Bando tenta parar ônibus, e motorista acaba ferido


Por Marcos Araújo, Michele Meireles e Juliana Netto

26/12/2016 às 11h42- Atualizada 27/12/2016 às 10h23

Atualizada às 19h42

Foto: Leonardo Costa/26-12-16
Foto: Leonardo Costa/26-12-16

Um coletivo que fazia a linha 137 (Sagrado Coração de Jesus/Manoel Honório) foi alvo de pedradas, na manhã desta segunda-feira (26), no Bairro Sagrado Coração, na Zona Sul. A ação criminosa deixou três vítimas, entre elas o condutor do ônibus, que se feriu com mais gravidade. O apedrejamento trouxe novamente à tona a questão da insegurança que ronda o transporte público na cidade. Para motoristas, cobradores e usuários, medidas preventivas fazem-se urgentes, enquanto Poder Público garante que vem monitorando as ocorrências e trabalhando para contê-las. O caso das pedradas foi registrado pela Polícia Militar, por volta de 10h, quando o coletivo trafegava pela Rua Marciano Pinto. Conforme o boletim de ocorrência, um grupo com cerca de seis indivíduos tentou parar o veículo. “Segundo testemunhas, eles teriam visto um desafeto deles dentro do ônibus e entraram na frente, tentando forçar o motorista a parar. Como o condutor resistiu e seguiu em frente, os suspeitos começaram a jogar pedras contra o veículo e a apontar armas de fogo”, disse o tenente da Polícia Militar Jonas Aquino, acrescentando que testemunhas relataram que teria ocorrido um disparo de arma de fogo. No entanto, até o fechamento desta edição, não foi possível constatar se a bala atingiu o veículo.

De acordo com o oficial, os passageiros que estavam no ônibus precisaram se abaixar para não se ferirem. “Neste momento de confusão, alguém se aproveitou e roubou todo o dinheiro que estava no caixa, além do celular de um dos passageiros”, comentou. Os estilhaços feriram levemente dois passageiros. O motorista se machucou com mais gravidade, principalmente na região do rosto, e precisou ser levado para o Hospital de Pronto Socorro (HPS), onde permaneceu aguardando a avaliação da traumatologia. As pedras atingiram os vidros laterais e também dianteiro do coletivo.

Enquanto o motorista tentava fugir do grupo, o ônibus ainda bateu em dois carros que estavam estacionados na mesma via. Um deles, um Corsa, foi arrastado alguns metros e teve sua lateral bastante danificada.

Um Corsa foi arrastado pelo ônibus (Foto: Wesley Carlos)
Um Corsa foi arrastado pelo ônibus (Foto: Wesley Carlos)

Um jovem foi detido suspeito de participar da ação. Ele foi conduzido à delegacia após ser reconhecido por uma das vítimas. Os demais foram identificados, mas ainda não foram localizados. A perícia foi acionada para fazer os trabalhos de praxe. A assessoria de imprensa dos Consórcios Integrados do Transporte Urbano de Juiz de Fora (Cinturb) informou que a empresa está prestando apoio ao motorista e fazendo todo o esforço para que os suspeitos da ação sejam localizados.

 

Insegurança

A sensação de insegurança para motoristas e cobradores em Juiz de Fora tem sido uma constante na rotina de trabalho. Na semana passada, dez casos de assaltos contra coletivos foram registrados pela Polícia Militar durante cinco dias. O mais recente aconteceu em plena luz do dia na Avenida JK, na altura do Bairro Francisco Bernardino, Zona Norte. Por volta das 13h, o ônibus da linha Novo Triunfo/Centro se aproximava de um ponto, quando um passageiro que já estava embarcado sacou uma faca e rendeu o cobrador. O bandido roubou R$ 150 e fugiu. Os outros casos foram registrados nos bairros Nova Germânia, Novo Horizonte e Nova Califórnia (Cidade Alta); Progresso e Santa Paula (Zona Leste); Cidade do Sol e Igrejinha (Zona Norte).

