Aumento de casos de varíola dos macacos gera ataques contra animais

Polícia Militar de Meio Ambiente registrou, na semana passada, envenenamento de saguis; especialista explica que macacos não transmitem a doença


Por Nayara Zanetti, estagiária sob supervisão da editora Fabíola Costa

14/08/2022 às 07h00

Após o aumento de casos de varíola dos macacos (monkeypox) no país, as ocorrências de ataques contra macacos também começam a aparecer. Na semana passada, o Pelotão de Polícia Militar de Meio Ambiente recebeu denúncia anônima de um idoso, de 75 anos, que estaria envenenando bananas para matar saguis, no Bairro São Benedito, Zona Leste da cidade. Além de a ação ser considerada crime ambiental (artigo 32 da Lei dos Crimes Ambientais 9.605/98), especialista alerta que esses animais não são responsáveis por transmitir a doença, que tem contágio de humano para humano.

O tenente Júlio César Almeida, comandante do Pelotão de Polícia Militar de Meio Ambiente, informou que dois saguis foram encontrados mortos e outros dois foram encaminhados ao veterinário em estado crítico de saúde. Na residência do suspeito, foi identificado resto de substância semelhante a veneno, encaminhada à perícia.
O tenente destaca que, até o momento, não houve aumento de ocorrências envolvendo esses animais, mas a denúncia na região do São Benedito chama a atenção para esta possibilidade.

sagui envenenado reproducao redes sociais
Sagui foi encontrado cambaleando após ingerir banana com veneno (Foto: Reprodução/Redes sociais)

Tendo em vista o cenário nacional de aumento desses ataques, a ocorrência no município pode ter relação com a desinformação e o medo da população de contrair a varíola dos macacos. O professor de Biologia da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Fabiano Rodrigues de Melo, explica que a doença surgiu em 1958. O vírus foi descoberto em macacos de cativeiro, mas pessoas também estavam transmitindo a doença na época. Atualmente, a transmissão ocorre apenas pelo contato entre humanos. “Inicialmente, o processo de transmissão ficou muito restrito e, agora, quando se passaram décadas, essa doença começou a ficar mais comum. O vírus é transmitido entre pessoas mesmo, principalmente por contato físico ou por sangue, saliva e sêmen.”

Fabiano estuda o campo da primatologia e analisa que o nome dado à doença tem relação com esses ataques. “Como o nome ficou varíola dos macacos, as pessoas começaram a achar que eram os bichos que estavam transmitindo para a gente, o que não é verdade. Os macacos podem ser até vítimas, como eles são da febre amarela. É um problema sério para a nossa fauna, porque também pode haver impacto sobre a população de primatas, no sentido de que podemos perder indivíduos, como temos tido problemas com a espécie humana. Felizmente estamos tendo controle, mas a população está se contaminando de uma maneira bem mais rápida do que esperávamos”, observa o biólogo.

OMS condena ataques a macacos

Na última terça-feira (9), a Organização Mundial da Saúde se posicionou contra ataques a primatas que aumentaram no Brasil. A instituição reforçou que o crescimento dos casos da doença não tem relação com os animais, reforçando que estes não transmitem a varíola, já que o contágio acontece exclusivamente via transmissão de humano para humano.

A porta-voz da OMS, Margaret Harris, disse que julgamentos referentes à doença, tanto envolvendo animais, quanto pessoas, não podem ser feitos, já que compromete o tratamento. “Se as pessoas tiverem medo de se identificar como infectadas, elas não irão se cuidar, não irão tomar precaução e nós veremos uma transmissão maior.”

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