Tirada à força de carro, mulher é atropelada por companheiro no São Mateus
Vítima sofreu grave ferimento no pé direito e foi ajudada por mulheres que passavam pelo local; suspeito, com quem ela se relacionava há um mês, fugiu
Uma mulher, de 28 anos, foi agredida, retirada do carro à força, arrastada e atropelada por um homem, 27, na madrugada do último domingo (23), nas imediações da praça de São Mateus, Zona Sul de Juiz de Fora. Enquanto ainda se recupera do trauma e de um grave ferimento no pé direito em decorrência do atropelamento, a vítima concedeu entrevista à Tribuna nesta terça-feira (25).
Ela contou que tinha um relacionamento recente com o suspeito. “Era uma pessoa que eu conhecia há quase 10 anos e, há um mês, a gente começou a ficar. Estou realmente meio sem entender tudo o que aconteceu. Parece que minha ficha ainda não caiu. Era a pessoa mais maravilhosa, mais incrível do mundo, jamais imaginaria na minha vida que ele poderia fazer qualquer coisa parecida comigo.” O suspeito fugiu após a série de ações violentas e não foi localizado pela Polícia Militar, que registrou a ocorrência de lesão corporal, no contexto de violência doméstica.
A moradora do São Mateus contou que, naquela noite, estava na casa do companheiro, na região Leste, comemorando o aniversário dele, quando seguiu no carro do mesmo com um amigo e uma amiga para fazer compras em uma padaria 24 horas no Centro. “Passou um pouco, ele chegou alterado e entrou no carro gritando muito. Queria me deixar em casa, mas todas minhas coisas estavam na residência dele. Então, falei que não ia descer, porque queria as minhas coisas, mas ele não queria deixar eu buscar.”
Segundo a mulher, um amigo do suspeito teria sugerido chamarem a polícia para que ela fosse obrigada a desembarcar do veículo. No entanto, o homem não aceitou a sugestão, entrou no automóvel com ela dizendo que voltaria em dois minutos e acelerou, até parar em uma rua no São Mateus.
“As agressões começaram dentro do carro, no meio do caminho, tanto que estou com meu maxilar roxo por um soco que ele me deu. Tenho hematomas por todos os meus braços e pernas, porque ele tentou primeiro me tirar pelo banco do carona, me puxar mesmo. Com medo de machucar, pulei para o banco do motorista. Aí ele começou a me xingar, e fui para dar um tapa, só que arrebentei o cordão dele. Ele aproveitou para me puxar para fora do carro, foi me arrastando e passou por cima do meu pé. Era para ter passado por cima de mim, né, só que graças a Deus foi por cima do meu pé.”
No meio de toda violência, a vítima conseguiu ajuda de “dois anjos”, duas mulheres, ambas de 26 anos, que passavam pelo local com um motorista de aplicativo. “Elas presenciaram toda a cena, me deram todo suporte. Porque ele me deixou sem celular, sem sapato, sem documentos, sem absolutamente nada.” Depois dos trâmites para registrar o boletim de ocorrência, a mulher foi conduzida por policiais ao HPS, para tratar o machucado no dorso do pé. “Tive um corte bem profundo. Esta semana toda vou precisar ir ao hospital fazer o curativo, porque não tenho como fazer em casa.”
As pessoas que a ajudaram também seguiram com ela até a residência do suspeito, para buscar seus pertences. “Ainda fui obrigada a ouvir da família dele que se eu tivesse descido do carro na hora em que ele pediu nada disso teria acontecido. Então porque eu não desci do carro ele tem total direito de tentar me matar, de me bater, sabe lá Deus fazer mais o quê? Da mesma forma que ele fez comigo pode fazer com várias outras pessoas.”
A moradora da Zona Sul lamentou não ter tido condições de ir à Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher na segunda-feira. “Eu não conseguia andar, um amigo meu teve que vir em casa me buscar para eu ir fazer o curativo. Mas hoje (terça) eu vou, porque tenho roxos por todas as partes do meu corpo.”
Repercussão nas redes sociais
Nas redes sociais, uma das pessoas que ajudou a vítima violentada no São Mateus relatou ter visto “uma cena tenebrosa de um homem batendo e jogando uma mulher pra fora do carro”. “Logo depois, ele a arrastou e passou com a roda em cima do pé dela, largando no meio da rua (…).” Ela ainda alertou: “Se você presenciar uma cena dessas, denuncie! Ligue para o 180 e dê apoio à mulher. Independente do que tiver motivado, a culpa nunca será de quem foi violentada.”
O advogado da vítima, Rudolf Rocha, reforçou que nesta terça seriam realizados os procedimentos pendentes. “Ontem (segunda-feira), era dia dela ir à Delegacia da Mulher pedir a medida protetiva de urgência. Porém, ela não foi por conta da gravidade dos ferimentos e da dor. Hoje (terça) ela vai fazer o pedido, e o juiz tem 48 horas para conceder ou não. No caso dela há as testemunhas que a socorreram e a viram ser agredida.”
O advogado acrescentou que a vítima também será submetida a exame de corpo delito para que o delegado encaminhe ao juiz junto com o pedido da medida protetiva de urgência. “Depois vamos acompanhar o processo, como assistente da acusação, para conseguir a condenação. Vamos juntar toda a documentação para ingressar também com uma ação na esfera cível para pedir a reparação dos danos estéticos, morais e materiais (gastos com remédios, por exemplo).”