Alvo de furtos e depredações, vagão ‘Trem de Prata’ está abandonado há cinco anos

Antiga litorina automotriz já sediou Museu do Rádio e escritório da ONG Amigos do Trem


Por Gabriel Magacho, estagiário sob supervisão da editora Rafaela Carvalho

14/10/2022 às 08h29

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A situação de abandono em que se encontra a litorina automotriz, tem feito com que o vagão, considerado um bem histórico, seja alvo de constantes furtos e depredações nas últimas semanas (Foto: Felipe Couri)

Já se passaram quase 25 anos desde a última viagem do famoso “Trem de Prata”, que era conhecido por interligar as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. Desde então, as litorinas automotrizes, que eram de propriedade da extinta Rede Ferroviária Federal (RRFSA), pararam de operar definitivamente e tiveram sua propriedade transferida para o Departamento Nacional de Infraestrutura (Dnit), com o processo de privatização da rede. Uma delas foi deslocada para a Estação Ferroviária Mariano Procópio, localizada no bairro homônimo, na Zona Nordeste de Juiz de Fora, onde permanece há pelo menos cinco anos. A situação de abandono em que se encontra a litorina automotriz, entretanto, tem feito com que o vagão, considerado um bem histórico, seja alvo de constantes furtos e depredações nas últimas semanas.

Na última terça-feira (11), a Polícia Militar (PM) apreendeu um homem que teria furtado duas peças de cobre do veículo. Em depoimento aos militares, o indivíduo teria relatado que morava dentro do vagão há cerca de seis meses, e que teria realizado o furto para revender as partes metálicas em um ferro velho da cidade, com o intuito de conseguir dinheiro para se alimentar.

Na ocasião, a MRS, atual concessionária da malha ferroviária de Juiz de Fora, afirmou à Tribuna que o trecho onde hoje se encontra o vagão pertence à União, sob concessão da empresa, que mantém uma equipe de segurança ferroviária que realiza rondas constantes e conduz abordagens com o intuito de resguardar a área e apreender infratores, quando necessário. Entretanto, informou que o vagão não pertence à empresa.

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Fotos: Felipe Couri

Imbróglio

Apesar de o vagão estar estacionado em uma região central, próximo ao Museu Mariano Procópio, as cenas de furto e depredação da litorina automotriz têm se tornado uma constante. Pelo menos dois vídeos supostamente gravados nas últimas semanas mostram a ação de suspeitos. Nesta quinta-feira (13), a Tribuna esteve no local e constatou que há muitos vidros quebrados, pichações e depredações na litorina automotriz.

Mas anos antes do atual abandono e da falta de perspectiva, a litorina já teve papel de destaque no cenário cultural da cidade. Até o ano de 2006, ela abrigava o “Museu do Rádio”, idealizado pelo falecido colecionador e comerciante de antiquários Geraldo Corrêa Rodrigues. Com a transferência do acervo para a Rua Espírito Santo, no Centro, a ONG Amigos do Trem assumiu a gestão do bem na época.

De acordo com a integrante da organização, Cyntia Nascimento, a litorina passou a ser o escritório da ONG, que era liderada pelo falecido fundador e idealizador do trem “Rio-Minas”, Paulo Henrique Nascimento. “Nós realizávamos as reuniões e encontros semanais no interior da automotriz, que era cuidada carinhosamente por todos os membros. Quando o Dnit nos cedeu a locomotiva, toda a manutenção, segurança e limpeza eram seguidos a risca, além da preservação do patrimônio em si”, rememora. Porém, no ano de 2017, a ONG realizou o pedido de devolução junto ao órgão público, sob a justificativa de que a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), por meio da Funalfa, estaria interessada em assumir o patrimônio.

Documentos obtidos pela Tribuna confirmam as tratativas da transferência do bem federal para o município. Em ofício expedido no dia 21 de janeiro de 2021, a Coordenação Geral de Patrimônio do Dnit indagou à PJF se havia interesse na continuidade do processo de transferência da litorina para o município, tendo em vista que, em gestões anteriores, as negociações teriam sido descontinuadas.

Em setembro do mesmo ano, a Câmara Municipal também questionou a Prefeitura sobre o abandono da locomotiva por meio de um pedido de informação. Em resposta ao requerimento, a diretora-geral da Funalfa, Giane Elisa Almeida, declarou, na época que a fundação tem interesse na doação do bem, mas que, por questões econômicas, não seria possível realizar a transferência de propriedade.

Procurada pela reportagem, a Funalfa alegou, por meio de sua assessoria de imprensa, que a locomotiva não pertence à fundação e que não existem novidades no processo de adoção do bem. O Dnit também foi questionado sobre o abandono da litorina e sobre a continuidade do processo da doação, mas não se pronunciou até o momento do fechamento desta matéria. Já a MRS reforçou que realiza a segurança do trecho e destacou que toda a população pode denunciar situações de risco no local por meio do telefone 0800-979-3636. Em casos de furto, a Polícia Militar deve ser acionada.

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