Período chuvoso chega, mas faltam obras em encostas

Situação no Grajaú preocupa moradores da região
Parte dos moradores de Juiz de Fora que vive em regiões de encosta sente-se desprotegida para enfrentar a chegada de mais um período chuvoso. Muitas intervenções previstas para estas áreas que poderiam minimizar os problemas ainda não foram realizadas, apesar da verba disponível no valor de R$ 16,752 milhões, oriunda do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC II), do Governo federal. Nove regiões já deveriam ter sido beneficiadas: bairros Santa Tereza, JK, Borboleta, Ladeira, Parque Guarani, Santa Cruz, Santa Rita, Três Moinhos e Vila Fortaleza. A licitação para escolher a empresa que realizaria o serviço foi aberta em 29 de março, mas acabou revogada, e um novo edital, lançado em maio. Agora os trabalhos estão previstos para ter início nos próximos dias, atendendo, primeiramente, o Santa Tereza, na Zona Sudeste. O Bairro JK, na mesma região, deve ser contemplado na sequência. As intervenções fazem parte do Plano Municipal de Redução de Risco de Juiz de Fora.
Para o professor de engenharia civil da UFJF Marcio Marangon, que orientou uma dissertação de mestrado sobre mapeamento de áreas de risco, este período em que as precipitações se aproximam não é o ideal para realização de obras de grande porte que façam movimentação com o solo. "Há serviços neste pacote que podem ser executados, como construção de muro de arrimo, limpeza de terreno, entre outros. Mas, por exemplo, qualquer tipo de escavação não deve ser feito."
As primeiras chuvas ocorridas nos últimos dias já deixaram a população que vive nas encostas em estado de alerta. O vigilante Ivanir Sebastião Ribeiro mora na Rua Adelaide Campos Rezende, no Bairro JK, Zona Sudeste. Em março de 2008, houve desmoronamento de barranco na via que fica logo acima da dele, a Rua José Teodoro dos Santos. Desde o acidente, os fundos do imóvel de Ivanir estão interditados. Na ocasião, foram atingidas partes das casas na base do barranco. Uma moradia ficou destruída, deixando um homem soterrado por quase duas horas. "Continua tudo isolado. Nosso pior momento é o período da chuva." Lonas do tipo vinílica foram colocadas pela Defesa Civil logo após o acidente para evitar novas ocorrências. Na área, dois lotes de fundo, totalizando quatro moradias, ainda estão interditados parcialmente. Desde então, a vizinhança aguarda o início das obras de contenção. "Na Prefeitura, alegaram que as obras começariam em agosto. Depois, em 13 de setembro. E, até agora, nada." Ivanir teme o agravamento da situação. "A lona está toda rasgada e, quando vier a chuva forte, a água vai entrar na terra. Aí, é só Jesus."
Santa Tereza
No Santa Tereza, onde há quatro anos e meio houve a demolição de 13 residências por causa do aparecimento de trincas nas ruas José Ladeira e Edgard Carlos Pereira, alguns pontos permanecem interditados. Lonas estão sobre a encosta para minimizar os problemas. De acordo com a assessoria de comunicação da Secretaria de Obras, foi emitida ordem de serviço para que a empresa vencedora da licitação, que fará o trabalho de contenção de encostas, inicie imediatamente a mobilização e montagem do canteiro para execução dos serviços.
O grupo afetado e que não mora mais na região briga na Justiça pelo ressarcimento dos prejuízos. Para eles, as obras de contenção da encosta não resolvem seus problemas. "Isso vai ajudar na estética do bairro. Para nós, não muda nada. Nós fomos abandonados, não fomos indenizados pelo que perdemos. E como o terreno ainda é nosso, tinham que nos chamar para conversar antes da realização dessa obra", afirmou a ex-moradora Sônia Fuzario.
Grajaú
Em outras áreas propensas a deslizamentos de terra, a preocupação persiste. A assistente administrativa Maria Auxiliadora Ferreira morava na Rua Rosa Sfeir, no Grajaú, Zona Sudeste, em uma casa própria. O imóvel foi atingido, em janeiro de 2011, pela queda de parte do barranco que fica entre a rua da casa dela e a Miguel Jacob. Outras três moradias foram atingidas. No início deste ano, uma residência que ficava no alto do morro e corria risco de desabar foi demolida pela Defesa Civil. Maria Auxiliadora não mora mais na casa, que foi condenada pela Defesa Civil. Entretanto, ela alerta que, no local, não houve colocação de lonas vinílicas nem contenção da encosta. "Mandaram fazer uma valeta para não encharcar o terreno. Só que, na hora que chover, não vai adiantar."
