Família procura por restos mortais de parente enterrada no Municipal

Ao tentar fazer exumação, sobrinho diz que ossadas desenterradas não correspondem à da tia


Por Vívia Lima

25/11/2019 às 20h23- Atualizada 26/11/2019 às 08h23

A família de uma mulher de 85 anos, morta em decorrência de um acidente vascular cerebral (AVC) em abril de 2016, busca entender o que aconteceu com os restos mortais da vítima, desaparecidos de uma cova rasa onde estava sepultada, no Cemitério Municipal em Juiz de Fora.

Os parentes, que preferiram não divulgar sua identidade, descobriram o desaparecimento nesta segunda-feira (25), quando foram transportar os restos mortais da cova para o ossário da unidade, uma vez que o período de três anos de uso havia terminado, como prevê a legislação municipal. O sobrinho da vítima, 24 anos, que prefere se manter no anonimato, relatou à reportagem que havia outro caixão na sepultura que pertenceria a idosa. “Desde fevereiro, eu entrei em contato com o cemitério para fazer essa retirada, pois sabia do prazo que tínhamos a cumprir. Pediram que esperasse o término das obras no ossário e, nesta segunda, fomos surpreendidos. Na secretaria, havia o registro que minha tia estava na sepultura 641, mas, ao exumar o corpo, se tratava de um cadáver masculino. Tinha uma camisa e uma calça comprida, sendo que minha tia foi enterrada de vestido curto e, por isso, não tinha condições de ser ela”, contou o sobrinho.

Um funcionário orientou que ele fosse até a administração para confirmar o número da sepultura. Lá, teria sido informado que houve um erro de digitação. No livro de registros, relata o familiar, constava que ela estaria, na verdade, na cova 644. “Voltamos e lá fizeram a exumação. Foi difícil ver a primeira vez, imagina a segunda? No processo da retirada, tratava-se de uma mulher com um vestido curto. Porém, ela foi enterrada com uma medalha do Apostolado da Oração (movimento da igreja católica). Não achamos a medalha, tampouco um terço de madeira. Alguns objetos encontrados juntos a ossada demonstraram que aquela pessoa também era católica, mas não eram as coisas com as quais minha tia havia sido sepultada. Eu quem escolhi o vestido e sabia tudo o que ela carregava”, garantiu.

A situação, relata, foi ainda mais dolorosa e constrangedora para os familiares ao fazer a retirada total dos ossos da sepultura indicada. “Em um dos ossos, o funcionário mostrou que havia uma prótese afixada. Minha tia nunca usou prótese e nunca se submeteu a cirurgia.” Apesar das controvérsias, segundo o sobrinho, a administração teria alegado que tratava-se da mulher. “A gente acredita que não são os restos mortais dela. Nossa preocupação é nunca mais sabermos do paradeiro dela e, por isso, estamos muito abalados com essa situação. Saber que ela em vida sempre foi digna com tudo e hoje não termos o paradeiro de seus ossos é doloroso para nós”, disse. A família informou à Tribuna que irá ajuizar processo a fim de encontrar a ossada da ente.

À Tribuna, a Secretaria de Obras, responsável pela administração do Cemitério Municipal, informou em nota que, no livro de controle de sepultamento do dia, consta que a idosa foi sepultada na cova 644, quadra Z. “Na época, ao digitalizar, houve um erro e no sistema constava 641. Diante disso, a administração do cemitério checou o livro de sepultamento, verificando que se tratava da cova 644 e não 641. Mesmo sendo uma mulher na referida cova, o familiar não reconheceu os restos mortais.” O sobrinho da vitima foi orientado a realizar exame de DNA a fim de que se comprove ou não tal suspeita.

Legislação prevê uso da cova por três anos

A legislação municipal prevê que a disponibilização da cova rasa deve ocorrer no período de três anos. Após esse período, caso a família não faça a exumação, os restos mortais são retirados, e o espaço é liberado para outro sepultamento, uma vez que a cova é pública. Para fazer a utilização do serviço, paga-se a taxa de sepultamento no valor de R$ 22. A Secretaria de Obras informou, ainda, que no Cemitério Municipal não há mais vagas para novos jazigos perpétuos, apenas para ossários, cujo valor é de R$ 88,30.

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