Cidade tem 75 imóveis arrombados por mês
Acender a luz do próprio quarto e se deparar com um ladrão em frente à cama. A cena, que parece de filme, traumatiza quem já esteve cara a cara com um bandido dentro de casa. A situação foi vivida por uma artesã, de 33 anos, e pelo marido, moradores do Bairro Nova Era, na Zona Norte, que tiveram o imóvel invadido, na madrugada do dia 1º deste mês. Outros casos parecidos também foram registrados nos últimos meses, assustando a população. Em geral, bandidos armados invadem as casas durante a noite sem se importar com a presença dos moradores. No ano passado, segundo levantamento da Secretária de Estado de Defesa Social (Seds), a média foi de 75 arrombamentos mensais a residências, levando-se em conta que, de janeiro a novembro, foram feitas 830 notificações.
No crime ocorrido na casa da artesã, o ladrão teria escalado a parede do imóvel até o segundo andar, entrado na sacada e aberto a porta de vidro do quarto dela, conseguindo entrar enquanto o casal dormia. “Ele passou por nós e pela nossa cachorrinha. Todos dormíamos. Ele andou dentro da casa toda e, em certo momento, fez um barulho, acordando nosso cão, que começou a latir. Nessa hora, eu e meu marido acordamos e acendemos a luz do quarto, e o ladrão estava lá, parado na nossa frente”, relatou a vítima, acrescentando: “Acho que, quando começaram os latidos, ele tentou fugir pelo mesmo lugar por onde entrou e, assim, acabou se deparando conosco no quarto. Fiquei com muito medo de acontecer o pior comigo e com meu marido”, disse a mulher.
Conforme ela, o ladrão parecia estar sob efeito de alguma droga e pedia dinheiro o tempo todo, alegando que estava armado com um revólver debaixo da camisa, embora o casal não tenha visto a arma de fato. “O bandido parecia muito nervoso, e meu marido tentou acalmá-lo. Eu pedia pelo amor de Deus para ele ir embora.” O ladrão subtraiu R$ 200, um notebook, um celular e documentos das vítimas, fugindo em seguida. “Antes de sair, ele disse que era para não gritar e para não chamar os ‘homens'”, relatou a vítima.
Depois que o criminoso fugiu, a PM foi acionada e realizou rastreamento pela região, mas nenhum suspeito foi localizado. “É uma sensação de impotência, de medo e de impunidade. Agora, vou mandar cercar toda a minha casa. Vamos colocar grades e blindex. Tenho que me engaiolar para me sentir segura”, desabafou a artesã, contando que, do dia do crime até a data da entrevista à Tribuna, dois dias depois do episódio, não tinha conseguido sair de casa. “Estou com muito medo, inclusive de ele voltar.”
No dia 23 de janeiro, uma família passou pelo mesmo sufoco, no Bairro Nossa Senhora Aparecida, Zona Leste. Um homem invadiu o apartamento, escalando o poste de iluminação pública, e uma professora, sua mãe e o irmão adolescente ficaram trancados cerca de uma hora dentro de um quarto, enquanto o bandido revirava toda a casa. O homem fugiu e, apesar do acionamento da PM, ninguém foi encontrado.
Vítimas reforçam segurança
Moradora da Rua Ataliba de Barros, no Bairro São Mateus, Zona Sul, a assessora de comunicação Maria Elisa Duarte, 33 anos, sofreu o trauma de ter seu apartamento invadido. O crime aconteceu em 21 de janeiro, quando a porta da frente de seu imóvel no primeiro andar do prédio foi arrombada. “Eles passaram pela portaria, subiram a escada e chegaram na minha porta, forçaram e conseguiram entrar”, relatou a vítima, que acredita que a invasão foi realizada por dois homens, pois, além de TV, notebook e mochila, eles levaram duas bicicletas. Segundo ela, o crime aconteceu entre 13h e 16h, quando ela e outra moradora do apartamento estavam no trabalho. “Eles reviraram tudo, comeram o que tinha e deixaram uma bagunça na cozinha. Mexeram no quarto e nas gavetas”, contou Maria Elisa, que, após o arrombamento, procurou por conta própria as bicicletas furtadas em diversos bairros.
“Também procurei várias lojas e oficinas de bikes para o caso de eles tentarem vendê-las. Se isso acontecer, vamos ficar sabendo”, disse a vítima, acrescentando: “O que fica é uma sensação de invasão, não somente do espaço físico, pois minha alma foi invadida, porque mexeram em coisas íntimas. Depois do crime, fiquei com nojo e tive que desinfetar tudo em casa.” Para se sentir segura no próprio lar, Maria Elisa instalou grades nas janelas e mandou reforçar a fechadura da porta.
Equipamentos
Cláudio Freitas, proprietário do Chaveiro ABC, no Bairro São Mateus, afirma que, nos últimos dez anos, houve um aumento considerável na procura por tetra chave. “A demanda cresceu cerca de 50%, porque também cresceram os casos de arrombamentos”, afirmou o profissional que atende chamados para residências e estabelecimentos comerciais e está no ramo há 33 anos. “Quase todos os dias, temos alguém querendo reforçar sua fechadura”, diz Cláudio, advertindo: “Sessenta por cento das pessoas deixam para reforçar as portas depois que acontece um arrombamento.”
Ele pontua que a tetra chave é a campeã de instalação, mas afirma que já há o tecnoponto, um sistema um pouco mais caro. “Quando a pessoa opta por uma fechadura normal, deve procurar as melhores marcas e também um profissional qualificado para instalação. Os ladrões conhecem as fechaduras e sabem quais oferecem menos resistência.”
Rede de Vizinhos Protegidos
Com a finalidade de inibir os arrombamentos, a Polícia Militar informou que uma das ferramentas que vem sendo utilizada com êxito é a implantação da Rede de Vizinhos Protegidos nos bairros. O programa consiste no envolvimento direto dos moradores com o espaço físico onde residem. Segundo a corporação, tal iniciativa já demonstrou efetividade onde foi implantada e seu custo é quase zero, sendo necessário apenas interesse dos moradores com a participação técnica da PM. Se houver o interesse da comunidade, basta procurar uma base policial mais próxima e apresentar tal demanda que terá a orientação necessária.
A Polícia Militar ainda orienta que sejam adotadas medidas de proteção ao patrimônio, como: reforçar os pontos vulneráveis dos imóveis e evitar deixar à mostra objetos, como escadas, os quais poderão facilitar a ação de um criminoso. A PM ainda recomenda que, quando possível, devem ser implantados sistemas de segurança para a residência, como alarmes, cerca eletrificada, dentre outros similares. A corporação ainda orienta as vítimas de arrombamento à residência a não reagirem seja em quais forem as circunstâncias.