Banda Daki leva irreverĂȘncia e bom humor Ă Avenida Rio Branco
Com saĂda no Largo do Riachuelo, foliĂ”es prestigiam o bloco mais tradicional de Juiz de Fora, patrimĂŽnio cultural desde 2002
Pela primeira vez, o Largo do Riachuelo, no Centro de Juiz de Fora, foi marcado como ponto de concentração da Banda Daki. Antes, o encontro sempre foi no Largo do SĂŁo Roque, na Avenida dos Andradas. O motivo da troca de lugar foi explicado por Marcelo Barra durante a entrega da chave pelo prefeito Bruno Siqueira (PMDB) Ă Corte Real. “Tem uma ĂĄrea muito grande aqui, nĂłs fechamos o trĂąnsito mais tarde e nĂŁo houve impedimento nenhum. No Vianna JĂșnior, nĂłs tĂnhamos problema com trĂąnsito. Eu acho que Ă© o local ideal e uma experiĂȘncia que pode dar certo”, disse Marcelo, que assumiu a organização desta edição da Banda Daki.
Ăs 11h, os foliĂ”es começaram a aglomerar-se no bloco mais tradicional de Juiz de Fora, patrimĂŽnio cultural desde 2002. Para os personagens marcantes, que hĂĄ dĂ©cadas frequentam a Banda Daki, hĂĄ um sentimento inerente de saudade do que jĂĄ presenciaram no passado, mas nostalgia Ă© a maior prova de que o tempo transforma e tudo se recria. “Esse Ă© o sucesso. A Banda Daki estĂĄ aĂ em seu 46Âș aniversĂĄrio e espero que, no ano que vem, seja ainda muito melhor. Cada ano que passa a Banda fica mais bonita”, diz ZĂ© Kodak, quando sobe no trio elĂ©trico, enquanto acena para fotos e lança serpentinas no ar.
A Banda Daki, com vocal, teclado, baterista, baixista, guitarrista, percussionistas e os vĂĄrios trompetistas começou por volta das 13h30 em cima do trio elĂ©trico. As marchinhas sĂŁo de um repertĂłrio irretocĂĄvel desde o surgimento. Ă carnaval de “Bandeira branca”, “AtĂ© quarta feira”, “Tristeza pĂ© no chĂŁo”, “Turma do funil” e “MamĂŁe eu quero”, quase uma saudação ao inĂcio da maior festa brasileira, resgatando os anos 1950, 1960 e 1970.
A banda foi puxada por mais um trio cheio de foliĂ”es, seguido de uma kombi com as figuras oficiais do bloco: Mr. Bean; a drag de nacionalidade argentina, Isabelita dos Patins; e o Palhaço Trombetinha. Segundo as irmĂŁs Liliane e Elaine Gonzagas, mosqueteiras inspiradas na novela “Deus salve o rei”, neste ano, ZĂ© Kodak passa de “general” da Banda, para “marechal”. Ele desfilou em um pequeno carro alegĂłrico, junto Ă musa Elizabeth Ank, vestindo a camisa 2018 e um chapĂ©u de seu cargo carnavalesco dourado brilhante.
De acordo com um dos organizadores da banda, a estimativa era de que cerca de quatro mil pessoas estavam no bloco quando passava em frente ao Santa Cruz Shopping.
Fantasias ilusionistas dois em um
Melk Lessa, 61 anos, e Cor Jesus Miranda, 64, chamaram a atenção em meio Ă Banda Daki. Eram dois foliĂ”es que pareciam quatro. Junto ao Melk, atĂ© de perto ficava a dĂșvida se era uma pessoa ou um boneco fantasiado. Ele se vestia de um monstro carregando um homem esquartejado. “A fantasia eu fiz buscando referĂȘncias na internet. Eu quis vir com essa para chamar a atenção e sair do lugar comum. Tem muita fantasia parecida”, diz Melk, que frequenta o bloco hĂĄ mais de 30 anos. “A violĂȘncia diminuiu, mas o pessoal tambĂ©m. Mas quanto mais vazios e sem violĂȘncia, tĂĄ valendo”, completa.
Cor Jesus Ă© foliĂŁo que jĂĄ passou muitos carnavais em Recife. Ele se fantasiou de “o morto carregando o vivo”. “Essa ideia eu tirei de uma vez que eu brinquei em Olinda. Morei em Recife muitos anos, e essa (fantasia) quando eu vi, gostei muito e repliquei em Juiz de Fora. Carnaval de rua Ă© muito 10, Ă© descontraĂdo, e estĂŁo todos extravasando alegria e esquecendo os problemas do dia-a-dia”.
AmĂ©rico Teixeira, com seus 80 anos, estava sendo fotografado por todos. Carregado de uma arma de fogo de papel, imitando uma espingarda (soltando papĂ©is coloridos), ele vinha junto de um mico leĂŁo dourado, com um cartaz escrito: “Socorro os burros estĂŁo matando a minha famĂlia”, fazendo referĂȘncia Ă epidemia de febre amarela e em defesa da vida dos macacos.
Anualmente, renovando seus votos, o famoso casal de super heroĂna e super herĂłi da Banda Daki, Adriene Orsay, 45, e Alexandre Menigatti, 47, elegem o carnaval como momento para comemorarem juntos a relação que começou hĂĄ 15 anos. “Somos super-herĂłis de nĂłs mesmos. Eu, hĂĄ trĂȘs anos, tive um cĂąncer e, seis meses depois, jĂĄ estava ganhando a minha primeira corrida. Ele, hĂĄ quatro meses, fraturou o cotovelo, ficou internado, e logo estava no Xterra mountain bike. Queremos passar essa mensagem de sermos herĂłis todos os dias”, disse o casal de Mulher Gato e Batman.
ReferĂȘncias Ă negritude brasileira
O momento da chegada da realeza do carnaval foi como se os foliĂ”es fossem abrindo o caminho no Largo da Riachuelo para que pudessem andar e cumprimentar o povo. Muito brilho na indumentĂĄria dos trĂȘs, principalmente da Rainha do Carnaval, Gracyele Rocha, 29. A princesa Deysi Alves, 26, explica a representatividade negra que os trĂȘs querem passar com seus trajes assinados pelo ImpĂ©rio Atelier, sob responsabilidade de Marcelo Portela. “O estilista conseguiu juntar nossos pedidos de fazermos uma homenagem. Somos negros, descendentes diretos de africanos e pensamos no tema afro. Queremos resgatar nossas ancestralidades, por isso, os dentes de marfim e outras referĂȘncias remetendo Ă nossa negritude”.
Segundo informaçÔes do Centro de OperaçÔes da PolĂcia Militar (Copom), o desfile do Banda Daki terminou por volta das 16h, na altura da Rua EspĂrito Santo, sem registros de ocorrĂȘncias, tendo transcorrido dentro da normalidade.