Juiz de Fora registra aumento de cerca de 17% na cobertura da vacinação infantil
Em novembro, a cidade promove a Campanha de Multivacinação nas UBS com objetivo de atualizar o cartão vacinal de crianças e adolescentes; especialista alerta sobre importância da vacinação na infância
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) mostram que a imunização infantil tem avançado no país. Neste ano, o Brasil saiu da lista dos 20 países com mais crianças não imunizadas no mundo. O aumento das taxas de cobertura vacinal de crianças também é refletido no cenário municipal. De acordo com levantamento feito pela Tribuna, com base nos dados disponibilizados pela Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) até o momento, Juiz de Fora registrou um aumento de cerca de 17% na cobertura da vacinação infantil em relação ao ano passado.
Conforme os dados da Prefeitura, divulgados na tabela abaixo, a vacina BCG, que previne contra as formas graves da tuberculose; e da hepatite B, que é a segunda maior causa de morte entre as hepatites virais, tiveram um aumento significativo. Em 2023, a cobertura da BCG atingiu 73,29% do público-alvo, enquanto em 2024 esse número saltou para 92,35%. Já a hepatite B foi de 72,21% para 92,86%. Outro imunizante que chamou atenção foi a vacina tríplice viral, que previne o sarampo, a caxumba e a rubéola, e subiu de 63,75% para 88,57%.
Para a pediatra e professora da Universidade Federal de Juiz de Fora (PJF) Sandra Tibiriçá, o número de aplicação de algumas vacinas teve um resultado muito positivo na cidade, como a BCG e a da hepatite B, cuja cobertura vacinal aumentou de forma consistente no último ano. “Vale lembrar que ambas são vacinas disponíveis para os recém-nascidos e realizadas já na maternidade após o nascimento por uma equipe técnica habilitada para tal. Este trabalho, que é uma iniciativa importante da Secretaria Municipal de Saúde de Juiz de Fora há décadas, faz uma enorme diferença nesta cobertura alta, e deve ser reconhecido e incentivado.”
Em relação a outras vacinas disponíveis em UBSs, a médica também avalia um crescimento nos últimos 11 meses, porém destaca que ainda estão distantes das taxas desejáveis, que deveriam superar os 95% para doenças altamente contagiosas, como, por exemplo, o sarampo e a poliomielite. A taxa da maioria varia entre 63% e 77%.
“Precisamos lembrar que muitas destas doenças encontram-se recrudescentes (que readquire intensidade) em todo o mundo, como é o caso do sarampo, que é uma doença grave e altamente transmissível, e da coqueluche, da qual tivemos um aumento significativo em Minas Gerais no último inverno”, alerta a pesquisadora.
A respeito da taxa de cobertura do imunizante contra o HPV, a Secretaria de Saúde da PJF informou não ser possível calcular esse percentual. Os dados brutos apontam que 7.208 pessoas, na faixa etária de 9 a 14 anos, receberam a vacina em 2023, enquanto neste ano 4654 crianças e adolescentes desse grupo tomaram o imunizante. A pediatra reforça a importância de vacinar o poúblico-alovo, por ser a única disponível contra o câncer e não receber a atenção necessária.
‘É difícil entender porque nossas coberturas vacinais são baixas’
Como explica Sandra Tibiriçá, a crescente mobilidade global possibilita que as transmissoras de doenças aconteçam de forma rápida e súbita, como vimos durante a pandemia de Covid-19 e como vemos ocorrer anualmente com os vírus respiratórios, especialmente o da influenza. Além disso, a médica reforça que os vírus e bactérias estão em constante evolução, o que alerta para a necessidade de se proteger através da vacinação. A pesquisadora diz que, apesar de todas essas evidências, a baixa cobertura vacinal no Brasil ainda é uma questão.
“Sabendo disso e com tanto conhecimento médico imunológico acumulado e validado em tantos anos, é difícil entender porque nossas coberturas vacinais são tão baixas, já que se trata de um sistema de prevenção comprovadamente eficaz e distribuído gratuitamente pelo maior programa de vacinação em massa do mundo, o PNI (Programa Nacional de Imunização)”, ressalta Sandra.
Para ela, a responsabilidade pela garantia de direito à vacinação das crianças e pelo aumento da cobertura vacinal no município é compartilhada: “pais, cuidadores, professores, profissionais da saúde, mídias e governos, ninguém escapa dessa responsabilidade. Uma vez que a criança é vulnerável e incapaz de tomar decisões desta natureza, deve e merece ser protegida pela sociedade.”
“Não podemos culpar somente as fake news, que além de causarem desserviços à sociedade condenam o nosso sistema público e privado de saúde a pagar esta conta que é biológica, financeira e moral. Todos nós, empresas, escolas, instituições de ensino e comunicação, em massa, precisamos estudar as evidências científicas, nos posicionar, e defender nossas crianças desta tristeza e vergonha, que são nossas baixas taxas de cobertura vacinal”, finaliza.
Como saber quais vacinas tomar
Desde 2023, todos os dados vacinais foram redirecionados para a Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS), com as doses aplicadas atreladas a um número de Cadastro de Pessoa Física (CPF) ou Cartão Nacional de Saúde (CNS). A novidade permitiu que a caderneta digital de vacinação se tornasse uma realidade. A partir da completa migração entre os sistemas, cada cidadão poderá consultar a própria situação vacinal online, por meio do Meu SUS Digital, como já acontece com as doses de vacinas contra a Covid-19.