Para acessar escola, alunos se arriscam ao atravessar a BR-040

Tribuna acompanhou o trajeto feito pelos estudantes da Avenida JK até a unidade do Sesi/Senai, próximo à montadora na Zona Norte; veja vídeo


Por Nayara Zanatti, estagiária sob supervisão da editora Rafaela Carvalho

22/03/2022 às 07h45

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Reportagem flagrou estudantes da escola técnica do Sesi/Senai pulando a mureta que divide a pista da BR-040 para acessar a instituição de ensino (Foto: Fernando Priamo)

Estudantes da escola técnica do Serviço Social da Indústria e do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Sesi/Senai) da unidade Luiz Adelar Scheuer, próximo a uma montadora, na Zona Norte de Juiz de Fora, enfrentam situação de perigo para chegar à instituição de ensino. A Tribuna esteve no local e flagrou os riscos vivenciados diariamente pelos alunos no trajeto até a escola. A dificuldade de acesso se dá, principalmente, em razão dos horários reduzidos do transporte coletivo, segundo apontam os próprios jovens. Eles explicam que o problema acontece por causa da pouca oferta de linhas que têm como destino o pátio da montadora, deixando os estudantes de forma segura na região.

Sem alternativa, uma vez que os carros estão sempre lotados, os estudantes utilizam as linhas que atendem o Bairro Barreira do Triunfo, parando na Avenida Presidente Juscelino Kubitschek e seguindo a pé até a unidade do Sesi/Senai. Depois que descem no ponto de ônibus, os alunos atravessam a via e caminham pelo acostamento até entrar em um terreno baldio, onde há mato alto e chão de terra, ainda na altura da Barreira do Triunfo. Depois de cortar todo trecho por uma trilha estreita, os jovens acessam a BR-040, onde a velocidade máxima permitida é de 110 km/h. Para chegar à escola, eles têm que atravessar as duas pistas da estrada, pulando a mureta que divide a via.

Apenas no período em que a Tribuna esteve no local, das 12h às 13h de quarta-feira, dia 13, mais de 30 alunos passaram pelo trajeto. Um estudante descreve os problemas enfrentados. “Quando chove o terreno fica cheio de barro, e nós temos que passar em meio à lama, chegamos à escola cheios de barro. O pior de tudo é que a gente tem que atravessar essa área (a BR-040), porque tem poucos ônibus que nos levam lá dentro do instituto.”

Ao longo do caminho, a reportagem percebeu que a trilha de terra vai ficando reduzida, e os alunos precisam passar nos trechos com mais vegetação.

No percurso, é possível encontrar restos de materiais de construção, lixo e outros objetos despejados no terreno, o que torna propício ao aparecimento de animais, como cobras e ratos. Após fazer a travessia, de cerca de cem a 150 metros de distância, os alunos chegam à BR-040, próximo ao km 773.

Com o tráfego intenso de veículos no local, os jovens correm por uma das pistas até chegar à mureta que divide a rodovia. Eles têm que pular a barreira de divisão para acessar o outro lado da pista, colocando em risco suas vidas. Durante o flagrante feito pela reportagem, é possível ouvir as buzinas dos carros e caminhões que passam pela rodovia. Por fim, seguem pelo acostamento da estrada até entrarem no trevo que dá acesso à área da montadora. Ali, eles caminham mais um trecho a pé até alcançar as dependências da escola.

A maioria dos estudantes entrevistados pela Tribuna reclama das dificuldades e perigo que enfrentam diariamente. “Está complicado. Todo dia nós fazemos esse trajeto, sem contar que atravessamos aqui e é bem perigoso para pular a baliza da BR. Isso quando não está chovendo, o que deixa tudo mais difícil”, desabafa um dos alunos.

Pais solicitam mais horários de ônibus

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Antes de chegar à rodovia, estudantes descem em ponto de ônibus da Avenida JK e passam por um terreno baldio cheio de mato. A maioria dos jovens teme pelos riscos, mas diz que faz esse trajeto por falta de linhas de ônibus (Foto: Fernando Priamo)

A mãe de um dos estudantes, que preferiu não ser identificada, manifestou sua insatisfação com a situação. Ela diz que os ônibus urbanos que fazem a rota da linha 711 não estão passando no horário em que os alunos precisam chegar à escola e sair da instituição.

“Para os estudantes que entram na escola às 13h, apenas um ônibus sai do Centro, por volta de 11h30, e deixa os alunos na região da montadora. Porém, o veículo vai superlotado e, em um determinado momento do caminho, ele para de pegar passageiros.”

Após este ônibus, não haveria nenhum outro que levasse os estudantes no horário previsto para começar a aula. Com isso, os jovens estão utilizando outras linhas de ônibus, que os deixam na Avenida JK. No horário de retorno, às 17h, o problema seria o mesmo.

