ETE União-Indústria ainda não está em operação
Quinze meses após ser inaugurada, estrutura não recebe efluentes. Cesama afirma que problemas durante a fase de testes impediram que o cronograma fosse cumprido
Quinze meses após ser inaugurada, a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) União-Indústria, no Bairro Granjas Bethel, Zona Sudeste, ainda não entrou em funcionamento. A situação é causada por uma série de problemas durante a fase de testes operacionais na unidade, que tem o ambicioso objetivo de elevar de 10% para 75% o volume de esgoto tratado no município, atualmente despejado ininterruptamente no Rio Paraibuna. No dia Mundial da Água de 2018, em 22 de março, a meta divulgada pela Cesama era de que, até o fim daquele ano, o município estivesse interceptando para a estação até 40% do efluente gerado na cidade, índice que se somaria aos atuais 10% tratados nas ETEs dos bairros Barreira do Triunfo e Barbosa Lage, ambas na Zona Norte. Entretanto, isso não foi possível e agora a meta é começar a receber esgoto na ETE em agosto próximo.
De acordo com a companhia de abastecimento, entre os percalços que surgiram no período de testes operacionais, dois envolveram imbróglios com outros órgãos: a Cemig e o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Em abril de 2018, mês seguinte à inauguração, a Cesama não conseguiu disponibilidade de energia elétrica na subestação que atende a região da estação elevatória da Vila Ideal, responsável por receber o esgoto da região e bombeá-lo sob pressão até a ETE. Por este motivo, conforme a companhia, foi preciso ingressar com um processo de liberação de capacidade de energia, centralizado no município de Sete Lagoas. Os testes neste período, que durou até agosto, foram feitos através de geradores.
Após esta etapa ser vencida, problemas foram identificados na rede em recalque entre a Vila Ideal e a ETE, que diz respeito ao trecho de tubulação de ferro fundido que recebe os resíduos bombeados pela estação elevatória e os encaminha até a unidade de tratamento no Granjas Bethel. Em agosto, ao iniciar o processo de bombeamento para avaliar a linha de recalque, a Cesama detectou uma falha de fabricação em um dos tubos, localizado na travessia sobre o Rio Paraibuna, atrás do Abrigo Santa Helena. Por isso, foi preciso solicitar a troca da tubulação da travessia à construtora responsável pelas intervenções. Por conta da necessidade em encomendar nova tubulação e peças, material que deveria ser fabricado, o cronograma foi atrasado em mais dois meses.
Vazamentos na rede
Após a retomada dos testes de pressurização da linha de recalque em novembro, utilizando água bruta, foram identificados possíveis vazamentos ao longo dos 3.380 metros da rede construída às margens do Rio Paraibuna. Esta tubulação, de acordo com a Cesama, é formada por mais de 480 pontos de junção que precisaram ser verificados. Entretanto, o período chuvoso na cidade, em novembro e dezembro, dificultou o acesso a estes locais, uma vez que o solo encontrava-se encharcado. Mesmo assim, as atividades foram dando prosseguimento, mesmo que de forma lenta.
Porém, um dos pontos identificados que precisava de abertura para verificação é o do trecho que cruza a rodovia BR-267, sob responsabilidade do DNIT, que precisou analisar um projeto de intervenção da Cesama antes de autorizar o serviço, o que só ocorreu no dia 20 de maio.
As obras, iniciadas na segunda-feira da semana passada, devem ser concluídas até o fim deste mês. Apesar disso, a Cesama conseguiu avançar com os testes na tubulação que chega à ETE, feitos integralmente com água bruta, e não esgoto.
Operação em agosto
Em seguida, ao longo do mês de julho, a previsão é que sejam finalizados os testes eletromecânicos do gradeamento preliminar, com regularidade de bombeamento da água bruta e preenchimento de um dos oito reatores (tanques de armazenamento de esgoto) que compõem a ETE. “A partir deste momento, as redes da Vila Ideal poderão ser direcionadas ao interceptor de esgoto e, por consequência, à elevatória da Vila Ideal. O primeiro esgoto bruto, oriundo deste bairro, tem previsão de começar a chegar de forma constante no reator da ETE em agosto deste ano”, informou a Cesama em nota.
Fase de testes é essencial, avalia Cesama
O projeto de despoluição do Rio Paraibuna tem custo total estimado em R$ 130 milhões. E de acordo com a Cesama, os atrasos no início da operação da ETE não impactaram o orçamento, segundo o diretor de Desenvolvimento e Expansão da Cesama, Marcelo Amaral. “Essas correções que aconteceram ao longo do ano foram todas realizadas pela empresa executora, então não custa para a Cesama nem para o Município. Por isso, financeiramente, o máximo que acontece é um atraso de desembolso.”
