Tribuna estreia coluna que vai debater o espaço do idoso na cidade
Pensando no crescimento da população acima dos 60 anos, jornal convida José Anísio Pitico da Silva para escrever às sextas-feiras. Leitor poderá falar, ouvir e sugerir caminhos
O trabalho com as pessoas idosas foi uma surpresa para o assistente social, gerontólogo e mestre em serviço social José Anísio da Silva, que dividirá com a Tribuna as suas inquietações e vivências, por meio da Coluna ‘O idoso e a Cidade’, que estreia nessa sexta-feira (25). Nascido em Porciúncula (RJ), em 1961, ele veio para Juiz de Fora com 7 anos, com o pai e os irmãos. Ganhou do pai o apelido de Pitico, que contrasta com a altura dele, inversamente proporcional, mas que ele diz que o ajuda a se situar. “Gosto muito de Juiz de Fora. Sem ser clichê, ela me recebeu, recebeu a minha família, me permitiu estudar, fazer amizades. Sou muito grato, e essa é a forma que eu tenho de retribuir um pouco. Juiz de Fora tem uma coisa de capital, tem lugares, encontros, esquinas e amizades formadas pelos estudos, de muitas pessoas que vêm de fora, de roças. Juiz de Fora me permite não perder essa origem e me dá a oportunidade de construir coisas novas. Mas não perco o lugar do pequeno, essa miudeza e essa pequenice que tenho de Porciúncula.”
Pitico se graduou em Serviço Social pela UFJF e, ao passar em um concurso da Prefeitura, foi convidado para trabalhar no Grupo de Idosos, que, na época, tinha ascendência da Legião Brasileira de Assistência (LBA). Com a transição para a Constituição de 1988, a gestão da assistência social passou a ser responsabilidade dos municípios, e José Anísio ajudou a fundar o Pró-Idoso. Nessa fase, ele ouviu de uma das atendidas uma pergunta que o perseguiu na construção de sua trajetória profissional: “O que esse menino vai fazer com a gente aqui?”. “Essa foi a minha iniciação, o meu batismo naquele grupo de idosos. Aí eu pensei: ‘ou eu vou, ou eu paro’. Eu fui”, relatou. “Graças a essa frase, eu percebi que não passa pela idade. Fui amadurecendo em mim minhas buscas pessoais, até mesmo no sentido da minha liberdade de expressão, de afeto e de amor. Hoje, falo que o campo da velhice é o campo que me cabe. Onde concentro as minhas frustrações, minha incompletude, minhas conquistas, meus devaneios, meus sonhos e o desejo de ter uma vida melhor para todo mundo.”
O encontro com o desafio profissional de lidar com os idosos fez com que José Anísio da Silva se conectasse a outras áreas. Como cidadão, passou a entender as necessidades e lutas dessa população, no campo científico, deu sequência a seus estudos sistemáticos sobre o envelhecimento. “Foi uma entrada por dentro, para que eu pudesse me expressar politicamente, como cidadão que trabalha com o envelhecimento. Quando falo que advogo em causa própria, eu falo a verdade. Se eu não me tornar uma pessoa melhor depois disso, dei com os burros n’água, porque é uma oportunidade muito rica. Objetivamente, o campo é muito adverso, de apoio político, social e de investimento financeiro. Ainda mais no quadro atual, em um país que terá seus gastos com saúde, educação e assistência congelado por 20 anos.”
Idosos como protagonistas
Enquanto a sociedade ainda encurta a sua visão sobre o cidadão idoso no pragmatismo das relações sociais, Pitico chama a atenção para que as pessoas pensem em uma construção a longo prazo e, por isso, é preciso sensibilizar as pessoas. “A coluna me fortalece nesse caminho de poder falar, ouvir e sugerir caminhos. Ela me dá a oportunidade de tocar em um assunto que ainda é obsceno, por estar fora de cena, nas perspectivas social, pública e familiar. Pensando que vamos ter muito mais velhos daqui a cinco, dez anos. Se desejamos uma cidade civilizada, com alto padrão de civilidade, nós temos que investir nos mais velhos. A cidade não pode prescindir de ninguém.”
Para Pitico, é fundamental atualizar a imagem que se faz do idoso, uma figura amarelada, que ainda é associada ao pijama, ao crochê e às horas em frente à televisão, sem atividades. “Temos mais de 90 mil pessoas com mais de 60 anos em Juiz de Fora, e essa é uma nova face da esfera global. O mundo está envelhecendo mais ativo, mais cidadão, mais participativo. Precisamos de uma nova sociabilidade. Para que os idosos que estão lá na última fila possam chegar à frente com respeito, com a exigência de políticas públicas, para que a cidade possa dizer, com propriedade, que é amiga dos idosos.” O espaço político cada vez mais ocupado pelo cidadão idoso, com instrumentos, como a Câmara Sênior, são o futuro para Pitico, com suas construções coletivas, com os idosos como protagonistas, opinando em políticas públicas não exclusivas para a sua faixa etária.