Juiz de Fora já tem registrados quase 6.500 casos de conjuntivite
Aumento expressivo do número de casos em poucos dias é caracterizado como surto
O número de casos de conjuntivite registrados nesse ano em Juiz de Fora já chega a quase 6.500. O aumento expressivo no número de casos em um curto período de tempo é caracterizado como surto e tem preocupado os órgãos de Saúde. No início deste mês, a Secretaria de Saúde divulgou um alerta sobre o elevado índice de registros na cidade. A Secretaria de Saúde de Minas Gerais (SES/MG) também tem se mobilizado no sentido de evitar o surgimento de mais epidemias no estado. No total, 118 surtos já foram registrados. Apesar de ainda não haver posicionamento oficial sobre as causas, a suspeita é de que se trata de uma epidemia de conjuntivite viral. Apenas na rede municipal de saúde, 5.500 casos foram registrados até 20 de março. Destes, 4.800 foram atendidos nas unidades básicas de saúde (UBSs) e outros 700 em unidades de urgência e emergência. Dados da SES apontam a ocorrência de surtos em outras áreas do estado. Na região, já foram registrados dois surtos em Juiz de Fora, um em São João Nepomuceno e um em Descoberto até 15 de março.
Segundo o subsecretário de Atenção Primária da Secretaria de Saúde, Thiago Horta, a doença não está mais localizada e já está prevalente em todas as regiões da cidade. Por isso, os profissionais das UBSs foram orientados a tratar os casos prováveis e confirmados de conjuntivite com prioridade. A orientação é para que a população também aja contra a doença, procurando o posto de saúde mais próximo do seu domicílio ao primeiro sintoma. “As unidades já estão orientadas. O paciente deve passar por uma consulta clínica com um médico de família, e, se for caso grave ou se o paciente relatar que a doença está prevalecendo há mais de sete dias a partir do início dos sintomas, é considerado caso mais grave. Os profissionais também estão prescrevendo medicamentos para tratamento em domicílio.”
Conforme o subsecretário, medidas de prevenção e de controle também estão sendo adotadas nos postos por meio da orientação feita à população. “Nas salas de espera, os usuários são orientados sobre medidas para evitar a transmissão, como não colocar as mãos no olho, lavar as mãos várias vezes ao dia e se afastar de outras pessoas caso a doença seja diagnosticada.” Outra medida tomada pela Prefeitura foi o acionamento da Secretaria de Educação para evitar o contágio das crianças. “Orientamos as escolas municipais solicitando medidas preventivas, como evitar utilização de bebedouros convencionais, compartilhamento de materiais pedagógicos e brinquedos, que são formas diretas de contágio.”
Mais consultas
Em São João Nepomuceno, onde a situação é ainda mais grave, 6.159 pessoas já foram diagnosticadas com conjuntivite, sendo 2.968 apenas na semana entre 11 e 18 de março. Conforme apuração da Tribuna, o que acontece em São João Nepomuceno também tem ocorrido em Juiz de Fora, com aumento mais expressivo nos diagnósticos a partir de março. Na clínica oftalmológica da Associação dos Cegos, apesar de ainda não haver dados exatos sobre os diagnósticos de conjuntivite, a procura por consultas particulares aumentou cerca de 35%. A instituição tem realizado 45 consultas a mais por semana. Segundo a unidade, a taxa de diagnóstico de conjuntivite nestas consultas é de quase 100%. Na Agência de Cooperação Intermunicipal em Saúde Pé da Serra (Acispes), que conta com centro oftalmológico de referência, de 883 atendimentos realizados neste mês, 703 diagnosticaram a conjuntivite, o que corresponde a quase 80% do número de atendimentos.
Os dados são ainda mais preocupantes quando leva-se em consideração os casos atendidos em hospitais da rede suplementar. No Hospital Albert Sabin, 208 pacientes foram diagnosticados com conjuntivite neste ano. Conforme os dados repassados pela assessoria de comunicação do hospital, o crescimento expressivo foi registrado em março, quando 155 casos foram diagnosticados até 20 de março. Em janeiro foram 11 casos e em fevereiro, 42.
