Estudo propõe medidas para melhorar qualidade da água do lago do Museu

Bióloga e pesquisadora do Inpe, Marcela Miranda monitorou e analisou o lago por cerca de cinco anos e identificou as principais causas que contribuem para uma coloração esverdeada da água


Por Nayara Zanetti, estagiária sob supervisão do editor Eduardo Valente

28/11/2021 às 07h00

Desde 2012, a água esverdeada do lago do Museu Mariano Procópio (Mapro) chama a atenção de visitantes e funcionários do parque. A alteração na coloração da água virou tema da tese de doutorado da bióloga e pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) Marcela Miranda, que buscou identificar as principais causas do problema e propôs medidas para minimizar as florações das algas que provocam a nata verde densa na superfície do lago. Atualmente, a Prefeitura de Juiz de Fora, em parceria com a Companhia de Saneamento Municipal (Cesama), tem adotado medidas de restauração com o intuito de tornar o local mais limpo.

O projeto de doutorado “Medidas de mitigação para controle e manejo das florações de cianobactérias em um sistema raso tropical”, produzido quando Marcela era doutoranda da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), monitorou a qualidade da água do lago mensalmente por dois anos e realizou experimentos em laboratório e em campo. Durante este período, foram observadas alterações nas populações de algas, chamadas de cianobactérias, que interferem na coloração verde do lago. Nos últimos anos, a floração de cianobactérias se tornaram constantes e intensas.

Segundo Marcela, as permanentes florações de cianobactérias no lago do museu representam um perigo para o abastecimento de água do município, já que essas algas podem se dispersar para os mananciais de Juiz de Fora. A dispersão pode ocorrer de várias formas, como, por exemplo, no momento em que a água do lago é despejada direto em outro corpo hídrico ou por meio de vento, pássaros e outros animais. “Isso deixa claro o risco que os mananciais de Juiz de Fora correm com as densas florações de cianobactérias no Lago do museu e a importância de recuperar a qualidade da água do local”, afirma.

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Segundo pesquisa, coloração esverdeada na água era causada pela floração de cianobactérias de forma constante e intensa. Atualmente, Cesama e PJF atuam para tornar o local mais limpo (Foto: Fernando Priamo)

Medidas de recuperação

Em sua pesquisa, que foi realizada em parceira com instituições de pesquisa do Rio de Janeiro (UERJ e UFRJ), São Paulo (Inpe) e Holanda (Universidade de Wageningen), Marcela detectou que a eutrofização do lago Mapro tem relação com o fato da principal entrada de fósforo no local ser por meio de aves que dormem às margens do lago e no bambuzal. “A eutrofização de ambientes aquáticos e as florações de cianobactérias são problemas que atingem o mundo inteiro. E a solução para este problema só pode ser alcançada depois de uma análise minuciosa destes ambientes, entendendo as entradas de nutrientes, principalmente fósforo e nitrogênio, e as dinâmicas dos grupos de algas”, explica a bióloga.

Entre as soluções propostas para uma recuperação duradoura estão a avaliação da infraestrutura do lago e viabilização de canaletas para o redirecionamento da água da chuva para fora do local; implantação de um programa de monitoramento mensal da água; aumento do fluxo de água e redução da área de remanso – que é propícia para o crescimento de algas -; e uso de técnicas de geoengenharia e o afugentamento das aves que dormem as margens do lago, já que essas são as principais responsáveis pela maior entrada de nutrientes para o lago.

“A clarificação de sistemas eutrofizados e com florações de cianobactérias pode ser um processo simples, porém manter o sistema claro e sem florações por um longo período é o maior desafio a ser enfrentado”, afirma Marcela em seu estudo.

Questionada pela Tribuna, a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) informou que a atual gestão criou um grupo de trabalho para discutir ações de curto, médio e longo prazo para serem adotadas visando à restauração do lago. Dentre as ações realizadas estão o enchimento do bolsão, que, segundo a PJF, estava muito raso, causando condições desfavoráveis à recuperação, além da retirada do excesso de algas que se acumulam na superfície, permitindo a entrada de luz no lago e consequente oxigenação da água.

“A direção do Museu está passando por um período de transição e o detalhamento das próximas ações sobre o tema está sendo definido. Cada ação a ser tomada deverá ser avaliada pela Direção do Museu Mariano Procópio de acordo com seu custo/benefício, pois algumas dependem de grande investimento financeiro e outras têm baixo custo, mas que podem demandar alta frequência de aplicação”, afirma a assessoria da Prefeitura.

Monitoramento

O monitoramento mensal da água do lago tem sido realizado pela Cesama. De acordo com a bióloga e assessora da diretoria da Cesama, Mariana Mendes, o último monitoramento apontou baixa densidade de cianobactérias, o que indica um sinal de recuperação. “O monitoramento da qualidade da água realizado pela Cesama, com coletas mensais, é fundamental para compreendermos o lago. Além disso, auxilia na tomada de decisões sobre as medidas de restauração a serem aplicadas, bem como avalia a eficiência das medidas já realizadas.”

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