Professores do CES mapeiam produção agroecológica de JF
Estudo identificou produtores e quais alimentos são cultivados na região; objetivo é melhorar e fortalecer processo de distribuição
A ideia de fazer um levantamento sobre a produção agroecológica de alimentos em Juiz de Fora e região surgiu de um trabalho de conclusão de curso no qual a comida de feira, como caldo de cana e pastel, era o objeto de estudo. Um grupo de professores e alunos do Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora (CES/JF), do curso de Gastronomia, partiu de conversas com alguns produtores e consumidores que lidam com esse ambiente para entender melhor onde ocorrem os cultivos dos produtos utilizados. A demanda antiga de estudo, de acordo com o professor João Batista Villas Boas Simoncini, dá corpo a um ensaio, composto para destacar o plantio e a criação com a qual a equipe teve contato ao longo de seis meses de pesquisa.
A produção alimentícia que leva em consideração questões como sustentabilidade e aspectos culturais, sociais e éticos pressupõe uma série de relações que não se limitam aos produtos vendidos em barracas. O grupo de trabalho encontrou uma rede organizada e coesa de produtores, especialmente nas feiras do Monte de Gente Interessada em Cultivo Orgânico (Mogico). A pesquisa se concentrou na identificação dessas pessoas. “Todo mundo sabe que essa produção existe, mas, na maioria das vezes, as pessoas não sabem de onde ela vem, o porquê do preço e não relacionam isso a uma busca por uma alimentação mais saudável. Isso inclui uma série de ações, como incentivar os restaurantes e instituições a usarem produtos de base agroecológica ou de agricultura familiar”, explica João Batista.
Ele ressalta que muita gente não sabe que esses cultivos sustentam boa parte do que vai para a mesa dos juiz-foranos. “Ocorre uma variação, mas 80% da produção de mandioca, 70% do feijão e até mesmo uma parte significativa da produção de proteína animal, especialmente frango e porco, têm base em criação familiar na região.”
O produtor Waltencir Carlos da Silva, que trabalha com a Mogico e, hoje, produz cerca de 20 tipos de alimentos, como cenoura, beringela, cebolinha e alho-poró, entre outros, acredita que é preciso despertar um maior interesse da população para a temática. “Embora Juiz de Fora seja mais evoluída na comparação com outras cidades, ainda é muito restrita no consumo de orgânicos. Há uma resistência, seja pelo preço ou pela falta de conhecimento. Acredito que o acesso à informação a respeito de como é feito o alimento agroecológico ajudaria a melhorar o processo de distribuição do que nós plantamos”.
Para Waltencir, falta fazer com que as pessoas busquem o contato com os produtores, seja nas propriedades em que são produzidas como também no contato direto com quem trabalha. Essa troca de saberes, mais do que apenas o consumo, é o elemento que enriquece e contribui para o aprimoramento da produção. “Isso deve ser fortalecido por projetos e parcerias que incentivem a aproximação do agricultor com os clientes, nas feiras e até mesmo em visitas guiadas pelas propriedades. Precisamos de um laço maior entre quem produz e quem consome. Isso para nós é muito claro. Consumidores que visitam regularmente a Mogico criam essa aproximação e aumentam a confiabilidade no produto.”
Com o levantamento feito e o esclarecimento de quem são esses produtores, a próxima etapa é provocar as instituições, como outras escolas de Gastronomia e estabelecimentos que lidam com o preparo de alimentos, a incorporarem essa produção em suas rotinas. “Eu, enquanto professor de Gastronomia, não tinha nem ideia de algumas dessas iniciativas. Por isso, é importante ter a consciência de que temos essa variedade enorme de opções e incentivar a busca por produtos agroecológicos”, ressalta João Batista. Uma das formas que o professor pensa em adotar é propondo a plantação de uma horta dentro do CES, que comece com especiarias e vá se ampliando, para mostrar que para muito além da criação, interessa a socialização que esse contato permite. “A ideia é conseguir abastecer as cozinhas do próprio curso, fazendo o papel de trocar saberes, o ponto mais importante. Isso vai permitir um contato com outras hortas já existentes, a organização de seminários e o fortalecimento da rede.” O professor João Batista afirma ainda que há muitas descobertas a fazer.
Experiências em destaque
Há uma série de produtos que ainda não são conhecidos da população, embora estejam bem perto de nós. Esse fato não diz respeito apenas a frutas, legumes e verduras, mas também a alimentos processados ou artesanais. O trabalho de iniciação científica realizado com recursos do Centro de Extensão do CES por meio do Curso de Gastronomia destacou algumas iniciativas.
Entre elas, há o feijão multicolor da Fazenda Serra Boa Vista, cultivado por Paulo Bittar em Manejo, que conta com 11 variedades do grão plantadas juntas, pensando na biodiversidade e em uma melhor produtividade, além do resgate de espécies que estavam se perdendo. Outra experiência catalogada pelo trabalho é a do uso de técnicas para o cultivo de hortaliças como defensívos agrícolas orgâncios e homeopáticos e remédios fitoterápicos na produção animal, no Sítio da Laje, localizado em Torreões, por Luciene Guimarães.