Laboratório de JF acompanha possível reinfecção por coronavírus
Paciente testou positivo duas vezes para a doença, entre 15 de junho e 20 de julho, apesar de ter tido diagnóstico negativo neste período
Um possível caso de reinfecção por Covid-19 está sendo acompanhando pelo Laboratório Lemos em Juiz de Fora. Trata-se de uma paciente assintomática, que fez o primeiro exame no dia 15 de junho, quando o resultado foi positivo. Na ocasião, o laboratório repetiu o exame com outro equipamento e também mediu a carga viral, que apontou a presença do vírus. Entretanto, neste mês, ela apresentou sintomas e foi testada novamente, e o resultado também foi positivo, com uma carga viral ainda maior.
De acordo com o biólogo especialista em análises clínicas, Lúcio Lemos, que também é diretor técnico do laboratório, quando há a medição da carga viral, é aferida a quantidade de vírus presente por mililitro no material colhido. Após o tempo determinado para verificar se ela estava curada depois da primeira infecção, ela foi considerada recuperada, pois testou negativo. “Essa pessoa se curou e voltou nas quatro semanas seguintes e realizou novos testes. Em todos os quatro, o resultado foi negativo. Mas quando veio no dia 20 de julho, ela testou positivo novamente. Fizemos novamente o exame da carga viral e o resultado deu positivo. Ou seja: ela negativou para a doença e se infectou de novo”, explicou Lúcio à Tribuna.
Antes desse segundo resultado, no entanto, a paciente teve sintomas, como febre e dor. “Não foi nada grave, mas ela está sendo acompanhada por uma médica. Porém, nessa segunda vez, ela se mostrou mais suscetível ao vírus.” Conforme o especialista, não há como afirmar, por enquanto, o que influencia para que as duas ocorrências tenham sido diferentes. A diferença da quantidade de carga viral, por exemplo, pode estar relacionada a diversos fatores.
Lúcio pontuou ainda que em casos em que o tempo entre os exames é curto, pode ser que a negativação do vírus não tenha ocorrido. Mas na situação específica dessa paciente, há quatro exames com resultados negativos entre um teste positivo e o outro. “Pelo que acompanhamos, parece ser um caso de reinfecção. Ela teve contato com o vírus novamente.” Conforme Lúcio, em ambas as ocorrências, a notificação foi encaminhada à Vigilância Sanitária.
Procurada pela Tribuna, a Secretaria de Saúde da Prefeitura de Juiz de Fora informou que recebeu, na tarde desta quarta, o segundo exame positivo da paciente. Em nota enviada ao jornal, a pasta diz que “o Departamento de Vigilância Epidemiológica e Ambiental (Dvea) verificou que se trata de uma pessoa que reside em outro município. Nesse sentido, a investigação do caso cabe à cidade de origem (da paciente)”. O caso, portanto, foi encaminhado para a Superintendência Regional de Saúde (SRS) e para o município de residência da paciente. Desta forma, segundo a PJF, estes dados não vão entrar para o boletim epidemiológico de Covid-19 divulgado diariamente.
Segundo o laboratório, a paciente deve fazer um novo teste nesta quinta-feira (22).
Investigações em andamento
Nesta terça (21), a Agência Brasil divulgou que o Hospital das Clínicas de São Paulo informou que há duas situações de possível reinfecção em estudo. Em ambos os casos, as pessoas apresentaram os sintomas e tiveram exames com resultado positivo para o vírus em dois períodos diferentes. No entanto, o Hospital ressaltou, ao longo dessa semana, que a possibilidade de reinfecção é pouco provável, por não ter outros casos registrados na literatura médica internacional. Há estudos em andamento por todo mundo que se dedicam a identificar a duração da imunidade nas pessoas que tiveram contato com o novo coronavírus.
Falsos negativos
À Tribuna, o biólogo Lúcio Lemos explicou que há uma diferença muito grande entre os exames. Além daqueles que detectam o vírus, há também os que identificam anticorpos. O RT- PCR (Reação em Cadeia da Polimerase em Tempo Real) busca identificar o vírus, mas há diferença para o mesmo teste feito entre aparelhos diferentes. Alguns conseguem captar um número menor, e outros só verificam o vírus a partir de uma faixa com maior concentração.
O que Lemos destaca é que mesmo em indivíduos que têm uma carga viral menor, sintomas mais graves podem se desenvolver. “Os (equipamentos) que detectam só a partir de uma faixa maior de concentração podem indicar falsos negativos, porque são incapazes de ver, por exemplo, menos que cem cópias do vírus. É importante salientar que mesmo com uma concentração menor, a pessoa pode transmitir.”
Desse modo, a orientação é de que o paciente que testar positivo faça contato com as pessoas com quem esteve durante os últimos cinco dias.
Ele também destaca que é importante perguntar ao laboratório qual o número de cópias virais mínimas que seu exame é capaz de detectar.
“O fato de as pessoas não se sentirem mal não quer dizer que não estejam com o vírus e que não estão passando para outras pessoas. É importante que o cidadão crie essa consciência e responsabilidade, ao invés de esperar que apenas o estado resolva a situação. “