Um ano sem Juracy Neves: o homem que enxergava além do horizonte
Há 365 dias, Juiz de Fora perdia, aos 88 anos, o médico e empresário Juracy Neves, conhecido por seu pioneirismo e sua força empreendedora
Na manhã do dia 22 de dezembro de 2020, Juiz de Fora perdia o homem da planície, aquele que sempre olhava para frente. Há 365 dias, a cidade perdia, aos 88 anos, o médico e empresário Juracy Neves, conhecido por seu pioneirismo e sua força empreendedora. Marcas inextinguíveis de um homem que se dizia nascido fora do seu tempo. De alguém que compreendia o mundo no qual estava inserido por meio de suas transformações, e era justamente delas que ele tirava energia para seguir seu caminho, sempre arredio às mesmices.
Encorajador das mudanças e de olho no que estava por vir, Juracy idealizou o Jornal Tribuna de Minas, foi fundador do Grupo Solar de Comunicação, hoje Rede Tribuna de Comunicação – formada pelo próprio jornal (nas versões impressa e on-line) e pelas rádios Mix (88,9 FM) e TransAmérica JF (91,3 FM – e, ainda, da Esdeva Indústria Gráfica, conhecida como uma das maiores do seu segmento na América Latina. Empreendimentos que colocam o empresário na vanguarda do setor de comunicação de Juiz de Fora.
Sua sanha pelo desenvolvimento da cidade também se faz presente na construção civil, com lançamentos de edifícios e loteamentos que, posteriormente, se transformaram em bairros. Além disso, Juracy foi provedor da Santa Casa de Misericórdia do município e fundador do Teatro Solar.
Nas palavras do jornalista Paulo Cesar Magela, editor geral da Tribuna de Minas e autor do livro “O homem da planície”, que narra a vida, a obra e as ideias do criador do jornal, Juracy era um sujeito inquieto e que tinha na sua rotina o provérbio chinês, que dá nome à biografia e diz: “Homem da planície, por que sobes tu à montanha? Para melhor olhar a planície…” Na visão de Paulo César, é do alto da montanha, da altura do seu caráter empreendedor, que Juracy Neves, olhando sempre para a frente, sonhou e concretizou seus projetos, deixando um legado substancioso para Juiz de Fora e seus conterrâneos.
Sucesso depende de oportunidade, talento e coragem
Impossível pensar no desenvolvimento de Juiz de Fora sem associar a Juracy Neves. É em Lima Duarte, no início de sua infância, que começa a saga de Juracy rumo a Juiz de Fora. A morte de seu pai, José Antunes, quando ele tinha apenas 11 anos, foi traumática, mas serviu para que Juracy aflorasse em si o espírito empreendedor herdado do pai. As circunstâncias da vida o trouxeram para Juiz de Fora, para onde se mudou com os irmãos e a mãe, já àquela época casada com o padrasto Benedito (com quem a matriarca teve outros três filhos). Foi na cidade que Juracy escreveu sua história pessoal e profissional, usando como referência os ensinamentos do pai e sendo grande exemplo para seus filhos, que, atualmente, fazem parte da diretoria da Tribuna de Minas: Suzana Neves (diretora-presidente), Márcia Neves (diretora-geral), Marcos Neves (diretoria de edição) e André Neves (atual diretor da Esdeva).
Entre as realizações que mais orgulhavam o homem da planície estava sua passagem pela Santa Casa de Misericórdia, na qual, em dois mandatos, o médico, formado pela primeira turma da UFJF, em 1958, contribuiu para a implementação do plano de saúde Plasc, salvando a instituição da falência. Outra marca de sua trajetória foi sua candidatura à Prefeitura, em 1992. A empreitada não foi exitosa, mas rendeu aprendizado. “O sucesso depende primeiro da oportunidade, segundo, do talento, terceiro, da coragem. Oportunidade aparece para todos, mas é preciso ter talento para saber aproveitá-la e coragem para embarcar. Sou um homem que nunca perdeu uma oportunidade”, considerou Juracy em entrevista ao projeto Diálogos Abertos, do Museu de Arte Murilo Mendes, em 2009.
Homem da comunicação e de muitos legados
Ao longo de quatro décadas, a Rede Tribuna de Comunicação, menina dos olhos do visionário que foi Juracy Neves, conta e continua contando a história de Juiz de Fora para seus cidadãos. Os veículos que fazem parte do grupo cumprem o papel de registrar, mobilizar e transformar a cidade, sempre na tentativa de devolver-lhe o protagonismo regional. Jornalistas de várias gerações passaram pelas redações das empresas de Juracy, usando de seu talento com o objetivo de fazer de Juiz de Fora um município a favor dos ventos do desenvolvimento, seja nas páginas do jornal ou nas ondas da rádio.
O jornalista Márcio Guerra, atual secretário de Comunicação da Prefeitura de Juiz de Fora, na ocasião da morte de Juracy em decorrência de parada respiratória, disse: “Ele era um homem novo nas ideias e nos objetivos, a missão dele foi cumprida. Tenho certeza de que o legado que ele deixa é o que a cidade tem que reverenciar constantemente”, disse o jornalista que integrou as equipes de repórteres do grupo.
Figuras importantes dos mais variados campos de atuação também ressaltaram a relevância de Juracy Neves para a cidade, como a prefeita Margarida Salomão, que enfatizou: “Um homem que deixa na história de Juiz de Fora a marca da sua presença visionária, do seu desejo de desenvolvimento da cidade e da região.”
“Uma cidade para desenvolver precisa de pessoas com coragem para vencer os obstáculos”, destacou Emerson Beloti, presidente do Sindicomércio-JF. “Teremos a memória permanente de tudo que o doutor Juracy representou. Ele será imortalizado por tudo que construiu”, disse Célio Chagas, presidente do Hospital Albert Sabin e da Agência de Desenvolvimento de Juiz de Fora e Região. “Juracy Neves, um homem de comunicação, um dos maiores de Minas Gerais, construiu grandes veículos de comunicação. É uma perda lamentável, difícil para Juiz de Fora, de tanta história feita por ele”, afirmou Paulo Tristão, titular do Tribunal do Júri da Comarca de Juiz de Fora. “Juracy Neves foi um dos maiores empreendedores que Juiz de Fora teve nos últimos anos, um grande exemplo de pessoa humilde que chegou onde chegou com muito esforço e sabedoria, grande exemplo e incentivador das novas gerações de empresários da cidade”, arrematou Jovino Campos, CEO do Grupo Bahamas, entre tantas pessoas que manifestaram a perda do fundador da Tribuna de Minas.
Além do horizonte
O legado de Juracy Neves foi reconhecido em vida, o que demonstram os prêmios e as honrarias que recebeu ao longo de sua existência. “Tudo o que pretendia realizar, realizei. Mas meus sonhos não eram impossíveis”, afirmou Juracy, em matéria publicada pela Tribuna em 2019.
Como bem escreve Paulo Cesar na abertura de seu livro, o homem da planície sobe a montanha sem jamais olhar para trás, assim como Juracy depositou toda sua força em busca de transformações, olhando sempre à frente, enxergando além do horizonte, confiante na certeza de que os limites podiam e deviam ser ultrapassados em prol de uma vida e de uma cidade melhores.