Mais um juiz-forano tira nota mil na redação do Enem


Por Juliana Netto

20/01/2017 às 17h44- Atualizada 20/01/2017 às 19h25

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“Jovem normal”, fã de filmes, livros e Beatles, Igor diz que o segredo para a nota mil é aprender a escrever a partir do modelo proposto pelo exame (Foto: Leonardo Costa)

Dos 77 alunos que tiraram nota mil na redação do Enem, de um universo de cerca de seis milhões de estudantes que prestaram o exame, pelo menos dois são de Juiz de Fora. Anteriormente a Tribuna apresentou a jovem Nathália Couri Vieira Marques,18 anos, agora é a vez de Igor Mota Farinazzo Giovannetti, também com 18 anos, morador do Bairro Alto dos Passos. Aluno do Colégio Santa Catarina – que também passou pelo Apogeu no primeiro ano no ensino médio -, ele pretende obter uma vaga entre os aprovados no curso de Engenharia Química, da UFMG.

Diferente da colega Nathália Marques, também do Santa Catarina, que optou por aperfeiçoar a preparação em um curso de redação fora do colégio, Igor revela que preferiu contar com as ferramentas oferecidas pela instituição. “Não fiz nenhum cursinho. O colégio disponibilizou redações extras no sistema. Como não pretendia pagar por uma preparação adicional, acabei usando o que tinha, além de alguns materiais oferecidos pelas plataformas do Enem na internet”, explica.

Além da área de exatas, o jovem se diz apaixonado por cursos de humanas, sobretudo o de letras, opção que, segundo ele, só não entra em sua lista por conta do mercado de trabalho. E o interesse pelas duas áreas foi um dos fatores que garantiu o desempenho de Igor na redação. “Às vezes, a gente tem uma ideia muito falsa de que quem faz boa redação é muito inteligente. Quem tira nota mil não é nenhum alienígena. A redação tem critérios, e a gente precisa estar interado. Não se trata de uma questão de inspiração, e sim prática. É preciso saber o modelo, a forma de fazer o texto e conhecer a questão da rasura, do espaço”.

Outro estereótipo criticado pelo estudante está no tempo de estudo. “Nunca fui uma pessoa tão disciplinada. Tinha dias que estudava muito, tinha dias que estudava pouco. Desde o início do ano, coloquei na cabeça e foquei nisso (Enem)”, revela ele, que se definiu como pouco estudioso até tempos atrás, antes de se mudar para Barbacena e receber de perto o incentivo do pai. Igor confessa que não se preocupou muito em fazer muitas redações preparatórias. “Eu fazia uma, duas redações por semana, no máximo. E, para ser sincero, nunca foi uma pessoa muito atualizada. Sempre perguntava para outras pessoas assuntos que às vezes eu não tava por dentro. Quando tinha um tema importante, fazia um texto e levava para a professora corrigir”, confessa.

O professor de redação Edson Munck explica que a dedicação e o compromisso do aluno foram fundamentais para o resultado. “O Igor assumiu esse compromisso de buscar sempre o melhor, aprimorando sua habilidade e demonstrando no texto escrito. Além disso, gostaria de ressaltar que ele não se ateve a um modelo externo de construção de texto. Ele desenvolveu a redação empregando o estilo e a maturidade dele, com liberdade autoral. E esse é um dos requisitos dos avaliadores do Enem, no qual ele foi muito bem sucedido”, afirma.

Análise histórica e religiosa

A “Intolerância religiosa”, tema da redação deste ano, foi analisada pelo jovem a partir do contexto histórico e religioso do Brasil, usando como referência o livro “Casa grande e senzala”, do sociólogo Gilberto Freyre. “Escrevi de uma forma normal, destacando a colonização e a formação da cultura nacional, a partir da cultura dos índios, negros e brancos. Eu usei um livro, mas se soubesse uma música, também ficaria bom. Cada um leva o conhecimento que tem”.

Mesmo ciente da importância de ter domínio sobre o assunto, Igor fez questão de frisar novamente o entendimento do modelo proposto pelos examinadores. “As redações do Enem têm sempre temas importantes, como a questão da publicidade infantil e da violência contra a mulher. Eles querem que os alunos tenham uma solução para o problema em um tipo de modelo. Têm pessoas que são ótimas escritoras, mas não conseguem seguir o modelo que eles querem. É preciso aprender o jeitinho”, analisa.

 

“Prova desumana para quem não está no sistema”

Mais uma vez não se vendo diferente dos demais, o rapaz – fã de filmes, livros e música – analisa sua nota a partir das oportunidades oferecidas. “Acho a prova desumana para pessoas que não estão dentro desse sistema. Muitas não aguentam terminar a prova. Acho que a questão não é estudar enlouquecidamente e sim ir fazendo testes, simulados, exercícios. Queria que as notas de redações aumentassem e torço para que as outras pessoas melhorem, não só de Juiz de Fora, como de outras cidades. Para isso, o modelo precisa ser mais acessível, e as pessoas terem conhecimento deste modelo”, sonha.

A assessoria de comunicação do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) informou que não repassa à imprensa nenhum tipo de informação a respeito das notas dos candidatos e nem em quais cidades os estudantes nota mil fizeram os exames. Se você conhece outro estudante que tenha tirado nota máxima na redação 2016, entre em contato com a Tribuna pelo e-mail [email protected] ou pelo telefone 32 3313-4440.

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