Corregedoria de Minas assume investigação de tiroteio entre policiais em JF
Inquérito foi transferido para BH e será investigado paralelamente ao procedimento administrativo sobre conduta de escrivão e investigadores
A Corregedoria da Polícia Civil de Minas Gerais assumiu toda a investigação do caso do tiroteio entre policiais civis mineiros e paulistas, ocorrido no último dia 19 no estacionamento terceirizado do Centro Médico Monte Sinai, na Avenida Itamar Franco, em Juiz de Fora. A informação foi confirmada na tarde desta quinta-feira (25) pela assessoria da PC. Os motivos de transferir a competência para Belo Horizonte não foram esclarecidos, mas a instituição confirmou que o inquérito instaurado pelo delegado de Homicídios, Armando Avolio Neto, não chegou a ser concluído e já está nas mãos da Corregedoria. De acordo com Avolio, “o caso ficou bastante complexo”.
A assessoria explicou que só pelo fato de o episódio envolver policiais já seria de praxe essa movimentação. A Corregedoria esteve no local da ocorrência no mesmo dia e abriu procedimento interno para apurar as condutas do escrivão Rafael Ramos dos Santos, 30 anos, e dos investigadores Leonardo Soares Siqueira, 43, e Marcelo Matolla de Resende, 45. Eles estavam presentes no momento da troca de tiros, mas escaparam ilesos, ao contrário do policial juiz-forano Rodrigo Francisco, 39, que morreu na hora, alvejado por cerca de 20 disparos.
A partir de agora, a Corregedoria conduz o procedimento administrativo paralelamente ao inquérito, no qual todos os crimes são investigados, inclusive os dois homicídios – o empresário Jerônimo da Silva Leal Júnior, 42, baleado no abdômen, também faleceu, nesta quinta, no Monte Sinai. Ainda são apurados os delitos de lavagem de dinheiro e prevaricação, crime pelo qual os policiais de JF foram autuados. O delito está previsto no artigo 319 do Código Penal e estabelece detenção de três meses a um ano para quem “retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal”.
O policiais mineiros estão soltos, mas afastados dos serviços de rua. O chefe do 4º Departamento de Polícia Civil, Carlos Roberto da Silveira, esclareceu que “eles deveriam ter explicado à chefia o que estariam fazendo no local, o que não foi feito”. Eles alegaram que teriam ido até o local para atender a uma denúncia de pessoas armadas. No entanto, na audiência de custódia, realizada domingo no Fórum Benjamin Colucci, foi levantada a suspeita de que o trio, junto com Rodrigo Francisco, estaria fazendo a escolta do suposto estelionatário Antônio Vilela, 66, durante a negociação clandestina. O idoso seria responsável pelos R$ 14 milhões em notas falsas, que seriam usados para a “compra” de dólares do executivo do ramo da engenharia e construção Flávio de Souza Guimarães. Este, por sua vez, negou a transação de câmbio ilegal. Se as denúncias forem comprovadas, o escrivão e os investigadores poderão ser punidos com advertência e até a perda do cargo.
Conforme a assessoria da PC de Minas, os detalhes das investigações conduzidas pela Corregedoria só serão divulgados com a conclusão dos trabalhos, dentro do prazo e das possibilidades legais. Além dos quase R$ 15 milhões em notas falsas, a instituição apreendeu celulares, armas, munições e veículos.
Na terça, a Ouvidoria da PC de São Paulo solicitou à Policia Federal e ao ministro da Justiça, Raul Jungmann, a intervenção da PF na apuração das circunstâncias que resultaram nos assassinatos. O pedido foi justificado por se tratar de ocorrência grave envolvendo policiais de dois estados, com apreensão de milhões em espécie falsificados e por haver indícios de quatro crimes praticados pelas duas equipes das forças de segurança: lavagem de dinheiro, estelionato, prevaricação e organização criminosa, com envolvimento de empresários dos dois estados.
Advogado entra com habeas corpus para libertar policiais paulistas
O advogado de defesa dos quatro policiais civis paulistas autuados em flagrante por lavagem de dinheiro, Ricardo Dutra de Moraes, informou nesta quinta-feira (25) que entrou com pedido de habeas corpus para seus clientes junto ao Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG). O advogado se reservou ao sigilo profissional e preferiu não dar detalhes das alegações utilizadas para justificar a soltura.
De acordo com a Secretaria de Estado de Administração Prisional (Seap), os delegados paulistas Bruno Martins Magalhães Alves, 30, e Rodrigo Castro Salgado da Costa, 31, assim como os investigadores de SP Caio Augusto Freitas Ferreira de Lira, 36, e Jorge Alexandre Barbosa de Miranda, 50, permanecem presos, nesta quinta, no Complexo Penitenciário Nelson Hungria, em Contagem, na região Metropolitana de Belo Horizonte. Eles tiveram as prisões preventivas decretadas pela Justiça após audiência de custódia, no último domingo, no Tribunal do Júri de Juiz de Fora.
As condutas dos policiais paulistas também estão sendo investigadas pela Corregedoria de SP. “Todas as circunstâncias estão sendo apuradas em procedimento administrativo instaurado pela instituição e, se comprovados desvios de conduta, os policiais envolvidos responderão administrativa e criminalmente, de acordo com os atos praticados por cada um.” Além dos quatro presos, outros cinco servidores de SP identificados no esquema são investigados: o carcereiro Leandro Korey Kaetsu, 38, os agentes Cristhian Fernandes Ferreira, 44, e Cezar Raileanu, 47, os investigadores Marcelo Palotti de Almeida, 41, e Eduardo Alberto Modolo Filho, 31. Eles não chegaram a ser presos porque não estariam realizando a escolta no momento da negociação, mas também foram autuados, segundo a Justiça, por prevaricação.
O secretário da Segurança Pública de São Paulo, Mágino Alves, afirmou, na segunda-feira (22), que trata os nove policiais civis paulistas como coautores dos crimes praticados na ação, inclusive o de homicídio. A Lei Complementar 2007/79 proíbe delegados e policiais civis de exercerem o serviço de escolta particular.
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