Escolas retomam ano letivo após onda de demissões em JF

Segundo o Sindicato dos Professores, pelo menos cem docentes de instituições privadas perderam postos de trabalho no final do ano passado. Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino fala em reformulação e em cenário econômico difícil


Por Carolina Leonel

22/01/2019 às 07h02- Atualizada 22/01/2019 às 12h29

A duas semanas do início do ano letivo na rede particular de ensino, o cenário para a categoria docente ainda é incerto. A avaliação, do Sindicato dos Professores de Juiz de Fora (Sinpro/JF), se deu após, pelo menos, cem professores de instituições privadas serem demitidos no fim do ano passado em Juiz de Fora. O número foi contabilizado pelo Sinpro/JF com base nas denúncias relatadas ao órgão e com investigação mantida pelos dirigentes em relação às unidades de ensino. Entretanto, de acordo com a coordenadora-geral do sindicato, Aparecida Oliveira, o número de demissões pode ser maior.

“Estamos analisando e investigando a situação. Por enquanto cerca de cem relatos chegaram ao Sinpro/JF, mas não temos certeza sobre o número real. Algumas escolas chamaram o sindicato para acompanhar as homologações, outras não. Então, em alguns casos, só ficamos sabendo pelos professores”, explicou, além de orientar a categoria a manter contato com a entidade de classe para atualizar sobre possíveis novas ocorrências. “Em casos de demissões, os profissionais devem nos comunicar. Nós queremos acompanhar todos os casos neste processo de homologação.”

O Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino (Sinepe/Sudeste) avalia a situação. Para o presidente da entidade, Flávio Dani Franco, além de algumas reformulações dentro dos estabelecimentos de ensino, o atual cenário econômico é o que justifica o alto número de demissões. “Com o fim do ano, as instituições de ensino tendem a se reorganizar. É natural que haja demissões, porque pode ser que alguns professores não estejam se adequando, outros não corresponderam à expectativa da instituição. Porém, o que representa essa demissão maior é a situação econômica difícil do país. As escolas particulares estão perdendo muitas matrículas. Há muitas vagas ociosas em Juiz de Fora e região, o que compromete o setor financeiro destas instituições”, avaliou.

A situação, segundo o presidente, tem feito com que os estabelecimentos de ensino readéquem turmas e reestrutura interna, já que a evasão de alunos tem sido grande. “Consequentemente, como os professores representam o maior quadro de funcionários dentro das instituições, eles recebem primeiro esse impacto”.

‘Cenário vai ser de luta e resistência’

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“O cenário daqui para frente vai ser de luta e resistência porque a reforma da Previdência também está vindo e é gravíssima para o conjunto da classe trabalhadora”, afirma Aparecida Oliveira, coordenadora-geral do Sinpro/JF

Já o Sinpro analisa que tal onda de demissões é consequência de novas regras previstas pela reforma trabalhista, em vigor desde 2017. “Isso é consequência da reforma trabalhista que, ao contrário daqueles que a defenderam dizendo que ela iria gerar mais empregos, está causando demissões, e a rede privada em Juiz de Fora é um exemplo disso”, apontou. A coordenadora rechaça a medida que, na visão do sindicato, precariza as condições de trabalho. “É bem provável que contratarão mão de obra mais barata, professores que trabalharão jornadas infinitas e com salários baixos”, prognosticou.

Uma segunda avaliação da situação, que ainda carece de apuração da entidade, foi levantada por Cida. “A liberdade de cátedra, em muitas escolas, não vem sendo respeitada. Há tentativas de inibição e constrangimento de professores, e nós também estamos observando e analisando a situação”, afirmou.

Com o início do ano letivo, a entidade de classe deverá articular alguma ação contra as demissões. No entanto, com o atual período de férias, nada ainda foi articulado. “O cenário daqui para frente vai ser de luta e resistência porque a reforma da Previdência também está vindo e é gravíssima para o conjunto da classe trabalhadora. Vai ser um ano de muita luta. Após o dia 4 de fevereiro, a gente, com certeza, estará organizando alguma ação, porque isso é o papel do sindicato, de denunciar estas mazelas”.

Reorganização de base dos docentes e nova estrutura organizacional estão entre as justificativas

Segundo a coordenadora-geral do Sinpro, Aparecida Oliveira, os relatos de demissões são oriundos de professores das instituições Centro Universitário Estácio de Sá Juiz de Fora, Instituto Metodista Granbery, Colégio dos Jesuítas e Colégio Santa Catarina.

A Estácio de Sá, por meio de sua assessoria, informou que os desligamentos realizados fazem parte de um processo natural da instituição de ensino. A nota da Estácio Juiz de Fora cita que “(A instituição de ensino) periodicamente precisa rever a sua base de docentes, adequando-a às necessidades do mercado, demandas de cursos e às particularidades das praças em que atua. A Estácio é um dos maiores grupos de ensino do país, que continuamente realiza ajustes na sua operação como um todo, buscando um crescimento sustentável para ofertar ensino de qualidade em larga escala”.

Sob o argumento da necessidade de “desenhar e implementar uma nova estrutura organizacional”, o Colégio dos Jesuítas publicou em seu site uma carta assinada pela equipe diretiva da instituição em que destaca as principais modificações para a implementação de uma nova estrutura educacional na instituição, a partir de 2019. Além disso, a carta cita nova organização das coordenações do colégio. De acordo com o texto, o modelo atual será substituído por coordenações de unidade com profissionais específicos. O documento não faz nenhuma sinalização às demissões, mas finaliza com um agradecimento “aos que deixam o colégio” pela contribuição dada. A Tribuna entrou em contato com o colégio, que comunicou que a instituição já havia se posicionado sobre o assunto no site.

O Instituto Metodista Granbery divulgou uma nota no site com o posicionamento da instituição sobre alguns pontos questionados pelos pais em relação a algumas mudanças implantadas – entre eles, as demissões de professores “realizadas sem explicação do real motivo”. Segundo a nota, o instituto realizou alguns desligamentos que julgou necessários e também enfrenta efeitos da “crise nacional” e, portanto, alguns ajustes tiveram de ser feitos. “Estão sendo feitos alguns ajustes organizacionais, pedagógicos e mudanças internas (…) deixamos nosso respeito a todos que estão conosco e os que foram desligados. Com muita responsabilidade e prudência estamos formando uma nova equipe e uma nova proposta interna para o colégio”, pontua a nota. O Granbery também foi procurado através de e-mail, mas não deu mais esclarecimentos ao jornal.

A Tribuna também entrou em contato com o Colégio Santa Catarina que, em nota, respondeu à solicitação da reportagem na manhã desta terça-feira (22). Segundo a assessoria de imprensa do colégio, no fim do ano passado foram realizados quatro desligamentos de professores na instituição. Três foram demissões realizadas “por reestruturação da grade curricular”. O quarto desligamento foi realizado a pedido da própria profissional.

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