Por conta dos riscos a que estão sujeitos seus filhos, pais e responsáveis solicitam mais ônibus nos horários de entrada e saída dos estudantes. A escola oferece aulas em dois turnos, na parte da manhã, das 8h às 12h, e, no período da tarde, das 13h às 17h. Dessa forma, o problema acontece, no mínimo, quatro vezes por dia.

Posicionamento da Fiemg

A Tribuna entrou em contato com a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), responsável pelo Sesi/Senai, que afirmou que as dificuldades de transporte na localidade são “históricas, tendo em vista o bairro se localizar em um dos extremos da cidade, onde as linhas de transporte público atendem a diferentes bairros e demandas”.

A Fiemg também informou que executa ações a fim de “equacionar ou minimizar quaisquer riscos”. “Os horários da linha citada são compatíveis com as necessidades da escola, entretanto, o volume de passageiros é alto, levando alguns alunos a buscarem a utilização de outras linhas que não circulam próximas à escola e exigem a travessia da BR-040.”

Segundo a instituição, já foi protocolado junto aos órgãos competentes pedido de ampliação e melhoria do transporte na região, informando os quantitativos de alunos, horários demandados. Ainda conforme a nota, recentemente, houve êxito com a ampliação de dois horários de atendimento. “Para além disso, já realizamos reuniões específicas sobre o tema com autoridades e órgãos envolvidos”, diz.

A instituição afirma que orienta recorrentemente seus alunos quanto aos riscos, ao optarem pela travessia da rodovia, recomendando não fazê-lo. Ainda segundo a Fiemg, foram ofertados transportes fretados aos alunos vinculados ao programa de governo, que custeia o valor referente à condução, “não podendo, porém, impor a adesão dos estudantes ao serviço”.

PJF fala sobre ajustes nos horários

A reportagem ouviu a Prefeitura de Juiz de Fora e os demais órgãos competentes responsáveis pela região sobre a situação.

De acordo com a Prefeitura, em nota divulgada ao jornal, a Secretária de Mobilidade Urbana (SMU) está realizando constantes ajustes nos horários das linhas de ônibus do transporte coletivo. “No caso, a unidade do Senai localizada no bairro Barreira do Triunfo é atendida pelas linhas 711, 754 e 758. Sugestões e reclamações do transporte coletivo podem ser registradas via Gabinete Comunitário pelo telefone (32) 3690-7241, que também é WhatsApp, ou pela plataforma Prefeitura Ágil“, diz o texto.

Segundo apurou a Tribuna junto à Ansal, as linhas que passam pelo pátio da montadora, na região da escola, são as 754, 711 e 710. No entanto, as linhas 711 e 710 são linhas de extensão e, por isso, informa a empresa, têm horários reduzidos. Além disso, a linha 710 sai do Centro às 11h, o que seria mais cedo do que os alunos precisam para chegar ao Sesi/Senai. Já a linha 754 sai de Benfica às 11h45, e, desta forma, só serviria aos alunos daquela região. A linha 758, por sua vez, sai da região Central por volta do meio-dia, mas também estaria sempre lotada. A linha 714 sai do Centro às 12h40, como consta no site da Astransp, o que não atenderia os alunos.

Reivindicação de passarela

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Alunos acreditam que passarela poderia facilitar travessia e chegada à escola (Foto: Fernando Priamo)

Uma das estudantes que preferiu não se identificar também ressaltou a necessidade de uma passarela nas proximidades do colégio, para facilitar a travessia na via. A Companhia de Concessão Rodoviária Juiz de Fora-Rio de Janeiro, que administra o trecho, informou que a rodovia está sinalizada em conformidade com as normas e padrões vigentes.

“O trecho em questão é monitorado por inspetores de tráfego em rondas e por câmeras, contando com o apoio da fiscalização prestada pela Polícia Rodoviária Federal”, disse em nota a Concer.

A respeito da possibilidade de construir uma passarela na região, a companhia explicou que “não existe, no momento, previsão para implantação de passarela no trecho em questão, mas caso haja interesse público a respeito, a solicitação deve ser formalizada junto à concessionária e aprovada pelo poder concedente”.

PRF orienta acessar trecho por viaduto

A Polícia Rodoviária Federal informou que, até o momento, nenhum registro sobre a situação foi feito. “As fiscalizações acontecem dentro de um planejamento estratégico operacional que contempla todo o trecho sob circunscrição da delegacia, portanto, esse trecho também é costumeiramente fiscalizado”, afirma o PRF Junie Penna.

A PRF também orienta as pessoas que eventualmente utilizam as linhas de ônibus que param na Avenida Juscelino Kubitschek, na altura da Barreira do Triunfo, e necessitem atravessar a BR-040, a fazer o caminho mais adequado, que é no viaduto.
“Pelo viaduto as pessoas podem passar e atravessar para a outra pista de forma segura. Vai andar um pouco mais, mas é o processo mais seguro para atravessar a rodovia”, alerta o policial.

A PRF reitera que caso haja uma situação recorrente de travessia de forma a gerar risco a pedestres, motoristas e passageiros a solução será colocar telas para impedir que as pessoas façam a travessia de forma incorreta.

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