“Enche tudo de água”: Moradores do Democrata e do Mariano Procópio cobram soluções para córrego
Com a proximidade do período de chuvas, vizinhança fica apreensiva quanto à situação do Córrego São Pedro
No período de chuvas intensas, os moradores do entorno do Córrego São Pedro, especificamente no trecho próximo aos bairros Democrata e Mariano Procópio, já esperam apreensivos por alagamentos e enchentes. Assim como em outras regiões de Juiz de Fora, a situação do córrego é considerada um problema “histórico”. Pedidos de obras para equacionar a situação estão sempre em pauta na vida de quem enfrenta essa realidade.
A equipe de reportagem da Tribuna caminhou pelo entorno do córrego nestes bairros conversando com moradores e trabalhadores da região. Na conversa, muitos relatos semelhantes: recorrência do problema e falta de solução definitiva. Demandada, a Prefeitura de Juiz de Fora informou trabalhar, com várias frentes, para resolver o problema.
Solução do córrego é uma “espera” de anos, dizem moradores
Na Rua Benjamin Guimarães, caminhava Sueli dos Reis, de 69 anos, moradora do Bairro Democrata há 12. Ela conta que durante o período de chuvas o transbordamento do Córrego São Pedro e o alagamento das ruas do entorno são situações recorrentes vividas por sua família e por seus vizinhos. Também somam-se ao cenário o entupimento dos bueiros, que reduz a capacidade de escoamento. Como resume, “aqui enche tudo de água”.
A vizinha, Maristela do Vale, 75, passou mais da metade da sua vida na mesma casa localizada em uma rua próxima ao córrego. Antes uma casa térrea, a construção foi forçada a tornar-se um sobrado devido aos alagamentos que avançavam sobre a sua morada. “Todo ano sofremos com isso. Estamos esperando há tempos. Entra um, sai outro, muita gente promete, mas nada foi feito até agora. Precisamos de uma limpeza desse córrego de imediato, porque está imundo.”
Diante de acontecimentos já esperados por sua repetição, ela reclama sobre o aumento do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU). Neste ano, o valor, afirma, veio “dobrado”, o que considera uma cobrança injustificável. “A gente espera que deem um jeito, pelo menos ‘paliativo’, como eles falam. Vamos ter muita água, não sei o que vai ser de nós.”
Em galpões localizados em frente ao córrego, na Avenida Vereador Laudelino Schettino, comportas são instaladas nas entradas para barrar as enchentes. Num estabelecimento das proximidades, a assistente administrativa Angélica Costa, 29, contou que um dos alagamentos que atingiu o local fez com que materiais e equipamentos da empresa fossem danificados. “No ano passado, teve alagamento. Foi desesperador. Chegamos e vimos a empresa toda inundada. Entrou água na nossa sala, no banheiro e até na metade do galpão. No dia em que isso aconteceu, ficamos por conta da limpeza. A rua ficou imunda e barrenta.”
Já no Mariano Procópio, o atendente Carlos Roberto Inácio, 69, que há dez trabalha na mercearia Empório Castro, localizada na Rua Mariano Procópio, relatou que, durante as chuvas intensas, o estabelecimento costuma ser atingido e ter sua área de entrada alagada. “Não chega a atingir as mercadorias, mas entra um pouquinho no mercado. No ano passado, deu muita chuva”, relembra.
Busca por medida efetiva – e definitiva
“A situação do córrego é histórica, né? Tem alagamento sempre em período de chuvas”, diz Miriam Kiefer, 68, que mora no Bairro Mariano Procópio desde que nasceu. Ela considera, entretanto, que a situação se agravou desde que iniciaram o asfaltamento da Cidade Alta, além do crescimento populacional da região, pois todo o esgoto dos bairros mais altos passam pelo córrego. Como relata, quando o córrego e o Rio Paraibuna enchem e transbordam, a rua fica toda alagada, com a água avançando dentro das casas. Miriam também reclama da demora no escoamento.
