No Santa Cruz: obras de drenagem estão em curso, mas ainda há esgoto a céu aberto

Período de chuvas traz apreensão para população que vive em meio a riscos de saúde e segurança


Por Fernanda Castilho

25/09/2025 às 06h00

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Foto: Leonardo Costa

 

Neste ano, a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) iniciou obras de drenagem e de implantação de um novo sistema de captação de águas pluviais no Bairro Santa Cruz, na Zona Norte de Juiz de Fora. Conforme o órgão informou, as intervenções buscam evitar os alagamentos na região. No entanto, para além desta questão, a situação do entorno do córrego também traz riscos à saúde e à segurança da população.

A Tribuna de Minas esteve no local para acompanhar o andamento das obras. Segundo a constatação da equipe de reportagem, no entorno do córrego, que atravessa a Avenida Luiza Vitória Fernandes e a Rua João Ferreira de Morais, há despejo de esgoto doméstico sem tratamento, descarte irregular de lixo, mato alto nos leitos, falta de calçadas adequadas para pedestres e ausência de guarda-corpo em uma ponte, caminho percorrido por moradores e estudantes de uma escola próxima ao local. Em conversa com os moradores, também foram relatados o aparecimento de animais peçonhentos e o constante mau cheiro nas proximidades.

Moradores do entorno enfrentam riscos à saúde

“Passamos por um alagamento e eu perdi tudo que tinha dentro de casa. De setembro a janeiro, durante o período de chuvas, todo mundo aqui na beirada do córrego já fica com medo”, conta Rita Maria de Oliveira Paula, 56 anos. Ela mora há dez anos em uma casa vizinha ao leito do córrego que corta a Avenida Luiza Vitória Fernandes. Segundo ela, além deste problema, os moradores das casas próximas também enfrentam riscos à saúde devido ao descarte irregular de lixo e aparecimento de animais peçonhentos no entorno.

A moradora afirma que já solicitou várias vezes serviços de limpeza e de canalização do córrego à Prefeitura. “Vieram, fizeram a limpeza, roçaram tudo, mas a sujeira voltou. Já pedimos para colocarem uma placa sobre descarte de lixo, mas não colocam.”

Numa das casas ao lado, mora Terezinha Alves, 75, que relata viver situação semelhante à da vizinha: durante chuvas fortes, fica apreensiva, porque a água do córrego pode transbordar e alagar sua casa. Ela também queixa-se do mau cheiro provocado pelo despejo de esgoto doméstico sem tratamento no córrego. “Acho que aquele cano (que despeja efluente) tinha que ser direto dentro d’água. O mau cheiro vem para dentro do meu quarto. A gente paga pelo esgoto tratado, mas não tem nada disso aqui.”

As duas moradoras revelaram preocupação com as obras de drenagem no bairro. “Tem quem diga que vai piorar, porque a água vai voltar para cá e encher. Mas o pessoal também tem que ter consciência e parar de jogar lixo aqui”, diz Terezinha. Para além desta obra, Rita demonstra receio com a construção de um condomínio na região, que, de acordo com ela, pode piorar os alagamentos do córrego, além do asfaltamento na rua.

Karen Cristine Gomes, 30, que mora nas proximidades do córrego há sete anos, também confirma que, durante o período de chuvas, principalmente a partir do mês de setembro, são recorrentes os alagamentos por conta do transbordamento do córrego. Ela lembra que muitos dos seus vizinhos já sofreram com inundações em suas casas. Karen espera que as obras possam resolver a situação dos moradores do bairro. 

Especialista em saneamento defende planejamento urbano e mudança de comportamento

De acordo com Maria Helena Rodrigues Gomes, professora do Curso de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Juiz de Fora, em áreas com recorrentes alagamentos deve-se, primeiramente, analisar o problema e conhecer a área e o histórico de chuvas da região para se determinar o melhor tipo de alternativa a ser empregada no local — o que ela acredita já ter sido realizado no projeto. “Devemos lembrar que a cidade é dinâmica, os bairros estão crescendo. Quanto maior o nível de urbanização em uma região, maior será o grau de impermeabilização, o que favorece o aumento do escoamento superficial e uma menor infiltração da água no solo. É preciso  planejamento do crescimento urbano já com medidas que contribuam para as questões de drenagem urbana.”

A professora destaca que a cidade passa por obras de coleta e disposição adequada dos esgotos e teve aumento significativo na cobertura das redes coletoras e do tratamento do esgoto gerado no município. Também explicou que para soluções de problemas relacionados ao espaço urbano, existem inúmeros estudos e ainda há muito o que fazer. “As obras relacionadas a saneamento trazem benefícios para toda a comunidade, melhorando a qualidade de vida e a saúde da população. Mas também é necessária uma mudança no comportamento das pessoas, como colocar o lixo para coleta ensacado e no dia certo, não jogar lixo nas bocas de lobo e nos córregos. O Poder Público faz a sua parte, e a comunidade precisa ajudar fazendo a dela também”.

Quanto à situação relatada pelas moradoras do bairro, Maria Helena afirma que é preciso verificar a existência de redes coletoras de esgoto nas ruas e se todas as casas estão com suas redes domiciliares devidamente ligadas à rede pública de coleta de esgotos. “Mas, sem dúvida, esgoto lançado a céu aberto, lixo descartado de forma irregular e tantas outras ações contribuem para o aparecimento de vários vetores e afetam a saúde e o bem-estar da população. Com relação à ponte, deve-se solicitar um guarda corpo e calçadas adequadas aos órgãos competentes de modo a garantir a segurança dos pedestres.”

PJF afirma trabalhar para solucionar problemas de alagamentos e do esgoto da região

Em nota enviada à Tribuna, a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) informou que as obras de drenagem realizadas no Santa Cruz, que envolvem Secretaria de Obras, SMU, Cesama e Empav, buscam solucionar um problema histórico de enchentes e alagamentos na região. “Para resolver de forma definitiva, era necessário coletar a água na parte mais alta do bairro. Foi criado um novo ponto de lançamento da água da chuva no córrego, dividindo o volume que desce das ruas mais altas. Esse desvio vai garantir mais segurança e o correto escoamento da água das chuvas”. 

A PJF também destacou a limpeza e o desassoreamento do Córrego Santa Cruz, ações que vão melhorar o fluxo da água e preparar a região para o período das chuvas. Já no ponto de lançamento da rede da Rua Miguel Marinho, conforme o Município, foram executados serviços de contenções nas margens. “Há previsão para a complementação do coletor de esgoto Santa Cruz, parte integrante do projeto de despoluição do Rio Paraibuna, que irá recolher todo o esgoto da região, especialmente na área mais interna do bairro. Os complementos dos coletores de esgoto da Zona Norte estão previstos para implantação a partir de 2027.”

Quanto à situação da ponte que atravessa o córrego, o órgão declarou que a situação será encaminhada para estudos sobre viabilidade de intervenção no local.

Conforme a Tribuna já noticiou, as obras tiveram início em janeiro, com previsão inicial de término ainda este mês. A Secretaria de Obras, por meio de sua assessoria informou, no entanto, que, devido à complexidade, a previsão de término é para o final deste ano.

 

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