Ministério da Saúde monitora a resistência do aedes aos inseticidas
Estudo nacional coordenado pela Fiocruz tem em Juiz de Fora uma de suas bases de pesquisa. Outros nove municípios mineiros integram a iniciativa que visa avaliar o comportamento das populações do mosquito transmissor da dengue, zika e chikungunya
Juiz de Fora está entre os 145 municípios brasileiros que participam de um estudo, coordenado pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), para monitorar a resistência de mosquitos Aedes aegypti a inseticidas, em todo o território nacional. A informação foi confirmada pela gerente do Departamento de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Saúde (SS) da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), Michele Freitas. A iniciativa integra o Programa de Combate à Dengue, Zika e Chikungunya, da Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, em parceria com as secretarias estaduais e prevê a distribuição de mais de 20 mil armadilhas em todo o país. Em Minas, outros oito municípios, além da capital, estão incluídos no levantamento.
“A avaliação de resistência é feita para que se tenha o conhecimento de qual inseticida usar no controle, qual funciona melhor e qual não funciona no combate ao mosquito”, explica José Bento Pereira Lima, chefe do Laboratório de Fisiologia e Controle de Artrópodes Vetores do IOC e coordenador do estudo. Para efeito de análise, o Instituto Oswaldo Cruz vai avaliar o uso da substância ‘pyriproxyfen’ no combate a larvas e do ‘malathion’ em mosquitos adultos – ambas recomendadas atualmente, pelo Ministério da Saúde, como medida complementar de combate ao vetor.
Segundo o pesquisador da Fiocruz, a cada quatro anos, há um rodízio da classe dos inseticidas usados, exatamente para evitar a seleção de populações de mosquitos resistentes. Assim os estudos ajudarão o governo a ter uma base válida para identificar qual a substância será mais efetiva, orientando a tomada de decisão. O levantamento prossegue nos próximos meses com prazo de conclusão em meados de 2018.
Para manter a mesma base da pesquisa que envolve centenas de agentes de endemia, no país, o IOC/Fiocruz desenvolveu uma metodologia para coleta de ovos Aedes aegypti e treinou, por meio de vídeo e cartilha com o passo a passo, os agentes dos municípios participantes indicados por representantes do controle vetorial de cada estado. Eles foram instruídos quanto à preparação da armadilha, seleção do local de instalação e envio do material para o laboratório.
Como é feita a coleta
Na montagem das ovitrampas, armadilhas aplicadas para fins de monitoramento, são utilizados potes de planta. “Optamos pela paleta de eucatex que tem a superfície rugosa e onde a fêmea deposita seus ovos. Além da água, colocamos levedo de cerveja, numa porcentagem bem baixa, 0,04% como atrativo por causa do alimento”, explica José Bento.
Cada município faz a coleta, por duas semanas. Na primeira, instala a armadilha e após sete dias troca a paleta. Uma semana depois, todo o material é recolhido e as paletas enviadas para o IOC/Fiocruz. “No laboratório, colocamos os ovos para eclodir e criamos os mosquitos até a fase adulta. É preciso fazer uma triagem porque, às vezes, não capturamos apenas o Aedes aegypt. Separamos por espécies e os alimentamos para obter os ovos dessa geração. Parte dos adultos segue para o ensaio molecular, no qual verificamos se houve alguma mutação. Com os ovos e mosquitos adultos realizamos o ensaio biológico – com larvicida e adulticida”, acrescenta o pesquisador. Como o trabalho de análises a executar é intenso, o IOC/Fiocruz conta com a parceria do Laboratório de Entomologia Aplicada da Superintendência de Controle de Endemias (Sucen), da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, localizado em Marília.
O perigo dos inseticidas
Para o pesquisador, a aplicação de inseticidas no combate ao Aedes aegypti deve ser adotada com muito critério, uma vez que o uso indiscriminado desses produtos pode selecionar populações de mosquitos resistentes, ou seja, que possuem características genéticas que os permitem sobreviver ao inseticida. “Por isso é tão importante conhecer como estão as populações de mosquitos em todas as regiões do país. O inseticida é um neurotóxico. Ele atua no sistema neurológico do mosquito e pode ser que atue no nosso também. Então, a melhor medida é sempre atuar junto ao criadouro pois é mais fácil eliminar as larvas”, conclui.