“Aguardamos uma solução definitiva, sempre pedimos isso. Desejo muito que isso não aconteça mais. Porque é muito desagradável estar no Natal, com a mesa posta e toda a família reunida, quando, de repente, entra esgoto dentro de casa. Ficamos numa angústia. Quando começa a chover, sabemos quando começa, mas não sabemos quando acaba. A gente sempre espera uma tragédia”, conta Miriam.
Sobrados e comportas fazem parte da composição da Rua Senador Feliciano Pena, estratégias encontradas por moradores e trabalhadores para proteção contra as enchentes. “De duas a três vezes no ano entra água aqui. Vem do rio e do córrego, lá de cima também. Quando chega aqui tem o encontro das águas. Todo ano passamos por isso, dá muita sujeira também. Só que agora estamos mais espertas, tiramos as coisas antes”, diz Maria Aparecida Filho, 58, que trabalha há 18 anos na Assistência Social Nossa Senhora da Glória, com sede nesta rua.
A moradora de um sobrado, Sandra Rodrigues Farinelli, 64, conta que, infelizmente, sempre dá entrevistas aos jornais sobre as enchentes no bairro, porque enfrenta a situação há anos. “É uma calamidade. Já entrou água aqui e já perdemos móveis. Quando a minha mãe estava acamada, fomos para o hospital. Quando voltei, no outro dia, tinha entrado água em casa. Tivemos que jogar tudo fora”. O córrego passa atrás da sua casa, então a água costuma entrar tanto por trás, quanto pela rua, na parte da frente. Ela também se incomoda com o descarte irregular de resíduos no córrego. Engajada em ações comunitárias para minimizar a situação, Sandra espera uma medida efetiva – e definitiva – por parte do Poder Público.
Prefeitura afirma trabalhar para mudar a situação do córrego
De acordo com a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), a Cesama trabalha para combinar os projetos do sistema de esgoto com as obras de drenagem nas áreas do Mariano Procópio e Democrata. Também afirmou que os trabalhos de limpeza e de desassoreamento do córrego, de desobstrução da rede de drenagem e outros serviços são realizados rotineiramente mediante demanda popular. Estas ações auxiliam na resolução do problema histórico de enchentes e alagamentos nestes bairros, avalia o Município.
Já o Demlurb informou que realiza manutenção rotineira no entorno do Córrego São Pedro, com ações regulares nos bairros Democrata e Mariano Procópio. “Na Rua Benjamin Guimarães, no Democrata, já foram realizadas quatro intervenções ao longo deste ano, incluindo serviços de capina e limpeza. No caso da Rua Senador Feliciano Pena, no Mariano Procópio, o local conta com um varredor fixo, responsável pela limpeza diária e pela prevenção de acúmulo de folhas e resíduos nos bueiros.”
Segundo o órgão, a Cesama está construindo o coletor São Pedro, parte integrante do projeto de despoluição do Rio Paraibuna e córregos da cidade, que irá recolher o esgoto da Cidade Alta, incluindo os bairros São Pedro, Borboleta, Marilândia e outros da região, e levá-lo para tratamento na ETE União-Indústria. “A companhia vem realizando o reassentamento de tubulações e a instalação de novas estruturas perto do Morro do Cristo, que integram o coletor.”
Ainda conforme a PJF, Juiz de Fora captou, junto ao Governo federal, recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para a execução das obras de macrodrenagem e esgotamento sanitário nos bairros Mariano Procópio, Democrata e na bacia do Córrego São Pedro. “Estão previstos reservatórios de detenção de águas pluviais, visando a reservação das águas das chuvas, e melhorias na calha do córrego, nos bairros Democrata e Mariano Procópio, onde ocorrem os eventos mais críticos de inundações e alagamentos.” A informação é que, neste momento, são realizados os trâmites legais junto à Caixa para aprovação dos projetos e autorização para licitação para a realização das obras. “A população está sendo consultada durante todo o processo”, assegurou.