há cerca de 300 lojas, incluindo o Shopping Santa Cruz, de acordo com o Sindicato do Comércio (Sindicomércio-JF), os proprietários sofrem danos materiais cada vez que chove.

O presidente da entidade, Emerson Beloti, questiona se o município possui projetos para as águas pluviais. “A chuva que caiu ontem mostra um sinal amarelo para a cidade, que está ficando impermeabilizada. Tivemos o alagamento do comércio no Centro, Alto dos Passos, São Mateus, Santa Luzia e outras áreas. Precisamos viabilizar projetos para as águas pluviais, como foi feito na época do prefeito Mello Reis. O sindicato se coloca à disposição para dialogar com a Prefeitura e buscar soluções.”

Ele destaca que, no caso dos lojistas do Largo do Riachuelo, o problema ocorre com mais frequência. “Esta região sempre alaga, e não precisa ser uma chuva forte como a que caiu ontem. Precisamos viabilizar soluções, pois isto não pode continuar acontecendo e acharmos que é normal. Não podemos conviver com isso”, desabafa. “Há alguns anos soubemos de um projeto para as águas pluviais na Rua Silva Jardim, que não foi viabilizado por conta do custo. Sabemos dessa dificuldade, mas juntos podemos pensar em soluções, pois desde a gestão de Mello Reis não tivemos mais projetos neste sentido.”

O secretário de Obras, Amaury Couri, afirmou que a Prefeitura realiza, rotineiramente, o serviço de desobstrução – e prevenção – das galerias e tem projetos na ordem de R$ 600 milhões para investir no setor, que esbarram no contingenciamento de recursos pelo Governo federal. O secretário destacou os R$ 200 milhões em investimentos no eixo Paraibuna, nas adutoras e nos depósitos de água da cidade e avaliou que as chuvas, em dezembro, têm sido extemporâneas. Prova disso, diz, é que na terça-feira, em pouco mais de uma hora, choveu quase 25% do previsto para o mês. “As redes são dimensionadas para regimes normais de chuva”, disse, afirmando que Juiz de Fora não é a única a sofrer com este problema, em situações excepcionais em que o volume supera a média histórica. Para Couri, é importante considerar o tempo de escoamento da água após a interrupção da chuva. Pelas suas contas, em 80% a 90% dos casos o escoamento acontece em menos de uma hora, o que comprovaria a eficiência do sistema local. O secretário reconhece, no entanto, que há pontos com problemas de drenagem, cujo reparo, diz, está sendo providenciado. “Faltam recursos para modernizar as redes atuais.

Na rotatória do Vale do Ipê, uma cratera se abriu no momento da chuva, engolindo um veículo. A Cesama faz reparos no local, que ainda está parcialmente interditado para o tráfego. No Cascatinha, parte do muro do clube de mesmo nome veio abaixo.

Veja a galeria de imagens:

A Defesa Civil informou que atendeu 40 chamados durante e após as chuvas, sendo a maioria nas regiões Sudeste, Leste e Oeste. Como os atendimentos precisaram ser registrados à mão, devido à falta de energia elétrica, a pasta ficou de enviar novos detalhes, quando todos os chamados devem ser repassados ao sistema. Entre os casos mais graves, no entanto, estão uma queda de árvore na Rua Carlos Palmer, no Vila Ozanan, com danificação da rede elétrica, e outra árvore caída na Avenida Rio Branco, esquina com Doutor Romualdo, no Centro.

Segundo o Corpo de Bombeiros, a corporação atua em cerca de 16 atendimentos de corte de árvore e quatro enchentes. Um desmoronamento também foi atendido pelos militares, na Rua Salvador Del Duca, no Bairro Nova Era, Zona Norte. Não houve vítimas na ocorrência. Dois destelhamentos também entraram nos chamados dos bombeiros.

Segundo a assessoria de comunicação do Demlurb, funcionários da pasta trabalham na lavação de pistas, principalmente em trechos da Itamar Franco e São Mateus. Equipes também atuam na raspagem de lama na Avenida Barão do Rio Branco, na altura do Bahamas São Vicente, e na retirada de barro na Avenida Francisco Valadares, perto do trevo do Bairro Vila Ideal, e na Rua Osório de Almeida, no Poço Rico. Um trecho da Rua Espírito Santo também está com equipe do Demlurb para a retirada de lama.

Unidade de saúde e agência bancária suspendem atendimento após temporal

Confira imagens da destruição provocada pelo temporal

Previsão de mais pancadas
Conforme o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), as chances de pancadas ainda seguem na cidade. A previsão para esta quarta-feira (28) é de céu parcialmente nublado, com estimativa de temperatura máxima girando entre 30 e 32 graus. Ontem os termômetros marcaram 31,6 graus, mas a sensação térmica foi ainda maior, aproximando-se dos 39.

Com o volume de chuva registrado ontem, o somatório de precipitações no mês chega a cerca de 330,5 milímetros, superando a média histórica, que é de 327,1 milímetros.

 

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