Projeto da UFJF realiza oficinas de plano de parto para tranquilizar gestantes
Iniciativa tem como objetivo democratizar o acesso à informação sobre o momento do nascimento, conscientizando sobre a anatomia da mulher e respeitando seus desejos
O momento do parto é único para as mulheres, repleto de sensações e emoções. Porém, em meio a uma explosão de sentimentos, o medo, a preocupação e o desconhecimento podem estar presentes. Com o objetivo de contribuir para que esse momento seja positivo e conduzido da forma como a mãe gostaria, 14 alunos e duas professoras dos cursos de medicina, enfermagem, fisioterapia, nutrição e psicologia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) participam do projeto de extensão “A Construção do Plano de Parto como Ferramenta de Promoção da Saúde Materno-Infantil”.
A iniciativa busca proporcionar autonomia à gestante para que ela construa o seu plano de parto, documento legal que contém os anseios pessoais, medos, os tratamentos que a mulher gostaria de recusar, como ela gostaria que seu parto fosse conduzido e quais cuidados ela quer receber no momento e no pós-parto. O projeto, também conhecido como Oficina Plano de Parto, também visa a democratizar o acesso à informação sobre o parto, para que as gestantes saibam de seus direitos, conheçam a sua anatomia, a fisiologia do parto e desconstruam mitos que provocam ansiedade e medo.
A pós-graduada em enfermagem obstétrica pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Odete Pregal Monteiro Cândido, é idealizadora do projeto e uma das coordenadoras. Ela conta que ele teve início em 2019, pouco antes da pandemia de Covid-19, por meio do seu desejo de levar informação de qualidade às gestantes, pois ela conhecia o contexto e as experiências de diversas mulheres por ter trabalhado com planos de parto por muitos anos em Belo Horizonte.
Odete entrou em contato com Larissa Milani Coutinho, especialista em reprodução assistida pela Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e professora de Ginecologia e Obstetrícia na Faculdade de Medicina da UFJF, para realizarem a oficina com as gestantes do Hospital Universitário da UFJF (HU-CAS), levando mais conhecimento através do plano de parto. A proposta inicial era realizar uma oficina presencial, com rodas de conversa e montagem dos planos, mas, por conta das restrições da pandemia, os encontros foram realizados por meio da internet no primeiro ano.
Atualmente, o projeto atua apenas com as gestantes do HU-CAS, com acompanhamento pré-natal e pós-natal, mas a ideia é expandir o projeto para outros hospitais. “Nosso objetivo é promover encontros, rodas de conversa, discussões sobre temas relevantes do pré-natal e do parto, para que as pacientes tenham autonomia para desenvolver a ferramenta do plano de parto”, conta Larissa.
Juliana Lopes de Oliveira Reis, acadêmica de Medicina da UFJF e integrante do projeto de extensão, destaca a importância do projeto na vida das gestantes: “O projeto de extensão traz a experiência de levar à comunidade o cuidado com o momento único na vida da mulher, que é a gestação e o parto em si. Nós, ao colocarmos em prática os pilares da oficina de plano de parto, conseguimos estabelecer uma relação de segurança, tranquilidade e, principalmente, de confiança entre a paciente e o profissional de saúde.”
Conhecimento torna o parto mais tranquilo e desconstrói ‘medo de parir’
Conforme a idealizadora do projeto, Odete Pregal Monteiro Cândido, a oficina também busca desconstruir a ideia de que o parto é sempre extremamente doloroso e que será um trauma para a vida. “As gestantes do SUS e da rede privada têm em mente que o parto é como se fosse uma ‘bomba atômica’. Elas possuem muito medo, desconhecem o seu corpo e a fisiologia do que acontece durante o período de parto e na gestação em geral”. O que Odete chama de “medo de parir” é adquirido, de acordo com ela, por meio de depoimentos de familiares e amigas, formando no imaginário da futura mãe que a situação seria muito difícil e repleta de sofrimento.
Odete explica que quando há medo ou ansiedade extrema, existe a liberação do hormônio adrenalina, que possui o mesmo mediador químico da ocitocina, o hormônio responsável pelo início do trabalho de parto e pelas contrações. Se a adrenalina estiver com altas taxas no sangue, a ocitocina estará com taxas baixas, pois a adrenalina causa o impedimento da liberação da ocitocina, tornando o trabalho de parto mais difícil. “Muitas vezes, a mulher pode não entrar em trabalho de parto porque está extremamente ansiosa. Se ela entrar em trabalho de parto e estiver com medo, ele ocorrerá de forma mais demorada, já que há muito mais adrenalina do que ocitocina circulante.”
Porém, o fato de a parturiente saber o que está acontecendo no parto, conhecer os seus direitos e ter feito um plano de parto, explicando as suas vontades e recusas, pode tornar o parto mais tranquilo, já que a musculatura do corpo da mulher fica mais relaxada, e os hormônios que induzem o parto são secretados em maior quantidade.
Por outro lado, ter feito o plano de parto não garante que não haverá dificuldades no nascimento do bebê, já que diversos fatores podem atuar neste momento. Mas, segundo a pós-graduada em enfermagem, em torno de 75% e 80% das gestações cujo plano de parto é realizado terminam sem necessitar de intervenção obstétrica, ocorrendo da forma natural e esperada.
As mulheres interessadas em participar do projeto podem encontrar mais informações sobre o assunto e acompanhar as atualizações do projeto pelo perfil @oficina.planodeparto no Instagram. A equipe posta conteúdos voltados às gestantes, como dicas, explicações, divulgação de grupos no WhatsApp, entre outros.