O medo da violência levou alguns motoristas e cobradores a realizarem, na última sexta-feira, um protesto contra a onda de assaltos. O ato demorou mais de uma hora, e a pista de ônibus na esquina da Avenida Rio Branco com a Rua Benjamin Constant foi bloqueada, resultando num grande congestionamento de carros e ônibus. O engarrafamento foi sentido do Manoel Honório ao Bom Pastor, além de impactar o trânsito em diversas vias paralelas. Usuários do transporte público ficaram prejudicados e amargaram longa espera por condução e muitos decidiram voltar para casa a pé. O movimento foi encerrado por volta das 19h, mas, como reflexo, os congestionamentos no trânsito continuaram até mais tarde.

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte e Trânsito (Sinttro), Vagner Evangelista Corrêa, disse que, após a paralisação, a categoria ainda não tinha tido nenhum respaldo dos órgãos responsáveis. “Neste momento, inclusive, estou retirando o boletim de ocorrência que registramos na sexta-feira e vamos encaminhar um ofício para a Secretaria de Segurança Urbana e Cidadania da Prefeitura, Settra, Ministério Público, Polícia Militar e empresas do transporte público coletivo, solicitando uma tomada de providência contra a violência, pois o que aconteceu é inadmissível. Se não for realizada nenhuma providência, iremos cruzar os braços ainda nesta semana”, afirmou Vagner. Havia rumores de que no final da tarde desta segunda haveria a realização de mais um protesto da categoria. Todavia, a própria direção do Sinttro desfez a suspeita.

Em outubro deste ano, a violência contra a categoria foi tema de audiência pública na Câmara Municipal. Na ocasião, os trabalhadores do transporte coletivo público cobraram das autoridades estratégias para combater a criminalidade.

 

Vozes das ruas

A criminalidade, que deixa marcas no sistema de transporte da cidade, também repercute entre os usuários. “Essa violência, que é tão comum nas ruas, agora invade os ônibus. Sem se importar com quem está no interior dos coletivos, pessoas cobram de seus desafetos, respingando violência contra inocentes. Esquecem que o ônibus é de uso coletivo e não respeitam os usuários”, desabafa a professora Ana Flávia Mesquita, de 26 anos, moradora do Bairro Teixeiras.

“Eu tenho medo sim, principalmente, no período da noite, quando os ônibus param em determinados pontos que a gente já sabe da incidência de crimes. É preciso mais ações para conter novos casos de roubos”, ressalta Pedro Antônio Garcia, 30, servidor público, morador do São Pedro. Para a universitária Camila Castro, 28, moradora do Dom Bosco, a violência, a cada dia, está mais próxima. “Meu pai já esteve num ônibus que foi assaltado. Durante muito tempo, ele preferiu não usar o transporte público.”

 

Providências

Intensificar as abordagens aos coletivos é uma das ações que a Polícia Militar pretende implementar com objetivo de dar mais segurança para motoristas e cobradores. “Nossa ideia é realizar este tipo de ação principalmente nos pontos finais, que são os locais onde o crime mais acontece. Além disso, estamos buscando ter um contato mais próximo com as empresas, a fim de garantir um maior fluxo de informação e passar orientações para garantir mais segurança para a categoria, numa ação semelhante a que ocorre com os táxis”, ressaltou o comandante da 32ª Companhia da PM, capitão Marcos Vinícius de Almeida Castro.

Já a Secretaria de Segurança Urbana e Cidadania da Prefeitura, por meio de nota, afirmou que está “sempre sensível a todos os assuntos que envolvam a paz social e já, por duas vezes, reuniu os principais dirigentes sindicais da área do transporte público, uma vez com a presença do prefeito e outra em audiência pública na Câmara Municipal. Nessas ocasiões, foram debatidas medidas preventivas a serem tomadas na segurança do transporte coletivo urbano. Em ambas as oportunidades, a Polícia Militar e a Polícia Civil fizeram-se presentes, tendo sido por todos debatido o problema com proposições úteis aos usuários de ônibus”. Ainda segundo a nota, “fatos isolados, todavia, por não serem previsíveis, fogem ao controle da segurança pública preventiva, transformando-se em assunto repressivo, quando devem ser apuradas as circunstâncias e punidos os responsáveis”.

A Settra informou, também por meio de nota, que “vem acompanhando a situação no que cabe à pasta e, desde o início dessa gestão, vem se empenhado para melhorar a segurança para os profissionais, adotando dispositivos nos ônibus, como câmeras de monitoramento e sistema de GPS, e facilitando as informações para a Polícia Militar”.

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