Segundo a assessoria da Secretaria de Obras, em agosto, foi lançada mais uma linha de recursos federais para intervenção em encostas. A assessoria informou que a Prefeitura está preparando um projeto que inclua melhorias na Rua Rosa Sfeir. O volume de obras no local é de grande porte, assemelhando-se ao trabalho que precisa ser realizado no Santa Tereza. A área não teria entrado nesse primeiro grupo de obras porque o acidente no lugar ocorreu após o envio de solicitação de recursos ao Governo federal. Conforme a assessoria da Secretaria de Obras, caso seja aprovado, os trabalhos de contenção na Rosa Sfeir ainda poderão ser incluídos no montante inicial. Se não for aprovado, será feito outro processo para captação de recursos para obras na região.
Problema de inundação na Zona Norte
Outro problema recorrente no período chuvoso são as inundações, principalmente nas ruas do Bairro Industrial, na Zona Norte. Quando há excesso de chuva, o Córrego Humaitá transborda, alagando a Avenida Lúcio Bittencourt, a Rua Henrique Simões e demais vias do entorno. O nível que a água alcança chega, muitas vezes, a impedir a passagem de veículos e a circulação de moradores. De acordo com o subsecretário de Defesa Civil, major José Mendes da Silva, a situação na área é pontual. "Quando o rio transborda, tem áreas que empossam a água, mas ela não chega a entrar nas casas. O que ocorre é que, ao passar veículos pesados, cria-se uma "onda", que empurra essa água em direção às residências." No ano passado, a Defesa Civil reinstalou um alarme que é acionado automaticamente quando o Rio Paraibuna ultrapassa o nível considerado normal. O dispositivo, de seis metros de altura, é programado para acender luzes vermelhas quando a água atinge o ponto considerado suportável, a um metro de ultrapassar o nível normal do leito. Quando a água sobe mais meio metro, o nível fica intolerável, e um aviso sonoro é acionado. Quando o dispositivo for ouvido, os moradores devem entrar em contato com a Defesa Civil por meio do telefone 199.
Para evitar problemas na região, também foi realizado um trabalho preventivo da Cesama em parceria com a Secretaria de Obras. Foi criada rede de água pluvial de 140 metros de extensão, sendo metade na Avenida Brasil e outra na Rua Henrique Simões. Foram criadas ainda duas bocas de lobo para escoamento da água de chuva. A assessoria de comunicação da Cesama informou que, no período chuvoso, tem feito um controle da vazão da Represa de Chapéu D’Uvas para que as águas sejam represadas e evitem chegar ao leito do rio, consequentemente, contendo inundações.
Outras medidas de prevenção
Apesar de muitas obras esperadas nas encostas ainda não terem sido realizadas, a Secretaria de Obras garante que parte das famílias que estava em áreas de risco foi removida para outros lugares. Segundo a pasta, cem famílias indicadas pela Defesa Civil e outras 281 que estavam no auxílio social foram para loteamentos residenciais entregues este ano.
Outras melhorias teriam sido feitas. Na parte alta do Dom Bosco, Cidade Alta, foram realizadas intervenções nos barrancos. A assessoria da Secretaria de Obras informou que está sendo finalizada a contenção de encosta na Rua São Bernardo, no bairro de mesmo nome, Zona Sudeste, que também é uma área atingida pelas chuvas; além de redes de drenagem e contenção na Barreira do Triunfo, Zona Norte; redes de drenagem no Borboleta, Cidade Alta, e na Rua das Margaridas, no Aeroporto, na mesma região.
Apesar de ainda não terem ocorrido as grandes obras em encostas este ano, a secretaria ressalta trabalhos realizados nos últimos três anos. Há serviços de contenção de encostas, com mais de 60 intervenções. Por exemplo, entre 2009 e 2010, por meio de convênio com o Governo de Minas, foram sete intervenções, incluídas em pacote emergencial, no valor de R$ 1,548 milhão.
Entre as obras nas redes de drenagem em anos anteriores, foram cerca de 5,5 mil metros de novas tubulações para captação da água pluvial. Os principais serviços foram executados na Avenida JK, Zona Norte; na Avenida Deusdedit Salgado, no Salvaterra; e na região da Rua Barão de Cataguases, no Centro. Somente nessas regiões, o investimento foi de cerca de R$ 13 milhões.
Cadastro
Juiz de Fora é uma das 300 cidades que irá integrar o cadastro nacional de municípios suscetíveis a desastres naturais elaborado pelo Governo federal. Uma empresa já está mapeando as áreas de risco locais, a fim de que projetos sejam elaborados e enviados para a União. Esse mapeamento é acompanhado por dois geólogos do Serviço Geológico do Brasil, que estiveram na cidade no final de julho e devem retornar no próximo mês.