Apesar de o cronograma inicial não ter sido cumprido, Marcelo afirma que o período de testes não pode ser descartado. “Nós não abrimos mão de nenhum dos testes. E toda vez que houve um problema, foi interrompida a operação para a empresa fazer a correção necessária, seguindo sempre o protocolo. A empresa poderia, por contrato, tentar colocar esgoto de imediato, mas nós sabemos que fazer reparo em uma rede com esgoto é muito mais complicado. Nossa opção foi lançar água bruta, primeiramente, para poder fazer testes de estanqueidade e avaliar eventuais vazamentos. Desta forma, na hora que a gente começar a operar com o esgoto teremos a certeza de que está tudo correto, que não tem vazamento nenhum e não há chances de acontecer nenhum problema.”
Processo gradativo
A ETE União-Indústria foi projetada para receber o esgoto gerado em Juiz de Fora desde o Bairro Santa Terezinha, na Zona Nordeste, até a Vila Ideal, na região Sudeste. Entretanto, esse processo sequencial e gradativo, porque é necessário fazer a separação, nas ruas da cidade, do esgoto da rede de captação pluvial. A princípio, a unidade irá receber os resíduos oriundos da Vila Ideal, onde os trabalhos de separação estão mais avançados.
Conforme a Cesama explicou, dois tipos de redes estão sendo construídos na cidade para impedir que o esgoto caia sobre o Rio Paraibuna. A primeira, instalada ao longo dos córregos de contribuição do rio, é chamada de coletora. Já às margens da Avenida Brasil é feita a rede interceptora, que é o ponto final da rede coletora, e que está 85% pronta.
Estações elevatórias
O conjunto de obras envolvendo o projeto de despoluição do Rio Paraibuna envolve, ainda, a construção de cinco estações elevatórias. Elas auxiliam no bombeamento dos resíduos em regiões de maior profundidade. Isto porque o esgoto percorre as tubulações por gravidade, desta forma, o caminho deve sempre estar inclinado, como uma descida. Entretanto, a tubulação fica cada vez mais abaixo do nível da rua e, ao atingir determinado nível, faz-se necessária uma nova estação elevatória, para que os resíduos retomem o nível necessário para continuarem descendo por gravidade.
De acordo com a Cesama, duas unidades já estão concluídas: uma nas proximidades do Viaduto Augusto Franco, no Centro, e outra na Vila Ideal. Essas são as de maior porte, responsáveis pela condução do esgoto da região central, em sua quase totalidade. Ainda estão previstas elevatórias nos bairros Bairu, Mariano Procópio e a Vitorino Braga.
Esgoto é tratado em processo anaeróbico
Juiz de Fora produz, aproximadamente, 1.200 litros por segundo de esgoto. E desse total, apenas 10% desse valor é tratado, por meio das ETEs dos bairros Barreira do Triunfo e Barbosa Lage, ambos na Zona Norte. Quando atingir a operação integral, a ETE União-Indústria pode receber até 850 litros por segundo de resíduos, o que representa 65% do esgoto gerado no município.
Entretanto, o trabalho da unidade será dividido em duas etapas. A ETE é composta por oito reatores, sendo que quatro deles atuará em cada fase. Cada equipamento conta com capacidade para receber mais de 100 litros por segundo de esgoto, sendo o início da operação sequenciada. “O processo de tratamento de esgoto é como se fosse uma maturação. Então nós colocamos vazão no primeiro reator, e quando as análises indicarem que ele satura, você começa a encher o segundo, depois o terceiro, o quarto e assim por diante.”
Os reatores são tanques para tratamento de esgoto por meio de um processo anaeróbico. Funciona assim: as bactérias consomem o material orgânico presente na água poluída, formando um lodo no fundo dos tanques. Este material é levado a uma centrífuga, para perder o líquido e resultar em um material seco, que é, posteriormente, transportado para um aterro controlado. A água clarificada, que sobra do processo, atende às exigências ambientais para que possa ser devolvida ao rio, sem cheiro e sem cor.
De acordo com Marcelo, a atuação sequencial dos reatores acelera o processo. “O início da operação cria a primeira colônia de bactérias anaeróbicas, então, é preferível fazer em um ambiente menor para que essa maturação seja mais rápida. Se fôssemos encher todos os reatores de uma vez, essa maturação demoraria muito mais tempo para que o efluente ficasse tratado.”