Contabilizando os casos relatados à Tribuna pelos hospitais, a soma é de 6.411 casos. No entanto, esse número pode ser ainda maior, considerando que há diversas clínicas oftalmológicas atendendo pacientes infectados. Além disso, nem todos os hospitais particulares informaram os dados. O Hospital e Maternidade Therezinha de Jesus (HMTJ) e o Monte Sinai não computaram, até então, dados referentes a conjuntivite. Segundo a assessoria de comunicação dos dois hospitais, os casos passarão a ser informados periodicamente em breve. No HMTJ, 28 funcionários informaram ter tido a infecção desde janeiro. Já no Monte Sinai, quando constatados casos no pronto-atendimento, os pacientes são encaminhados para consulta com oftalmologista.
A Santa Casa de Misericórdia também não informou os dados e o Hospital João Penido, ligado à SES, afirmou que não há registros no hospital.
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Existem três tipos da doença
Existem três tipos de conjuntivite: a alérgica, a bacteriana e a viral. As duas últimas são contagiosas, sendo transmitidas por meio do contato direto das mãos infectadas com a bactéria ou o vírus nos olhos. No caso da conjuntivite viral, se uma pessoa saudável toca as mãos ou algum pertence de outra contaminada, suas mãos passam a carregar o vírus. Se os olhos forem tocados com as mãos ainda sujas, a pessoa saudável também passa a manifestar a doença. Conforme o subsecretário de Atenção Primária, Thiago Horta, não é possível definir ainda se os surtos registrados são, de fato, da conjuntivite viral, tipo da doença que seria o mais resistente e de alto contágio.
Para o oftalmologista Luciano Arantes, porém, os registros neste ano têm, sim, relação com um vírus, já que a propagação é muito maior em comparação à observada em anos anteriores. De acordo com o médico, existe ainda a possibilidade de o vírus que causa a doença estar mais resistente, já que muitos casos graves estão sendo registrados. No verão, a doença é ainda mais comum, já que muitas pessoas frequentam piscinas e clubes, fator que pode influenciar na disseminação da doença com as altas temperaturas registradas em março. “Tivemos grande número de casos em pouco tempo. Ainda não há como saber exatamente qual é o vírus, mas percebemos que ele é mais ofensivo e que cada um responde de um jeito. Temos casos em que a doença é mais leve e outros em que é mais agressiva. Isso acontece quando a pessoa está com imunidade baixa, devido a estresse ou alguma medicação que já debilita o organismo.” Por isso, de acordo com o especialista, é que existem casos em que o paciente apresenta outros sintomas, como um quadro gripal associado aos sintomas percebidos nos olhos.
Para o clínico geral da Acispes, instituição que tem atendido casos graves da doença, o principal fator para diminuir o número de ocorrências é a higiene das mãos. “Deve-se lavá-las, de preferência, com água e sabão, de cinco a seis vezes por dia, além da utilização do álcool 70 em gel. Assim, automaticamente, elimina-se o vírus.” Questionado sobre a possibilidade de contrair a conjuntivite sem o contato, apenas pelo ar, o médico explica que, ocasionalmente, o vírus pode ficar suspenso ou pode ser transmitido por um espirro ou tosse, mas a probabilidade é remota. A orientação principal é evitar o contato físico e o toque nos olhos.
Pacientes devem ter material de uso pessoal separado
A orientação é que, aos primeiros sintomas (ver quadro), o paciente procure atendimento médico para evitar agravamento e possível potencialização da doença. “Se a pessoa sentir que o olho não está normal, que está um pouco vermelho, com as pálpebras colando, com sensação de areia nos olhos, lacrimejamento ou fotofobia, é preciso separar o material de uso pessoal e já passar a lavar os olhos com água filtrada gelada e soro fisiológico.”
Outra orientação é o cuidado com crianças, já que locais fechados, como escolas e creches, propiciam a disseminação da mais fácil. Além disso, os pequenos não compreendem os cuidados que devem ser tomados. “É preciso observá-los. Se for constatado algum sintoma, deve-se separar a toalha de rosto, assim como o material de uso pessoal, as fronhas e os travesseiros. Mas a orientação principal é procurar um profissional de saúde e consultá-lo ao menor sinal de sintomas, para saber qual é o melhor tratamento. Não é indicado procurar as farmácias sem orientação médica ou se automedicar”, destaca o oftalmologista Luciano Arantes.